quinta-feira, 24 de março de 2011

Aquela que eu amo é... Capitulo 10


Aquela Que Eu Amo É... 
Capítulo 10 - Nunca se Esqueça 
por Alain Gravel rakna@globetrotter.qc.ca 
Traduzido por Souryu-san souryu@fanfictionbr.cjb.net 
Revisado por Ayanami-san ayanami@fanfictionbr.cjb.net 
Baseado nos personagens criados e de propriedade de GAINAX 
http://www.geocities.com/Tokyo/Teahouse/2236/ 
(*) Veja nota de tradução para detalhes 
======================================================================= 
Capítulo 10 - Nunca se Esqueça 
No topo de um dos prédios de Tokyo-3, a jovem olhou para a cidade que se abria diante dela como o sol subindo depois de seu sono. O vento estava forte e gelado, fazendo seu cabelo grisalho esvoaçar atrás dela e apertando seu vestido contra seu jovem corpo. Ela não se importava; o vento era gostoso. Era tão... libertador. 
Ela sentia um grande respeito por esta cidade. Mesmo depois de ataques tão terríveis, ela ainda permanecia, um reflexo do orgulho dos Lilims. 
Havia muitos prédios danificados aqui e ali, mas mesmo assim, incontáveis homens e mulheres estavam trabalhando dura para repara-la ao seu estado normal 
... até a próxima onda de destruição chegar. 
Como ela seguidamente fazia, a garota repensou sobre seu propósito. Isso era realmente necessário? Ela se lembrava do último ataque. Ela tinha visto os resultados com os seus próprios olhos. O vermelho tinha sido esmagado. Ele não iria interferir novamente. Ela se sentia triste pela garota. Mas ainda mais pelo garoto. 
Aquele garoto... porque ela não podia afastá-lo da sua mente...? 
Ela encarou o céu. Estava chegando. Ela podia sentir isso. Armisael, 
O décimo sexto mensageiro. Se ele falhasse, então apenas um restaria. 
"Você lutará desta vez, Ikari Shinji?" 
- - - 
"Squawk! Squawk!" 
Pen-Pen bateu as suas asas alegremente quando ele me saudou no apartamento. 
Fazia alguns dias apenas que eu tinha me mudado para o apartamento ao lado, 
então eu fiquei surpreso pelo pássaro de águas quentes ter sentido a minha falta. Eu me abaixei e passei a mão na sua cabeça de penas arrepiadas. Feliz com isso, ele foi para a geladeira onde pegou uma cerveja da geladeira de Misato. 
"Ohayou, Shinji." (*) 
Meu olhar deixou o pingüim para parar em Rei, que tinha acabado de sair do banheiro, uma grande toalha cobrindo o seu corpo e outra a sua cabeça. Era muito bom ouvir a sua voz, e ainda melhor vê-la. Sem querer nós tínhamos evitado um ao outro durante os últimos dias. Parte de mim sentia-se meio estranho à volta dela, da mesma forma que eu me sentia ao redor de Asuka depois do incidente do lago e antes da destruição da Unidade-03. 
"Eu irei me vestir, então nós podemos começar," disse Rei simplesmente, depois sorrindo, aparentemente feliz em me ver também. 
"Eu... eu irei lhe esperar na sacada." 
Eu a vi entrar no meu antigo quarto e notei que o pequeno cartaz 'Shinji's lovely suite' ainda estava pendurado. Eu me lembrei da primeira vez que ela entrou naquele quarto, a primeira em vez que nós dormimos juntos. Era uma memória bem vívida, mesmo que parecesse ter acontecido há anos. 
Depois de ir ao banheiro e pegar as ferramentas de que eu ia precisar para cumprir a tarefa, eu fui para a sacada e preparei uma cadeira para Rei. 
O vento era fresco, mas não frio, e os raios do sol brilhavam sobre a sacada. Seria perfeito. 
"É um bom dia," disse Rei quando ela se juntou a mim, colocando meus pensamentos em palavras. 
"Sim." 
Era um bom dia, mas Rei era uma visão ainda melhor. Ela estava usando um vestidinho marrom curto, uma peça de roupa que eu nunca a tinha visto usar. A cor do seu cabelo úmido parecia mais viva que o usual e a luz natural do dia fazia a sua pela clara parecer ainda mais pálida. Ela era realmente linda. 
Com uma mão eu a convidei a se sentar em uma cadeira, então coloquei uma toalha em seus ombros. 
"Você está certa que quer que eu faça isso?" eu perguntei, olhando desconfiado para o par de tesouras que eu segurava em uma mão e o pente na outra. "Eu... eu vou fazer uma bagunça, com certeza..." 
"Mas... porque... porque eu?" 
"Hotaru cortou meu cabelo da última vez. Eu me senti bem, relaxada. Eu quero sentir isso com você. E... cabeleireiros me fazem... ficar desconfortável. 
Eles tendem a encarar meu cabelo..." 
"Ah..." 
"É também uma oportunidade para eu te ver. Eu... sinto a sua falta." 
O tom da sua voz... eu tinha resolvido não me sentir culpado por me concentrar em Asuka, estar com ela até ela se sentir melhor. 
Até agora, eu tinha dado um jeito de suprimir a minha culpa. Mas estas palavras... parecia que ela tinha acabado de me acertar com uma faca. 
"Eu... eu... eu sinto muito..." 
Seus dedos roçaram a minha mão, que estava descansando no seu ombro. O toque foi bastante gentil. 
"Não é sua culpa. Eu entendo. Eu estou feliz que você a esteja ajudando. Então não se sinta culpado." 
"Rei..." 
"Nós estamos juntos agora, não estamos? Vamos aproveitar este momento..." 
Eu sorri, meu coração se sentindo mais leve. Porque eu merecia o amor de tal garota? 
Eu me inclinei com intenção de beijá-la, quando repentinamente eu fui rudemente interrompido. 
"Squawk! Squawk! Squawk!!!" 
Eu olhei para o pingüim. Era a minha imaginação ou Pen-Pen parecia bravo comigo? Eu não podia dizer com certeza por causa dos óculos escuros que ele estava usando. E onde ele tinha pego eles de qualquer forma? 
"Pen-Pen!" 
O pássaro se acalmou e olhou para Rei, parecendo bastante feliz. A ela se abaixou para pegá-lo e colocá-lo sentado no seu colo. 
"Ele... ele parece gostar bastante de você..." eu disse, ainda confuso pelo comportamento do pingüim. "Ele... não estaria com ciúmes... estaria?" 
"Eu espero que sim. Ele é a minha única companhia aqui. Sem ele, eu me sentiria só. Eu acho... que fiquei acostumada com companhia, desde que Asuka 
veio ficar comigo..." 
"Oh... então... isso significa que Misato-san ainda passa a maior parte do seu tempo na NERV..." 
Misato não mentiu quando ela disse que estaria procurando a verdade. Desde a morte de Kaji, sua presença desapareceu cada vez mais de nossas vidas. 
"Sim. Ela apenas vem aqui para dormir, tomar banho e mudar de roupa. 
Ela raramente toma seu café." 
"E ela também manteve a sua resolução de parar de beber?" 
Um pouco depois que ela me disse que Kaji estava morto, ela me prometeu que pararia de beber também. Eu não tinha realmente acreditado que ela manteria a promessa, mas ela parecia ter se contido até eu mudar para o apartamento de Asuka. 
"Eu não a vi beber desde que vim morar aqui." 
"Oh..." 
Eu me sentia orgulhoso dela. Certos hábitos eram difíceis de largar, e a morte de Kaji tinha sido um grande choque. Eu sabia melhor que qualquer um como seria tentador para ela tentar fugir dessa realidade... 
"Você deve agora tentar cortar o meu cabelo antes que ele fique completamente seco." 
Eu emiti um som de desapontamento. Eu tinha esperança que ela mudasse de idéia. Obviamente, ela não mudaria. Então eu peguei o pente e as tesouras... e comecei a trabalhar. Eu tentei ficar calmo, mas por dentro eu era uma loucura só. Eu estava certo que eu ia destruir o cabelo dela inteiramente! 
"Como... está Asuka?" 
Eu esperava por essa pergunta. 
"Um pouco melhor. Hikari a convidou a sua casa, pra tentar animá-la. Mas... mas há ainda algo... ela não quer falar sobre isso. Eu acho que ela está começando a aceitar o fato que não havia nada que ela pudesse fazer contra aquele Anjo... mas eu sinto que ela está escondendo algo de mim. Ela ainda chora à noite. isso... pode estar relacionado com a mãe dela. Algumas vezes ela diz 'Mama' durante o sono." 
"Eu entendo... então você dormiu com ela." 
Eu congelei. 
"Algumas vezes... ela me chama..." 
Eu não estava pronto para falar sobre aquela primeira noite, mas eu também não queria mentir sobre isso. Então eu esperava que eu simplesmente pudesse evitar falar sobre isso. 
"Não se preocupe. Eu não me importo. É a coisa certa a fazer." 
Eu não deixei de notar, contudo, que a voz dela não parecia tão segura quanto a suas palavras. 
Eu senti que nós realmente precisávamos mudar de assunto. 
"Você convidou Hotaru para ficar aqui como eu sugeri?" 
