segunda-feira, 12 de julho de 2010

Aquela que eu amo é... Capitulo: 08


Continuando a história! Capitulo 8, Hajime!!!

Aquela Que Eu Amo É... 
Capitulo 8 - Lagrimas / Aquelas três palavras que eu devia ter dito
Escrito por Alain Gravel
Traduzido por Souryu-san souryu@fanfictionbr.cjb.net
Revisado por Ayanami-san ayanami@fanfictionbr.cjb.net 
Baseado em personagens criados e de copyright da GAINAX

http://www.geocities.com/Tokyo/Teahouse/2236/

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Capitulo 8 - Lagrimas / Aquelas três palavras que eu devia ter dito 

    Quando ele ouviu os passos se aproximando, Kaji Ryouji sabia que a hora tinha chegado. Ele tinha se tornado uma ameaça grande demais para a SEELE e a NERV para poder viver muito. A vontade de tentar e simplesmente escapar era muito grande, mas isso não ia resolver nada. Apenas com a sua morte ele poderia proteger aqueles que ele amava e com quem se importava.
    Ele abriu seus olhos e levantou a sua cabeça, então ele poderia ver os olhos da pessoa que ia mata-lo.
    "Oi. Você esta atrasado."
    O som de um tiro ecoou na sala.
    Kaji Ryouji desabou no chão. Seu assassino saiu sem dizer uma palavra...