A garota de cabelo azul assentiu com a cabeça. Eu estava feliz em ouvir aquilo. Eu estava com medo que Rei se sentisse solitária. Ela tinha uma vez dormido na casa de Hotaru, mas nunca tinha convidado a amiga. Conforme ela tinha se aproximado de Asuka, Rei passou menos tempo com sua outra amiga. Eu pensei que seria uma boa oportunidade para que elas ficassem um tempo juntas. 
"Então, vocês duas se divertiram?" 
"Foi... bastante agradável..." 
Eu congelei novamente. 
Rei estava corando. MUITO. Isso... não era normal. 
"O que... o que vocês duas fizeram?" 
"Nós fomos ver um filme." 
As palavras pareceram quase casuais, mas o seu vermelhão aumentou ainda mais. Eu senti o perigo aumentar, especialmente quando eu lembrei que o cinema de Tokyo-3 estava agora fechado durante o dia e somente passava um certo tipo de filme à noite. 
Meu melhor julgamento era que estava na hora de mudar de assunto novamente. Com urgência. 
"Você... você... e... Hotaru... foram ver um filme?" 
De acordo com o meu julgamento... 
"Sim." 
"O que... que tipo ... de filme?" 
Droga! Porque eu perguntei? Eu não queria saber... 
Tá bom, eu *queria* saber, mas eu estava tentando com toda a força manter essa parte de mim contida. 
"Um filme adulto," sussurrou a ainda corada Rei. 
"P... porque?" 
"Hotaru-chan tinha dúvidas... sobre sexo." 
"Duv... dúvidas?" 
"Sim. Ela conheceu uma pessoa na Internet há alguns meses atrás. Alguém da nossa idade, se a pessoa não mentiu. Parece que ela desenvolveu... sentimentos por este indivíduo. Ele pediu para encontrá-la em uma semana. Ela tem medo de aceitar. Ela estava incerta quanto ao que fazer. Então eu contei a ela sobre o nosso primeiro encontro... e como ele acabou. Foi aí que ela perguntou sobre... sexo. Ela é bastante ingênua e envergonhada. Eu pensei que uma demonstração seria a melhor maneira dela... aprender." 
"E ela...?" 
"Ela se sentiu embaraçada em fazer qualquer coisa no cinema..." 
Enquanto meu cérebro estava mais ou menos em processo de desligamento e outra parte da minha personalidade estava lutando para tomar o controle, eu me toquei da implicação de que Rei talvez *não* tenha ficado embaraçada. Minha pressão arterial provavelmente deu um salto, especialmente por causa da imagem mental que veio junto. 
Eu também parei de me dar conta do que eu estava fazendo com as tesouras. 
"... então eu tive de ensiná-la quando nós voltamos para casa." 
Eu estava a ponto de desmaiar. 
"O QUÊ!? Vocês duas... vocês fizeram...?" 
"Não, ela apenas seguiu o meu exemplo." 
Embora aquilo tenha me deixado um pouco aliviado, não me deixou muito aliviado... 
"Não se preocupe, Shin-chan. Você é o único que eu desejo. Quando eu vi aqueles filmes, eu apenas pensei em você." 
Se ela estivesse me encarando e olhando nos meus olhos quando ela disse aquilo, eu provavelmente teria derretido nos braços dela naquela hora. 
Mas felizmente não era o caso. 
Havia contudo uma tensão pesada no ar. As batidas do coração de Rei provavelmente estavam tão altas quanto as minhas. 
A situação poderia ter ficado fora de controle, se eu não tivesse notado o que eu tinha feito com o cabelo de Rei. 
Eu me engasguei e esqueci tudo o que foi dito minutos antes. 
Oh deus! 
Eu comecei a suar... 
* * * 
"Eu... eu sinto muito..." 
Rei me deu um olhar chateado. 
"Você já se desculpou demais. Isso não importa, Shinji. Ele vai crescer de novo." 
Eu tentei evitar olhar para ela. Eu me sentia muito mal com isso. Eu a tinha avisado. Eu não tinha dito que eu ia bagunçar o cabelo dela? 
Bem, não estava *tão* mal. O cabelo de Rei sempre tinha sido um pouco rebelde. De fato, o lado direito não estava mal (eu não tinha mexido muito nele). O problema era que o lado esquerdo estava *muito* mais curto. Então isso dava a Rei uma aparência estranha. Eu podia ter arriscado a remover um pouco mais de cabelo da direita, mas uma chamada do Quartel General sobre o ataque de um Anjo preveniu minhas futuras tentativas. 
Isso foi provavelmente para melhor. 
Ao menos, isso teve o beneficio de fazer Asuka rir, pela primeira vez em dias. Isso até que Ritsuko a mandou entrar em seu plugsuit. Eu desejei que Misato estivesse ali, Ritsuko podia ser tão fria às vezes. Pela primeira vez, estava claro que Asuka não estava com tanta vontade de entrar num EVA. 
Eu me sentia mal por ela. 
E ainda mais preocupado. 
* * * 
A Unidade-01 ainda estava em cryostasis. Eu não gostava disso nem um pouco. 
Depois do que tinha acontecido com o Décimo quinto Anjo, eu tinha prometido a mim mesmo que não deixaria as garotas sozinhas. Aparentemente, o Comandante não se importava com isso. Que idiota! Não havia maneira de Asuka estar pronta para voltar. Ainda não. Se eu não tivesse medo de magoar Asuka mais do que ela já estava, eu ia pedir para pilotar a Unidade-02. Mas eu sabia que eles iam me negar isso de qualquer forma. Eu era o único que podia pilotar a Unidade-01, mesmo se fosse para não ser usada. 
Eu realmente odiava isso. 
A única coisa que me impedia de ir à loucura era a minha fé em Rei. Ela conseguiria. Eu tinha de acreditar nela. 
"Rei..." eu disse quando abri um comunicador. Rei parecia bastante desconfortável, o que me preocupou. Quando ela estava no seu EVA, ela sempre mantinha uma atitude calma e profissional, sua face somente mostraria emoções em situações muito tensas ou perigosas. Mas agora, o Anjo ainda tinha de chegar... 
"Tome cuidado..." eu disse depois de alguns segundos. 
A face de Rei se suavizou, minhas palavras sendo mais significativas do que o que quer que a estivesse aborrecendo. 
"Eu irei," ela respondeu com um pequeno sorriso, antes de fechar as comunicações. 
Eu ainda estava preocupado, mas ao menos nem tanto. 
* * * 
Quando Misato finalmente chegou à NERV, o Anjo finalmente tinha chegado e estava sendo observado por Rei, que estava à espera de ordens. Até agora, ele não tinha usado raios de estupro mental, nem disparos de qualquer tipo, o que eu achei uma coisa boa. Ele apenas flutuava. 
"Rei! Nós vamos observar o status dele por um tempo," ordenou Misato, quando ela finalmente tomou o comando. 
"Não. Ele está vindo." 
O que... o que ela quis dizer com isso? As palavras de Misato responderam a isso. 
"Rei! Ação evasiva!" 
"Ela não pode! É muito tarde!" gritou Hyuuga. 
"O alvo fez contato físico com a Unidade Zero!" confirmou Aoba. 
Meu deus! Rei! Eu esperava que ela estivesse bem! 
Eu acho que o pessoal na sala de Controle analisou a situação por um curto período de tempo. Eu não sei o quanto demorou; para mim pareceram horas. Mas eventualmente, Misato me deu ordens para ajudar Rei. 
"Eva Unidade Dois, lançar! Que ela resgate Rei, e providencie cobertura." 
Eu realmente queria que ela tivesse dito lançar Unidade-01, mesmo que fosse pouco provável. Eu realmente esperava que Asuka pudesse ajudar. Mas parte de mim duvidava disso. 
"Asuka, avance trezentos metros e expanda o seu AT-Field ao máximo, então dispare o fuzil mirando a parte de trás do alvo," ordenou Misato. "Eva Unidade-02, decolar!" 
Por um longo tempo, a única coisa que eu ouvi foi o som do silêncio. 
"Mexa-se! Asuka! Qual o problema? Qual o status da Unidade-02?" 
"Ela não pode se mover, Major, sua taxa de sincronização está abaixo de 10%!" respondeu a tenente Ibuki. 
"Asuka!" 
"Ele não se move... ele simplesmente não se move..." 
Essas eram as únicas palavras que Asuka podia dizer entres soluços. Era isso que eu temia. Asuka era incapaz de ajudar Rei; e ainda menos capaz de resgata-la. Era cedo demais, ela não estava pronta... 
Droga! 
"Me deixe sair Misato!" eu gritei enquanto eu ativava a Unidade-01, desta vez sem esforço. 
Eu esperava uma resposta negativa. Mas eu tinha de tentar. E se eu precisasse destruir o Quartel General para salvar Rei, então eu estava resolvido a fazê-lo. Eu não deixaria mais ninguém se machucar... 
Eu acho que eu fiquei surpreso como todo mundo quando eu ouvia a voz do Comandante. 
"O congelamento na Unidade-01 esta cancelado, efetive imediatamente. Lançar o quanto antes possível." 
Eu não estava com vontade de discutir! 
"Estou pronto Misato! Me tire daqui rápido!" 
"Sim... claro! Logo que você sair, expanda seu AT-Field a força máxima. Uma arma estará esperando você. Pegue-a, atire no alvo e arranque Rei daquele inferno!" 
"Sim Misato-san!" 
Na verdade, o fato da Unidade-01 já estar ativada e operacional fez as coisas mais fáceis e rápidas, e em um minuto, a gigantesca arma humanóide estava sendo movida para a baia de lançamento. Logo eu senti a aceleração familiar, quando eu fui catapultado para a superfície. Eu era finalmente capaz de ver com meus olhos o que estava acontecendo com o Evangelion Unidade-00, e tive momentos escruciantes nos segundo que levaram para meu EVA se liberado dos restritores. Eu queria simplesmente correr para ela e salvá-la, mas meu bom senso me disse que eu teria uma melhor chance se eu seguisse as ordens de Misato. 
Aparentemente, ativar meu AT-Field fez o Anjo notar a minha presença. Se não tivesse sido por um aviso de Misato, eu nunca seria capaz de esquivar do seu ataque já que a minha atenção se desviou por um segundo ou dois, o tempo que levou para pegar o rifle que tinha sido mandado para mim. Enquanto uma de suas extremidades ficou presa na Unidade-00, a outra se lançou para mim. Ela errou, mas destruiu o meu rifle. O final daquela coisa se virou no ar, e novamente se moveu em minha direção. Eu não sabia exatamente como lidar com isso; aquela coisa era extremamente rápida, mas de alguma forma a mão esquerda do meu EVA pegou aquele verme de luz. Ele se torceu no punho de metal para se libertar, mas eu segurava firme. Quando o outro braço do EVA alcançou a minha faca progressiva, eu subitamente senti uma dor aguda; como se a minha mão esquerda estivesse em fogo ou algo assim. Eu olhei para o visor, onde eu notei que a mão esquerda da Unidade-01 estava sendo deformada pelo Anjo. Disseram-me depois que ele tentou contaminá-la. Então eu vi que a minha própria mão, dentro do plugsuit estava sofrendo o mesmo tipo de "ferimento" do meu EVA. Por reflexo, eu quase o soltei. Mas então, um pensamento me ocorreu. 
Isso não era apenas uma impressão. Eu sofria o que o meu EVA sofria. 
Então, daí... 
Eu olhei para a Unidade-00... 
Rei! 
Eu agarrei a faca progressiva e acertei selvagemente o Anjo diversas vezes, 
tentando cortá-lo em pedaços. Sangue esguichava dos cortes. Eu estava a ponto de literalmente cortá-lo em dois quando eu ouvi Rei gritar através do communicador. A voz de Misato se seguiu imediatamente. 
"Shinji, o que quer que você esteja fazendo, pare imediatamente! Os sinais vitais de Rei estão ficando malucos!" 
Oh não... seria possível que machucando aquela coisa... machucava Rei? 
Desta vez, eu tentei soltar, mas agora parecia preso nos dedos do EVA. Em pânico, eu soltei a faca e agarrei outra parte do Anjo e puxei. Eu senti uma sensação de arrancar quando a mão esquerda da Unidade 
e o Anjo foram separados na marra, deixando aquela mão uma massa sangrenta. Eu realmente não queria pensar no quanto a minha mão estava machucada, mas eu sabia que era tão dolorosa que eu não podia quase usá-la. Eu então soltei o Anjo, antes que ele danificasse a outra mão. Mesmo depois de uns poucos segundos, ele tinha de alguma forma derretido a armadura e agora começava a atacar a carne da mão. Parecia que eu tinha enfiado a minha mão em ferro quente ou algo assim. 
Eu tentei me preparar para desviar de um novo ataque daquela coisa, já que era a única coisa que eu podia fazer por enquanto ate que alguém viesse com algum tipo de plano, quando repentinamente, o Anjo ficou 
rígido. Do outro lado do Anjo, a Unidade-00 pareceu se curvar em uma bola em torno da parte do Anjo que estava ligado a ela. Pelo comunicador, eu li as palavras "Inversed AT-Field." 
"Rei! Que diabos você está fazendo?!" gritou uma obviamente irritada 
Misato. 
Sem resposta da Unidade-00. Eu fiquei preocupado. Rei tinha mudado, mas não tanto para ignorar a pergunta de um superior. 
"Rei! Abandone o EVA! Ejete o seu entry plug!" ordenou Misato. 
"Não. Se eu sair, o AT-field irá deixar de existir. Então, eu não irei." 
O que... o que ela está dizendo? Se ela fizer isso... ela vai... 
"Rei! Faça o que Misato diz!" 
Uma janela de comunicação da Unidade-00 apareceu. Contudo, as palavras 
"Sound Only" eram a única coisa que eu podia ver. 
"É muito tarde..." 
"Rei!!!" 
Eu não podia deixa-la fazer isso! Eu não podia deixá-la morrer! Mesmo que parte de mim soubesse que eu não chegaria a tempo, meu EVA correu para a Unidade-00. 
As pessoas na sala de controle não notaram por causa do LCL, mas eu estava chorando. 
"Shinji... aconteça o que acontecer... nunca esqueça... que eu amo você." 
"NAO! Rei! Não faça isso! REI!!!" 
"Eu te amo..." 
Estas palavras sussurradas foram seguidas pelo som de uma explosão muito alta. A pura luz branca me cegou. Eu senti dor enquanto a explosão envolveu a Unidade-01 e a levantou no ar, e ainda mais dor quando eu bati contra o chão com força, minha própria cabeça batendo com força no assento do entry 
plug. Eu perdi a consciência. Eu não estava certo se foi por causa da dor física, contudo. Eu tinha me sentido pior no passado. Eu acredito que era porque um pedaço do meu coração foi arrancado naquele dia. 
* * * 
Eu acordei de repente, mal sendo capaz de respirar, minha mente ainda adormecida. Em meus sonhos, um Anjo havia atacado e Rei havia morrido. Eu tentei me levantar, mas os lençóis da minha cama estavam enrolados a minha volta e eu perdi o equilíbrio e cai fora da cama. Isso me trouxe de volta a realidade. Eu desejei que não tivesse acontecido isso, quando eu me dei conta que estava num quarto de enfermaria e não no meu próprio quarto. Isso significaria... eu levantei as minhas mãos para olhar para elas. Elas estavam enroladas em gazes. Eu me lembrei da dor que eu senti quando o Anjo contaminou as mãos da Unidade-01 com um simples toque. 
Aquilo... não poderia ser... 
Desajeitado mas freneticamente, eu removi as gazes da minha mão esquerda. 
A luz estava difusa, mas eu podia ver o quanto a pele estava inchada em alguns lugares. Havia mesmo algumas cicatrizes aqui e ali, prova de que algum tipo de operação fora realizada. A leve tontura que eu sentia era provavelmente efeito colateral dos tranqüilizantes que eu tomara e que com certeza tornavam aqueles machucados suportáveis. 
O Anjo tinha contaminado as mãos da Unidade-01. 
Eu tinha tentado lutar, mas apenas machuquei Rei. 
Então, Rei... 
Não. Não. NÃO!!! 
Sem nem mesmo pensar, eu corri para fora do quarto, não me importando com o fato que eu estava apenas vestindo uma camisola (pelo menos eu não estava nu desta vez). Eu tinha de encontrar Rei. Com certeza ela estava viva! Ela deve ter escapado! Se eu procurasse por ela, eu a encontraria! 
Minha reação não passou despercebida pelo pessoal da enfermaria. Isso provavelmente tinha a ver com o fato que eu estava gritando por ela com toda a força dos meus pulmões. Eu tinha apenas checado três ou quatro quartos quando eu fui agarrado por três enfermeiras. Eu tentei escapar delas, mas elas deram um jeito de me injetar alguma coisa. Eu perdi a consciência imediatamente. 
* * * 
Quando eu acordei novamente, minha mente parecia envolta em uma fina névoa. Isso era provavelmente o efeito de algum sedativo. Eu encarei o teto, e senti lágrimas molharem minha face. Minha mente estava um pouco revirada, mas havia alguns fatos que eu não podia ignorar. Eu não tinha alcançado a Unidade-00 e mesmo assim a explosão tinha mandado o meu EVA voando pelos ares, mesmo com o meu AT-Field em força máxima. Mesmo que ela tivesse ejetado, o entry plug de Rei teria estado quase no centro da explosão. Não havia maneira de um entry plug 
ter sobrevivido. 
Rei estava... morta. 
"Shinji..." 
Eu olhei para cima e vi Misato parada ao lado da minha cama. Ela parecia triste. Não tanto como quando ela me contou que Kaji estava morto, mas quase. 
"Misato-san... me diga que isso é apenas um pesadelo... por favor..." 
Ela apenas balançou a cabeça. Algumas lágrimas abriram caminho pela sua face. 
"Não... por favor, não!" 
Eu estava chorando novamente, as lágrimas fluindo livremente desta vez. 
Misato sentou na quina da cama do meu lado. Ela olhou para mim diretamente nos olhos. 
"Ela se foi, Shinji." 
Eu me lembro do dia que se seguiu à viagem ao lago. O quanto triste eu tinha estado. Daquela vez, eu tinha sentido como se fosse o fim do mundo. Que igênuo de minha parte. Não ser amado por alguém não era a experiência mais dolorosa que você poderia experimentar na sua vida. O que mais machucava era perder alguém que você ama. E é ainda pior se esta pessoa também retribui esse amor. 
A dor que eu sentia naquele instante era tão intensa que era quase física. Era como se eu estivesse a ponto de ser engolido por um mar de escuridão. 
Provavelmente por instinto, eu procurei Misato, a abracei o mais forte que podia, para não ser carregado pela onda de tristeza. Não me lembro muito mais que isso. Eu apenas me lembro da dor. Eu provavelmente adormeci, já que eu me lembro claramente de acordar, minha cabeça embaixo do seu peito. Seus braços a minha volta, e ela própria caída num sono. A dor estava lá, e ainda havia algumas lágrimas deixadas por chorar, mas os sentimentos não eram tão intensos quanto antes. Meu soluçar provavelmente a acordou, já que ele trouxe um dos seus braços até a minha cabeça e afagou o meu cabelo. era agora a vez dela me confortar. 
"De alguma forma... você ficará bem, Shinji... eu prometo..." 
Ela não fez nenhum gesto para se levantar. Ela apenas ficou ali, me deixando descansar. 
"Como...?" 
"Eu... eu não sei Shinji..." 
Apesar da dor em meu coração, eu me sentia bem estando ali. Era gostoso sentir a respiração regular dela. Eu não me sentia solitário. 
Momentos de paz relativa como estes não podem durar para sempre, contudo. Eu fui lentamente deslizando em direção ao sono quando Hyuuga entrou no quarto. Se eu não estivesse deprimido, eu teria rido da expressão que apareceu na face dele quando ele viu a maneira como Misato estava me segurando. Pobre Makoto... 
"Eu... eu sinto muito Major, mas... o Comandante quer vê-la." 
Ele parecia realmente sentir, eu notei quando nossos olhos se encontraram. Parte de meu cérebro sentiu que Hyuuga era um bom homem. A outra parte estava ainda fixa na morte de Rei. 
Eu não queria que Misato saísse, mas eu sabia que ela não tinha muita escolha. Então eu a deixei se levantar. 
"Sinto muito, Shinji..." 
"Tudo bem..." 
Ela estava pronta para sair, quando falou novamente. 
"Quando você se sentir pronto, você pode voltar para casa. Tem... algo para você lá. Uma carta. Eu pedi para Asuka coloca-la em seu quarto..." 
Uma carta? Uma carta... de Rei? 
Isso me balançou o suficiente para clarear a minha mente. Apressadamente, eu procurei as minhas roupas e as coloquei. Poucos minutos depois, eu estava a caminho de casa. 
* * * 
Meu Querido Shinji, 
Desde o Ataque do Décimo-quinto Anjo, eu senti um medo me assolar. Eu não sei porque, mas eu sinto que a próxima batalha pode muito bem ser a minha última. Talvez eu esteja apenas assustada. O que aconteceu com Asuka foi assustador, e os Anjos parecem estar ficando cada vez mais fortes. Eu estou ciente do nível das minhas habilidades, e eu duvido que eu possa vencer sozinha o próximo Anjo. Mas eu prometi a mim mesma que eu sempre o manteria a salvo. E eu quero manter esta promessa. Eu estou assustada, mas estou em paz. 
Eu espero, contudo, ser capaz de voltar para vê-lo. 
Mas se eu não for... por favor saiba que eu sinto muito. Você logo vai descobrir os segredos que eu tentei esconder de você. Eu queria contar a você, mas eu nunca tive forças. Porque eu sei que eu teria perdido você se eu o fizesse. Eu nunca deveria ter existido. Mas mesmo assim, eu existo. 
Eu também agradeço a você, Ikari Shinji. Você me deu tanto. Antes de te conhecer, eu existia, mas não vivia. Eu apenas existia para os propósitos Dele. Você me fez sentir. Você me fez pensar. Você me deu vontade. Você me deu vida. Eu nunca poderia agradece-lo o suficiente. 
Saiba que eu te amo, Shinji. 
Eu te amo. E sempre amarei. 
Rei 
Quando eu li as primeiras palavras, eu senti meus joelhos fraquejarem. Quando eu atingi a metade da carta, lagrimas caíram na folha de papel, estragando a bela letra de Rei. Eu não era capaz de agüentar mais. Quando eu terminei a carta, eu estava curvado em uma bola no chão, chorando ate não agüentar. 
Ela sabia que iria morrer. Em minha mão estava a prova daquilo. 
Uma cruz de prata numa corrente de prata; a cruz que ela sempre usava. Eu a tinha encontrado em um envelope junto com a carta. 
Ela sabia que ia morrer, mesmo assim, ela pilotou. 
'Mas eu tinha jurado a mim mesma que eu te manteria a salvo.' 
Pelo meu bem. 
'E eu pretendo manter esta promessa.' 
Ela manteve. E isso custou a sua vida. Porquê? Porquê ela fez isso? Para que eu pudesse viver? Ela não sabia que eu preferia morrer a saber que ela sacrificou a vida por mim? 
Eu me levantei e olhei para o teto, para o céu que eu não podia ver, para aquele lugar onde eles diziam que Deus vivia. O Deus que mandou seus mensageiros para nos destruir. Aquele Deus que tomou Rei de mim. 
Não era justo... não era justo! 
"Não é justo! REI!" 
Eu desabei no chão. A dor estava dando lugar à raiva. Eu bati no chão com o meu punho, então outra vez, e uma terceira. E novamente, e novamente, até que as gazes das minhas mãos estivessem manchadas de sangue e minhas mãos estivessem muito amortecidas para eu sentir dor. 
Sem eu saber, alguém tinha visto tudo isso, numa mistura de terror, dor e confusão. Eu apenas fiquei ciente da sua presença quando os seus braços me enlaçaram. 
Suaves braços femininos. Quentes e confortadores. 
"... Rei?" 
"Shinji..." 
Ela tinha apenas sussurrado o meu nome. Mas foi o suficiente para eu reconhecer a voz. Asuka. 
Algum pensamento irracional me fez querer me livrar do abraço. Isto não estava certo. Rei era a única que normalmente me consolava. Às vezes 
Misato. Nunca Asuka. Mas eu me sentia muito fraco pra lutar. 
E então eu senti uma lagrima na minha bochecha. Uma lagrima que não tinha sido lançada pelos meus olhos. 
Então eu ouvi os soluços, juntando-se aos meus. 
Eu estou certo que se tivesse alguém nos vendo, essa pessoa teria achado difícil de acreditar que aquelas duas crianças, uma segurando a outra enquanto ambas choravam, eram a única esperança da humanidade. 
* * * 
Depois de algum tempo, nós nos acalmamos. Asuka estava caída no chão e eu estava deitado ao seu lado, minha cabeça descansando no seu peito em desenvolvimento, balançado pelo suave movimento da sua respiração regular. O pensamento que me ocorreu era que talvez a minha cabeça estivesse muito pesada para ela e naquela posição, prensada entre eu e o chão era bem desconfortavel, mas eu me sentia incapaz e sem vontade de me mover. 
"Eu devia estar feliz por ela estar morta. Eu posso ter você todo para mim agora." 
Asuka... 
"Mas eu não estou. Eu me sinto horrível apenas por considerar esta idéia e eu me sinto triste sempre que eu penso nela." 
Eu estava ouvindo as palavras, mas realmente não sentia nada sobre elas. 
"Eu realmente odiava ela. Eu seguidamente desejei que ela morresse." 
Eu nem mesmo me sinto brava. 
"Porque eu não estou feliz que ela se foi?" 
Eu não tinha nada para dizer. 
"É confuso. Eu acho que ela era minha amiga. Eu acho que eu me importava com ela. Eu sei que saber que ela se foi... isso machuca..." 
Então eu fiquei quieto. 
"Eu devia ter morrido ao invés dela. Eu sou a inútil. Eu não pude nem dar um passo. Eu fracassei completamente com ela. Eu fracassei com todos. Eu sou imprestável." 
O silêncio encheu o quarto novamente por um bom tempo. Segundos, talvez minutos. 
"Porquê? Ela morreu por mim... porquê?" eu finalmente disse. 
"Porque ela te amava mais que a própria vida." 
"Mas eu a amava também..." 
Silêncio. 
"Eu sei..." a voz de Asuka parecia quase arrasada quando ela disse essas palavras. 
"SHINJI!" 
Eu ouvi Misato dizer meu nome enquanto ela corria pelo apartamento e entrava no meu quarto. Seu rosto apareceu na porta que se abria, ela parecia quase sem fôlego, mas mesmo assim havia uma luz em seus olhos. 
"Ela está viva!" 
Eu pulei assim que ouvi estas palavras, meu corpo inteiro se sentindo subitamente energizado, esquecendo tudo sobre a garota que estava me segurando. 
Não podia ser... mas se fosse verdade... 
"O que?!" 
"Ela está viva! Rei está viva!" 
Graças a deus! 
"Onde?!" 
"Na enfermaria da NERV, primeira seção de Neurolgia!" 
Isso era tudo que eu precisava saber. Eu estava fora do apartamento num piscar de olhos, seguido de perto por Misato, deixando uma chocada Asuka para trás. 
* * * 
Ela estava lá. Olhando através da janela, gazes na sua cabeça e braços, um tapa olho no seu olho direito, vestindo uma camisola de hospital. 
Ela estava lá! 
Eu corri para ela. Se isso era um sonho, eu rezei para não acordar antes de alcançá-la. 
"Rei! Você está bem! Graças a deus! Você está... está viva!!" 
Tudo estava certo agora. Ela estava viva. Ela não tinha sido tomada de mim. Nós podíamos voltar ao que éramos antes. Com a ajuda de Rei, Asuka ficaria melhor. Nós lutaríamos contra o último Anjo juntos, nada podia nos impedir. Nós passaríamos por tudo isso, agora que Rei estava de volta. 
"Quem é você?" 
Aquelas palavras me acertaram com uma tonelada de tijolos. 
Foi aí que eu as notei. As mudanças. Pequenos detalhes. O cabelo azul perfeitamente arrumado, que não tinha sofrido com as minhas tentativas de cortá-lo. Suas gazes, nos exatos locais onde estavam na primeira vez que nos conhecemos. A expressão em sua face, uma expressão que eu não tinha visto em meses, nunca tão sem vida. 
Essa não era Rei. 
"Você não é Rei." 
Eu queria gritar, mas as palavras saíram sem emoção. 
Ela olhou para mim por um minuto inteiro, me abalizando. 
"Eu não penso assim. Eu penso, provavelmente, que eu sou a terceira." 
Eu não entendi completamente estas palavras. Mas algumas delas eram suficientemente claras para mim.. essa... coisa... não era Rei. E se não era Rei, então Rei estava... 
Não... não... 
"NÃO!" 
Isso... isso não podia ser verdade. Alguém... alguém devia estar fazendo um brincadeira de mau gosto comigo. De outra forma, porque dar a esta coisa a face da garota que eu amava? 
Mas aqueles olhos vermelhos... 
Eu... eu não podia ver aquilo nem mais um segundo. Então eu corri para longe daquilo o mais que eu pude. 
* * * 
Eu não sei quanto tempo levou para eu voltar ao meu normal. Eu tinha provavelmente vagado pelo Geofront como um louco por vários minutos, talvez até mesmo por horas. Eu olhei para a trilha de melancias a minha frente. Alguma coisa no meu subconsciente me deixou exausto, me fazendo cair de joelhos. 
"Kaji... o que eu devo fazer... eu não entendo o que está acontecendo..." 
Porque ele teve de morrer? Eu preciso de ajuda. Eu preciso de respostas. O que está acontecendo? O que aconteceu com Rei? Se a garota que eu vi não era Rei, então o que era? 
Eu poderia perguntar a Misato... mas eu duvido que ela tenha as respostas. Ela não teria me dito que Rei estava viva se ela não acreditasse nisso. Kaji saberia... mas ele está morto. Quem? Quem poderia me dizer? 
"Doutora Akagi." 
Ela sempre pareceu saber muito, mais do que ela costumava falar. Ela era a cabeça por trás do Projeto E. Se houvesse alguma coisa errada com um dos pilotos, ela seria a primeira a saber. Ela devia ter as respostas. 
A questão era: ela me daria essas respostas? 
Havia apenas uma coisa a fazer. 
"Obrigado Kaji... eu estou certo que de alguma forma... você me inspirou..." 
Eu me levantei, dei uma última olhada para as frutas, então caminhei em direção à NERV. 
* * * 
Eu nunca tinha visitado o escritório de Ritsuko, mas eu tinha uma vaga idéia de onde ele ficava, então encontrá-lo não foi problema. Curiosamente, ela estava realmente ali, encarando o seu computador. Ao menos uma vez, alguma coisa dava certo. 
"Doutora Akagi." 
Assustada, a cientista loira quase pulou de sua cadeira. Apenas então, eu notei o que estava na tela do seu computador. Era a foto do meu pai e de uma outra mulher, uma mulher que eu não conhecia, mas de alguma forma... era familiar... e uma jovem que parecia Ritsuko, apenas mais jovem e de cabelos castanhos. Poderia isso ser... uma foto de Ritsuko, de anos atrás? De qualquer forma, não importava, então eu voltei a minha atenção para a Doutora, que tinha rapidamente voltado ao normal do seu susto inicial. 
"O que eu posso fazer por você, Shinji?" 
Normalmente, Ritsuko tinha um ar de calma e conforto. Não desta vez. 
Era como se ela tivesse... sido perturbada por alguma coisa. E não foi a minha visita inesperada, eu estava certo. Quando eu encarei os olhos castanhos, eu notei que eles estavam um pouco inchados e vermelhos. 
Eu percebi, mas não me importava. 
"Eu quero a verdade. Eu queria saber que foi aquela coisa que eu vi na enfermaria." 
Por um momento, seus olhos se arregalaram. 
"A enfermaria? Você quer dizer Rei?" 
"Não é Rei." 
Novamente, ela pareceu surpresa. 
"Eu não tenho idéia do que você esta tentando dizer, Shinji. E eu te asseguro, a pessoa que você viu é Ayanami Rei." 
"Não, se parece com ela, mas não é ela. Ela não poderia ter crescido o cabelo em menos de um dia. E eu vi a explosão de perto. Não havia forma de ela sobreviver àquilo. Além do mais..." eu acrescentei enquanto olhava para as minhas mãos envoltas em gazes, "... os seus ferimentos seriam realmente espantosos." 
Surpreendentemente, desta vez, a Doutora apenas assentiu. 
"Como eu pensava. Nem todo mundo acreditaria na súbita reaparição de Rei. Muito bem, Shinji... saiba que aquela pessoa que você viu era Ayanami Rei. A verdade é muito mais complicada." 
"Então, qual é a verdade?" 
"Você não vai me acreditar, então é melhor eu te mostrar..." 
* * * 
Eu segui a Doutora pelos corredores escuros nas profundezas, definitivamente mais baixos que os níveis aos quais eu tinha acesso. Eu tenho de admitir, eu me sentia um pouco nervoso com isso, mas eu estava determinado a desvendar tudo. Eu estava determinado a ter respostas para minhas perguntas. 
'Você logo vai descobrir os segredos que eu tentei ocultar de você. Eu queria te contar, mas nunca tive forças. Porque eu sabia que te perderia se eu fizesse.' 
Os segredos que Rei não podia me contar... eu tinha que saber o que eles eram. 
Nós caminhamos por um corredor mal iluminado por um tempo até que Ritsuko parou em frente a uma porta. Eu me dei conta que era a primeira porta que nós encontrávamos depois que saímos do elevador que nos levou àquele nível. As palavras 'Terminal Dogma: Level 1 Sector 2' estava escrito abaixo dela. Entretanto, a uma primeira olhada, eu mal notei as palavras 'Keep out'. E eu devo dizer que eu não me senti melhor quando eu vi as palavras 'Trespassers will be shot on sight'. O único pensamento confortador era que eu era o único piloto de EVA disponível agora, assim sendo indispensável, isso até que eles fizessem testes de compatibilidade entre Ayanami e a Unidade-02... ou até que eles encontrassem outro piloto. Eu suspirei com o pensamento, me lembrando do que tinha acontecido com a Quarta Criança... 
Num rápido movimento, Ritsuko passou um cartão vermelho no leitor ótico à esquerda da porta. 
Nada aconteceu. A Doutora pareceu obviamente surpresa. 
"Não vai funcionar sem o meu passe." 
Eu quase engasguei quando repentinamente, Misato estava atrás da cientista loira, sua arma nas costas dela. Eu nem a vi chegando. Ela tinha uma expressão bastante séria no rosto. De alguma maneira, eu senti que ela usaria a sua arma se fosse necessário. Isso me assustou. Essa não era a minha Misato... 
Eu imaginei... poderia eu mesmo ir assim tão longe para descobrir a verdade? 
"Eu entendo. Kaji conseguiu isso?" 
Para alguém que tinha uma arma cutucando as suas costas, a Doutora não parecia muito perturbada. 
"Eu quero saber os segredos que você esconde aqui." 
"Muito bem. Eu estava a caminho de mostrar a Shinji alguns deles. Você pode vir junto." 
* * * 
Nós usamos o que eu pude descrever apenas como um elevador de luz. Não, essa não é uma descrição precisa. Em vez disso, uma plataforma de metal que lentamente descia uma espécie de cadeia de feixes de uma brilhante luz vermelha, entrelaçados juntos, um pouco como uma cadeia de DNA. Eu não tinha idéia de como isso funcionava, como ele parecia descer, flutuando, sem cabos. O pensamento de perguntar a Ritsuko nunca me ocorreu. Eu apenas olhava para o feixe de luz, meio espantado, meio perdido em pensamentos. A Doutora e a Major não estavam muito conversadoras. 
Quando nós alcançamos o fundo do "elevador", chegamos novamente em 
outro grande e escuro corredor, sem fim aparente. Ao menos, havia pequenos veículos elétricos ao nosso dispor. Sem perder tempo, Ritsuko se moveu para continuarmos nosso caminho... para onde apenas Ritsuko sabia. 
Depois de alguns minutos, ela parou em frente a portas metálicas gêmeas. À sua esquerda, havia um painel, com números nele. Nós saímos do veiculo, então Ritsuko digitou uma serie de números, então passou seu cartão no leitor ótico. As portas se abriram. 
Não havia luz na sala. Ela parecia ser grande, mas eu não sabia realmente dizer seu tamanho. Mas de qualquer forma eu notei o que parecia ser uma pequena plataforma que percorria toda a nossa volta. 
Quando as portas de metal fecharam, a sala se tornou completamente negra. Eu não podia ver nada, nem mesmo ver Ritsuko e Misato. Eu não estava muito confortável com essa idéia. Então, luzes no teto se acenderam, me cegando brevemente. Quando eu recuperei a minha visão, eu fiquei chocado quando eu notei que a sala à minha volta era gigantesca. Eu nem mesmo podia adivinhar qual o tamanho dela. Mas o mais chocante era o que eu vi no chão. Ossos. Ossos gigantes. Alguma espécie de crânio, vértebras que faziam uma gigantesca coluna vertebral, omoplatas... no geral, os remanescentes de provavelmente dúzias de coisas gigantescas. 
"Esses são... EVAs?" eu perguntei, ainda sob o choque da visão. 
"Os primeiros experimentos," respondeu Ristuko friamente. "Falhas. 
Dejetos de dez anos atrás." 
"Um cemitério para EVAs." 
"Nada tão sofisticado, Shinji. É apenas um deposito de lixo." 
Eu estava olhando para o que poderia ser Evangelions, quando ouvi 
Ritsuko abrindo as portas antes que as luzes se apagassem. Ela entrou e 
Misato e eu simplesmente a seguimos em silêncio. 
Enquanto caminhávamos em direção ao nosso próximo destino, a Doutora comentava o que víamos. 
"Como vocês podem ver, a ciência do Evangelion não é algo que nós compreendemos completamente. Muitos erros foram cometidos enquanto estávamos aprendendo. De todos estes experimentos, nós apenas conseguimos dois Evangelions funcionais. O resto eram falhas. E mesmo nossos dois sucessos não foram sem problemas. A Unidade-00, já que era o protótipo, nunca conseguiu a mesma eficiência que a Unidade-02. E a Unidade-01... trouxe uma maldição para aquilo que ia se tornar a NERV." 
A Unidade-01? Uma maldição? 
Depois de dois minutos dirigindo, a Doutora parou em frente a uma porta de metal solitária. Novamente, ela entrou com um código numa fechadura numérica e a porta se abriu. As luzes revelaram uma sala com uma mesa, um certo numero de pedaços de um computador velho e um monte de fios nas paredes e do chão, bem como vidraças estilhaçadas. Além das janelas, parecia uma sala bem grande. Embora essa fosse uma perspectiva à qual eu não estava acostumado, ela me lembrava uma sala onde o teste de compatibilidade dos EVA eram feitos, isso ates da Unidade-00 entrar em berserk, quando eu tentava sincronizar com ela, e destruir a sala. 
"Isso parecem as salas onde os testes de ativação dos EVAs são feitos," notou Misato, confirmando meus pensamentos. 
"Sim. O que é perfeitamente natural, já que este é o propósito desta sala. Era aqui que os primeiros testes de ativação do protótipo e do modelo de teste eram feitos." 
"Unidade-00 e Unidade-01?" eu perguntei. 
"Sim. você se lembra deste lugar Shinji?" 
Havia um forte sentimento de dejà vu, mas... 
"Não... eu... eu não..." 
"Eu não estou surpresa. Este é o lugar onde a sua mãe desapareceu. 
Você estava aqui quando aconteceu. Você viu tudo, você estava assistindo no momento em que ela desapareceu." 
"Ritsuko!" disse uma chocada Misato. 
Era tarde demais contudo, já que as memórias começaram a despertar em mim. 
Não era muito claro. Eu me lembro de minha mãe me trazendo aqui. Então ela saiu com o meu pai. Havia também uma mulher com eles. Eu estava olhando pelas janelas... eu a vi vestindo algo como um plugsuit... entrando uma coisa que parecia um entry plug... então um homem entrou na sala... Sub-comandante Fuyutsuki? Então... a voz de minha mãe... então... gritos... Mãe... Pai chorando... 
Minha mãe nunca mais voltou depois daquilo... 
Eu desmaiei. 
* * * 
Eu acordei ouvindo a voz preocupada de Misato. Ritsuko estava apoiada nnuma parede e me olhava de forma impassível. 
Quando eu reconheci onde estávamos, eu quase entrei em pânico, mas depois de poucos e longos segundos, eu me acalmei. Eu me lembava então... mas eu desejava que não. 
Minha mãe tinha sido morta... no que era aparentemente um teste de sincronização. 
Então, poderia isso significar...? Esta era a parte do quebra-cabeça que estava faltando, eu talvez que eu não estivesse disposto a encarar. Isso explicava tudo: o sentimento quente que eu sentia sempre dentro do EVA, porque a Unidade-01 tinha sempre me protegido, e porque meu pai era tão protetor em relação a ela. 
Minha mãe estava dentro da Unidade-01. 
Um pensamento não me fez sentir melhor. 
"Então, você entende agora, Shinji. Era disso que você esteve fugindo toda a sua vida, isso é o que fez seu pai ser hoje o homem que ele é." 
"Sim." 
"Bom. Nós podemos seguir agora." 
"Espere! O que está acontecendo aqui?" perguntou Misato. 
Eu dei a ela o sorriso mais encorajador que eu consegui dar. 
"Eu lhe contarei mais tarde." 
Isso não pareceu satisfazer Misato, mas ela não insistiu. Isso me deixou feliz. Nós seguimos Ritsuko. Aparentemente, nosso próximo destino estava mais perto, já que fomos a pé. De fato, era apenas do outro lado do corredor. Abaixo das portas de metal, as palavras 'Artificial Evolutionary Laboratory' estavam escritas. Como antes, a doutora entrou com uma espécie de código numérico na porta. 
Eu acho que a minha reação normal seria de surpresa, mas eu estava além disso depois do que eu vi na outra sala. Isso não me impediu de notar que esta sala também me parecia familiar. 
"Esta sala... parece o quarto de Rei. Antes dela vir viver no nosso prédio." 
"Eu não estou surpresa, já que este é o lugar onde Ayanami Rei nasceu," explicou Ritsuko. 
"Rei nasceu... nesta sala?" 
"Sim." 
Misato parecia impaciente para seguir adiante, aparentemente não encontrando nada interessante nesta sala, mas eu mal notei e não me importei. Eu ainda tinha perguntas. 
"É por isso que Rei é tão...?" 
Eu não podia realmente encontrar as palavras adequadas. 
"Incapaz de viver? É isso que você esta tentando me perguntar? Talvez. Foi aqui que ela passou seus primeiros meses, antes que ela fosse realocada fora do quartel general. A imagem deste lugar está provavelmente enterrada profundamente dentro da sua psique. Seu lugar de nascimento. A razão pela qual ela existiu. Seu destino. Foi também aqui que ela O encontrou." 
Ele? O Comandante? Pai? 
Qual foi exatamente o seu papel nisso tudo? 
"Dra. Akagi, eu não vim aqui para ver isso," Misato disse finalmente, cansada de esperar. 
"Seja paciente, Major. Você terá as respostas que procura quando eu der a 
Shinji a informação que ele me pediu. Mas você está certa, não há mais nada para ver aqui. Então nós devemos seguir adiante." 
Nós saímos da sala para caminhar em direção a outra porta de metal. Ritsuko 
Olhou para mim e me deu um olhar sério. 
"Esta é a sua última chance de parar, Shinji. Uma vez que você veja o que há atrás desta porta, sua percepção de algumas coisas irá mudar para sempre. Você saberá a verdade, mas esteja avisado que isso não trará conforto e não resolverá seus problemas. De fato, pode ser até pior." 
"Eu entendo. Mas eu preciso conhecer a verdade. Por mim." 
"Muito bem. Não reclame se você não conseguir lidar com isso." 
Então, com uma rápida passagem do seu ID card e depois de entrar uma longa serie de números, a porta abriu. 
A próxima sala... era estranha. Era completamente escura, e parecia circular, seu tamanho definido por dois raios de luz verde que corriam a volta da sala, isso seria um circulo perfeito se não fosse pela porta no meio. No meio da sala ficava um enorme tubo de vidro, cheio com o que seu suspeitava que fosse LCL. Na parte de cima do tubo de vidro estava um tubo de metal, que subia e se conectava a uma massa ainda maior de tubos e fios. E também, diferente das salas que vimos antes, esta não parecia morta. O som de maquinas trabalhando era inconfundível. 
Ritsuko olhou para mim. 
"Shinji, isso é o que você veio ver. Veja, o núcleo do dummy plug system." 
"Este é o núcleo do dummy plug?" perguntou Misato obviamente surpresa. 
O dummy plug. Eu subitamente me lembrei de uma coisa que Rei tinha dito sobre isso. 
'Os dados do sistema que tomou o controle... o dummy plug system... 
eles... eles vieram de mim...' 
O dummy plug... Rei... 
"Rei estava envolvida com este sistema, não estava?" 
"Mais do que você pode imaginar. Eu vou te mostrar a verdade; ela vai falar por ela mesma." 
Do seu avental, a cientista removeu alguma coisa que parecia um controle remoto, e apertou um botão. repentinamente, o espaço entre as duas luzes na parede circular se acendeu num laranja. 
Eu quase engasguei quando me dei conta que a luz era desta cor porque parte de sua parede era feita de vidro, e atrás do vidro estava 
LCL. Mas mais atordoante era a visão de talvez mais de cem garotas nuas. Todas iguais, exatamente a mesma. Uma garota que eu achava que eu conhecia bem. 
Ayanami Rei. 
"R... Rei! Estas... todas elas são Rei! Tantas dela..." 
Então, como se eu não estivesse chocado o suficiente, todas as garotas subitamente abriram os olhos e nos encararam. Todas elas tinham aquela abençoada expressão alegre em suas faces... isso era assustador. 
"Meu deus!" 
"O que... mas que...!" soluçou Misato. "Você esta dizendo que... que o dummy plug é...?" 
"Sim, este é o núcleo do dummy plug e este lugar é a fabrica onde nós as 'produzimos'." 
"O que... o que são elas...? Elas são... Rei?" perguntou Misato. 
"Eles são apenas dummies. Nada a não ser peças de reposição para Rei." 
"O que... o que é Rei?" 
Esta era uma pergunta que eu estava começando a me fazer. 
"A coisa que você conhece por Ayanami Rei é apenas um clone. Uma criação do homem como o EVA, de um deus que nós encontramos e quisemos fazer à nossa imagem, para nos servir. Isso é o EVA. Rei, por sua parte, é um híbrido humano-anjo feito pelo homem. Você pode reconhecer por alguns de seus traços... aqueles de Ikari Yui." 
Misato engasgou. Eu mal piscava. De alguma forma... eu não estava tão surpreso. Dentro de mim, eu tinha sempre sabido, instintivamente, ou inconscientemente talvez. Eu apenas nunca tentei encarar a verdade. Mas havia tantas coisas. Seu rosto... seu sorriso... similar, mesmo assim deferente. Era um sentimento difícil de descrever. 
Alguns podiam achar a revelação perturbadora. Eu digo, eu tinha me apaixonado por uma garota que partilhava parte dos genes da minha mãe. Nós tínhamos partilhado uma relação que irmãos de verdade no partilhavam. Mas qualquer que fossem as origens de Rei... eu não me importava. A única tese que me importava era que... Rei era Rei. O resto era... sem importância. 
"Você diz... Rei é... a mãe de Shinji?!" 
"Não," Eu disse secamente. "Minha mãe está na Unidade-01." 
Misato engasgou novamente. Ritsuko mal reagiu. Ela apenas me deu um olhar ligeiramente curioso. 
"Você descobriu isso quando estava preso dentro da Unidade-01?" 
Eu assenti. 
Misato parecia confusa. Ritsuko notou e explicou. 
"Ikari Yui desapareceu durante o teste de ativação da Unidade-01. Desde esse dia, nós teorizamos que a sua alma estivesse aprisionada dentro do Eva. Shinji acaba de confirmar isso." 
Ritsuko assentiu 
"E Rei?" 
"Como eu disse, estes são apenas clones. Peças de reposição para a alma de Rei e para o dummy plug. Uma criação humana, como o Eva. Estas são apenas... bonecas." 
"Como você pôde brincar de Deus desse jeito?" 
A Doutora soltou um estranho sorriso. 
"Pergunte a Ikari." 
"Ela é humana," eu finalmente disse. "Ou pelo menos era. Mais que qualquer um de nós..." 
"Talvez..." admitiu Ritsuko. "O que torna alguém humano, no fim das contas? Olhe para si mesmo. Você parece humano. Você tem sentimentos humanos. Ainda assim, às vezes, você é como ela." 
"Como ela?" perguntou Misato. "O que você quer dizer?" 
"Bem... isso é ultra-secreto, mas na verdade, Shinji é apenas um clone de seu eu anterior. Você viu assim como eu. O LCL que continha o seu corpo enquanto ele esteve preso dentro do Eva foi jogado fora antes que pudéssemos resgatá-lo. Através de meios desconhecidos, o corpo de Shinji foi recriado pela Unidade-01, e então ejetado pelo seu núcleo. Embora esse corpo seja, até onde pudemos checar, idêntico ao original e contém a sua alma, você agora é um filho da Unidade-01 e um clone de si mesmo." 
"Enquanto Misato engasgava, eu apenas ouvi. De alguma forma, eu sabia que Ritsuko estava falando a verdade. E eu acho que alcancei um ponto onde eu simplesmente não me importava com mais nada. Eram verdades demais para aceitar. Então, eu não era completamente eu mesmo? Que ótimo... 
Além disso, se Rei aceitou quem ela era... 
Mas será que ela verdadeiramente aceitou isso? Ela nunca me falou a esse respeito... 
Eu não poderia de fato culpá-la. Teria eu acreditado em alguma coisa disso tudo? 
"Porquê...? Porquê ela não se lembra de mim?" eu perguntei, sendo essa a única questão que eu de fato queria respondida. 
"Se ela guardasse alguma memória de você, ela não serviria para o que Ikari tem planejado para ela. Então ele me pediu para cuidar desse detalhe. Sinto muito, Shinji." 
Aquilo, no entanto, causou alguma reação em mim, minha raiva repentinamente aumentando. 
"Sente muito?! Você acha que é suficiente?! Ela morreu, e então você a trouxe de volta à vida para matá-la de novo! Você apagou as memórias dela! E você diz que sente muito?!" 
"Você está certo, tudo isto está errado. Aquela boneca jamais deveria ter voltado para começar. Teria sido melhor para todos. Então eu vou assegurar para que não aconteça de novo." 
Ritsuko pressionou outro botão no controle remoto que ela segurava. Houve um pequeno bipe, e de repende eu ouvi ruídos agudos de todos os lados da sala. Os clones... pareciam ter dor. Então, eles pareceram derreter, numa cena muito sangrenta. O LCL de laranja passou a vermelho. Eu quase vomitei vendo aquilo, mas eu não podia desviar os olhos, eu estava congelado pelo horror que se passava bem à minha frente. Aquelas coisas, o que quer que elas fossem... estavam todas morrendo. 
"O que você está fazendo?" exclamou Misato, apesar da resposta óbvia. Ela puxou sua arma e a apontou para a sua amiga. 
"Eu as estou destruindo! Eu estou me livrando dessas coisas com forma humana... pondo um fim à dor. Eu perdi para aquela coisa. Não... eu jamais poderia ter vencido. Ela jamais saiu da mente dele..." 
Ela estava falando sobre.. o meu pai? Era por isso que ela tinha... feito isso? 
A Doutora caiu de joelhos, em lágrimas. Eu olhei para ela, sem acreditar no que via. Ritsuko... chorando... e... por causa do meu pai? Será que ela... ela... tinha sentimentos... por ele? 
"Eu sou uma idiota, tão idiota quando a minha mãe. Tão tola... você pode me matar, se quiser. A morte seria bem-vinda." 
A Major baixou a sua arma. Ela parecia sentir por Ritsuko. 
"Você é realmente uma idiota se você deseja isso." 
* * * 
Embora Misato estivesse esperando por um grupo de homens armados, apenas o Comandante Ikari e o Sub-Comandante Fuyutsuki vieram. Enquanto ele me olhava pr alguns longos segundos, eu mal resistia a pular no seu pescoço. Essa seria uma maneira bem conveniente de deixar a raiva sair, mas nos colocaria em problemas ainda maiores que os que já tínhamos. Bem, na verdade, problemas que Misato já tinha. Como eu era agora o piloto de Eva mais confiável disponível, bem como o único que poderia pilotar a Unidade-01, era improvável que eles fizessem algo contra mim... pelo menos por enquanto. 
Pelo menos, eu tive alguma satisfação ao ver a cara dos Comandantes. Quando eles olharam para os tanques de LCL que agora continham apenas os restos do que antes eram clones de Rei, o choque mostrou-se claramente em suas faces. Isso foi rapidamente substituído pela raiva. Uma raiva feroz. Quando ele virou seu olhar para Ritsuko, ela pareceu encolher para dentro de si mesma. Ele no entanto reverteu para o frio Ikari Gendou conhecido por todos quando olhou para mim. Talvez fosse porque eu estivesse olhando para ele da mesma forma que ele olhava para Ritsuko. Se isso causou qualquer emoção nele, ele a escondeu muito bem. Finalmente, ele olhou para Misato. 
"Major, escolte a Dra. Akagi para a Segurança. Ela ficará detida lá até segunda ordem." 
"Sim senhor." 
Embora Misato estivesse se esforçando para se manter calma, ainda havia alguma tremulação em sua voz. 
Foi a vez de Fuyutsuki olhar para a Major e para mim. 
"Esqueçam tudo o que viram esta noite... ou vocês podem se juntar à Dra. Akagi." 
Embora o velho homem tivesse feito essa ameaça muito seriamente, ele obviamente não parecia feliz com toda a situação. De fato, ele me deu a impressão de alguém que está muito cansado, provavelmente cansado de todas as mentiras e toda a dor causada pelo Eva. 
Eu fiquei em silêncio enquando Misato aceitava sua nova ordem. Mas eu sabia muito bem que ela não a seguiria. 
* * * 
Quando eu finalmente cheguei em casa, eu me sentia totalmente drenado. A minha mente estava anestesiada com todas aquelas repentinas revelações. Minha mãe tinha morrido em um acidente de sincronismo e agora existia dentro do Eva. Rei era parcialmente um clone dela, era o dummy plug e tinha sido simplesmente substituída por outra quando morrera. Suas memórias também tinham sido apagadas e agora Ritsuko tinha destruído todos os outros clones de Rei. 
Ah, e eu era um clone também... 
Eu estava realmente cansado. 
Os eventos recentes tinham sido tão estafantes que a morte de Rei repentinamente pareceu algo que tinha acontecido muito tempo antes. Aquela realidade provavelmente me atingiria logo... 
Tudo estava escuro no apartamento. Como era tarde, eu imaginei que Asuka estivesse dormindo. Por mim tudo bem, eu só queria uma coisa, ir para a cama, dormir e parar de pensar por algumas horas. 
Quando eu acendi a luz do meu quarto após fechar a porta, eu congelei. Na minha cama eu reparei num envelope junto com a interface de Asuka. O medo quase me dominou. Ainda assim, com mãos instáveis, eu consegui abrir o envelope. Ao contrário de Rei, a escrita de Asuka era desleixada e praticamente não havia kanji. Mas eu realmente não me importava. 
Shinji, 
Eu perdi para uma garota que eu odiei e amei, minha amiga e minha rival. Não... eu não perdi. Eu entendo agora que eu nunca tive qualquer chance pra começar. O olhar na sua face quando Misato te disse que Rei tinha sobrevivido... eu sei que você jamais terá aquele mesmo olhar por mim. 
Estou indo embora. Perdi qualquer razão para ficar aqui. Eu não posso pilotar o Eva. Eu não posso esperar que você me ame tanto quanto eu te amo. Não se preocupe. Eu jamais vou te perturbar novamente. Nunca. 
Eu peço desculpas pela maneira como eu te tratei. Eu não deveria. Mas eu tinha medo. Medo dos meus sentimentos por você. Agora eu sei que eu tinha uma boa razão para temer. Mas agora é tarde. Tarde demais para tudo. 
Eu não tenho certeza se me importo mais. Eu não me importo com mais nada. 
Diga a Rei que eu vou sentir falta dela. Mas eu não poderia agüentar olhar para ela também. 
Adeus, Shinji. 
Asuka 
Aquilo foi mais que eu podia agëntar. Dor e sofrimento... tudo aquilo voltou com força total, como se eu sentisse meu coração rasgado em partes por uma segunda vez em alguns dias. Eu colapsei em lágrimas. Mais uma vez... todos à minha volta tinham me deixado para trás... 
Eles se foram... 
Me abandonaram... 
Todos aqueles que eu amava... me deixaram... 
Sozinho... 
- - - 
De uma montanha próxima, a garota olhava para o que restava de Tokyo-3. Alguns raros edifícios, mas principalmente um lago gigante. Novamente, os Lilims tinham conseguido se defender, mas a um custo como esse. O Evangelion Azul não mais existia. Agora, apenas o garoto restava. Ela estaria com ele logo. Os homens da SEELE tinham previsto isso. Tolos arrogantes... eles não entendiam nada. 
Zeruel tinha custado aos Lilims o seu corpo, sua posse menos importante. Uma coisa trivial, ele tinha sido facilmente perdido e facilmente resgatado. Mais eficaz tinha sido Arael, que tinha tomado de seu espírito, até que apenas pedaços rasgados sobrassem. Para triunfar sobre Armisael, foi necessário que os Lilims desistissem de sua própria vida. 
Ainda assim tudo ainda não havia sido decidido. Ela sabia que o teste final estava se aproximando, e o que era requisitado dela. Até agora os Lilims estavam invictos e em seu caminho. Mas a salvação para eles precisaria que dessa vez, eles finalmente não tivessem nada para assegurá-los. Ela imaginou se eles fariam o sacrifício necessário... 
Sua alma. 
Vagarosamente dentro dela, ela podia sentir a vontade, que tinha ficado mais e mais forte nos últimos dias. O momento estava quase chegando. 
"Apenas mais alguns dias. Alguns dias. Eu quero conhecer esse garoto... Ikari Shinji..." 
[Continua...] 
Da próxima vez: 
Capítulo 11 - O que é o Amor? 
A Quinta Criança aparece 
O Décimo-Sétimo Anjo ataca 
Uma nova amiga, um novo inimigo, uma escolha entre a vida e a morte 
Omake: 
- Cena 1 - 
"Você quer dizer que... você e Hotaru..." eu perguntei, sem certeza de que queria ouvir a resposta. 
Tá bom, eu queria saber. Mas aquele olhar em sua face... 
"Não se preocupe, Shin-chan. A única pessoa em quem nós pensmos é você." 
Eu não tenho certeza se eu deveria me sentir aliviado ou o quê, mas eu- 
Espere. 
Nós? 
"Nós?" eu perguntei. 
Ela corou violentamente com a pergunta, mas não respondeu. 
"Bem... tem eu, Asuka, Hotaru, Hikari..." 
E a lista foi indo. Parecia que todas as meninas da minha classe e metade da equipe de comando da NERV se juntava às sextas-feiras para o 'Dia de Apreciação da Terceira Criança'. 
Quem diria? 
- Cena 2 - 
"Foi a sua... primeira vez com outra garota?" eu perguntei. Que pergunta boba, obviamente Rei jamais- 
"Não." Veio a resposta monótona. 
O quê?! Ela... e outra mulher... antes de Hotaru? 
"Foi a Asuka?" 
"Não." 
"H-Hikari?" 
"Acho que não, Shin-chan." 
"Meu Deus." 
Meia hora depois, eu finalmente adivinhei. 
"Ah... Maya estava tão romântica naquela noite..." disse Rei, sonhando. 
Notas do autor: 
Eu sei, essa parte é mais ou menos uma adaptação do Episódio 23. Eu peço desculpas por isso, mas não havia muitas maneiras de mudar isso, especialmente a visita ao Dogma. É claro que eu fiz mudanças e adições, mas ainda é mais ou menos a mesma coisa. Eu não tenho certeza se o acidente da Unidade-01 aconteceu ali mesmo, mas eu resolvi assumir isso. 
Alguns podem notar que Ritsuko mostrou a Sala de Evolução Artificial, os restos dos Evas, e então o dummy plug no anime. Eu mudei a ordem porque parecia fazer mais sentido ter a Sala de Evolução Artificial seguida pela sala do dummy plug. 
Porque transformar o Shinji num clone, você poderia perguntar. Bem, primeiro, isso está de acordo com o que vimos acontecendo na série. Foi claro o suficiente. O resgate falhou, o LCL foi expelido, e Shinji só apareceu depois que Misato abraçou o seu plugsuit vazio e sua mãe o mandou de volta. Pode-se ouvir claramente um som de algo sendo expelido e depois um Shinji pelado, o núcleo da Unidade-01 iluminado. Embora isso não significa categoricamente que Shinji foi clonado, eu acho que não é apenas uma hipótese válida e uma boa idéia, mas também é original. Além disso, eu imaginei que tal fato ajudaria Shinji a aceitar as origens de Rei, já que eles seriam, de alguma forma, similares. Ele não poderia realmente culpá-la por ser algo que ele também era parcialmente. 
Sobre Kaworu? Eu admito, não seguiu como planejado. Eu queria ter mais aparições e mais interação com ela antes que ela aparecesse no Capítulo 11, mas as circunstâncias não permitiram. Estórias têm vida própria; às vezes, elas podem tomar um caminho diferente do que você planejou no início. 
Finalmente, Rei e Hotaru. Só para ter certeza de que alguns de vocês não fiquem confusos por causa do omake, nada aconteceu entre as garotas. Ambas ficaram do seu lado da cama enquanto... acariciavam a si mesmas em algum prazer solitário. Porqu~e falar *isso* alguns podem perguntar. Bem, é tudo por causa de um desafio. Kawaii Ka-Wing-chan (autor de alguns fics de Eva como "Asuka, Ex-Poser", "Lights out", etc.) me desafiou a usar em TOILI (eu acho que a idéia surgiu inicialmente como alguma piada, eu não me lembro com certeza como começou) uma cena onde Rei e Hotaru de fato fizessem sexo (ainda no contexto de Rei ensinando Hotaru sobre o assunto). Eu inicialmente usei uma cena assim, mas alguns dos meus pre-readers acharam que foi longe demais. Então eu aliviei. No entanto... eu vou colocá-lo nas estórias paralelas. (KW, o desafio era usá-la... você não me disse onde ^_^). 
--- 
Notas de tradução: 
Ohayo : Bom dia 
Alain Gravel 
rakna@globetrotter.qc.ca 
October 31st 1999 
Iniciado em 20/02/1999 
Primeira versão do pre-reader em 31/10/1999 
Segunda versão do pre-reader em 5/11/1999 
Versão final em 19/01/2000 
Revisões finais em 15/03/2000 

Nenhum comentário:

Postar um comentário