                                - - -

    pela terceira vez, eu tentei resolver aquele estúpido problema de matemática... e falhei. Eu olhei para as duas garotas sentadas em frente a TV, 
tendo uma espécie de disputa de vídeo game. Uma disputa bastante barulhenta. Especialmente, já que Rei estava ganhando de Asuka quase todas às vezes.
    "Tome isso! Isso! E isso! Você esta morta Garota Maravilha!!!! YES!!! 
VICTORIA!!!"
    Mas, novamente, eu achei que foi uma benção, que Rei ganhasse de 
Asuka a maioria das vezes, já que a ruiva tendia a berrar mais alto quando ela ganhava.
    Eu murmurei algo. Infelizmente, isso não passou despercebido por uma certa 
Sohryu Asuka Langley.
    "Sobre o que você esta reclamando? Ainda preso naquele estúpido problema de matemática?"
    "Eu não posso me concentrar com todo o barulhos que vocês duas fazem! Podiam ao menos abaixar o volume da TV...?"
    "Não!"
    Eu suspirei.
    "De qualquer forma, porque vocês estão jogando aqui? Vocês não tem o seu próprio apartamento?"
    "Nos não temos uma TV."
    "Comprem uma!"
    "Nos não podemos pagar."
    "Mas vocês acabaram de gastar deus sabe quanto nestes novos vestidos que compraram a dois dias atrás!"
    "Yeah, e agora estamos quebradas..."
    eu suspirei, me deixando cair na mesa, vencido. Eu tentei olhar para Rei em busca de ajuda... sem chance, ela ainda estava grudada na TV. Eu realmente desejava que Asuka não tivesse mostrado pra ela aquele jogo...
    "Bem, se você não pode estudar, ao menos tente ser útil! Eu estou morrendo de sede! Você podia ao menos tratar melhor os seus convidados, baka!"
    Convidados!?
    "Hai, hai..."
    Porque eu vivia agüentando isso? Porque eu queria que Rei se divertisse. E também porque eu realmente não  ousava aborrecer Asuka. Então, eu fiz exatamente o que me foi dito e fui pra cozinha pegar algumas bebidas. Eu acho que estava tudo bem já que eu mesmo estava com sede. Ignorando toda a cerveja do lado do refrigerador da Misato, eu optei por um suco de laranja. Eu não me sentia a fim de fazer chá e nos estávamos sem refrigerante (Asuka e Rei tinham tomado tudo dois dias atrás, então a ruiva tinha achado mais fácil devastar a nossa geladeira do que ir comprar mais).
    Quando eu voltei par a sala com uma bandeja com três copos de suco, eu notei pela expressão de Asuka que ela obviamente tinha perdido *novamente* para Rei. Eu sorri; ao menos havia alguma justiça.
    "Aqui."
    Rei pegou o copo, finalmente se dando conta da minha presenca em uma hora ao me agradecer (o que deu a Asuka a oportunidade de nocautear o personagem de Rei no jogo). Então eu passei o copo pra Asuka 
Que felizmente bebeu tudo, agora que ela tinha ganhado. Logo logo, as duas garotas voltaram para o jogo. Eu suspirei e tentei voltar para meu trabalho. 
Foi quando Misato chegou. Quando Misato entrou no apartamento, eu imediatamente senti que havia alguma coisa errada.
    "Estou de volta."
    A maneira que ela disse estas palavras... Misato geralmente tentava ser alegre, mesmo que seu dia de trabalho fosse uma droga. Mas hoje... ela parecia cansada, quase a beira de um colapso. Mas o pior de tudo... seus olhos pareciam... sem vida.
    Nem Rei ou Asuka notaram isso, estando muito ocupadas com seu jogo. Elas provavelmente nem se deram conta de que Misato tinha chegado. E o volume da TV estava tão alto que eu mal ouvia a mim mesmo.
    A Major caminhou pra geladeira, mas quando as suas mãos iam abri-la, ela parou.
    Eu estava ficando preocupado. Não importa o que havia acontecido, ela sempre engolia uma cerveja depois do trabalho.
    Então, ela olhou para o telefone e notou que o indicador de mensagem estava piscando. Eu não havia visto ate agora. Pela primeira vez desde que ela entrou, apareceu uma expressão em sua face. Mas eu não gostei do que eu vi.
    Quase desastradamente, ela foi ao telefone e apertou o botão.
    Eu acho que nem Rei ou Asuka ouviram a mensagem. Elas teriam reagido. Mas eu ouvi.
    'Katsuragi, sou eu. Eu estou certo de que você esta ouvindo esta mensagem, 
depois de eu causar tantos problemas. Desculpe. Por favor, diga a Ritchan "eu sinto muito." E tem mais uma coisa pra você se preocupar: eu tenho estado plantando... flores. Eu apreciaria se você pudesse aguá-las. Shinji-
kun sabe aonde é. Katsuragi, a verdade esta com você. Não hesite. Vá em frente! Se eu puder ver você de novo, eu vou dizer aquelas palavras que eu nao pude dizer a oito anos atrás. Tchau.'
    Eu realmente não reagi a aquelas palavras de inicio. Eu entendo o significado que havia atrás delas, mas parte de mim nem mesmo considerava a possibilidade. Mas as lagrimas caíram na mesa de madeira, 
Como os soluços que escaparam dos lábios de minha guardiã antes de seus joelhos falharem e ela cair em cima da mesa... era impossível ignorar aquilo. Ela estava... chorando de uma maneira que eu não imaginava possível para ela.  Algo havia acontecido... certamente, alguma coisa havia acontecido... 
a Kaji...
    "Misato-san..."
    Eu corri para o seu lado, Rei e Asuka finalmente se dando conta do que estava acontecendo a sua volta.
    "Mein Gott! Misato, qual o problema?"
    Asuka estava provavelmente muito surpresa para fazer algo. Rei tinha um olhar espantado na sua cara, como se ela estivesse tendo dificuldade em entender e não sabia como reagir. Afinal de contas, Ela apenas conhecia o lado confiante e despreocupado da Major, Ela não conhecia a mulher sensível que Misato podia também ser. Estranhamente, eu toquei o ombro da Major com um dedo.
    "Misato-san..."
    "Shinji! Porque? PORQUE?"
    A sua reação me pegou de surpresa. Ela agarrou a minha camisa, me puxando para o chão, antes dela mesmo cair, então se encolheu em uma posição fetal, como uma criança teria feito.
    Eu já tinha visto muitas coisas na minha vida. Eu já havia estado no calor da batalha. 
Eu tinha visto pessoas se machucarem. Eu vi pessoas morrerem. Mas a coisa que mais me doía era ver uma mulher chorando.
    Eu odiava aquilo. E cada vez mais eu me odiava por me sentir incapaz.
    Eu olhei para esta mulher adulta no chão, chorando diante de mim, e eu não sabia o que fazer. Então eu simplesmente me ajoelhei e tomei ela em meus braços,
Esperando que isso ao menos desse algum conforto.
    "Esta bem Misato-san... esta bem..."
    Eu me sentia idiota dizendo isso, por que eu não sabia exatamente o que estava errado, mas eram apenas estas as palavras que vinham a minha mente. Mas estas palavras devem ter trazido algum conforto, já que Misato começou a se acalmar um pouco.
    Era estranho segurar ela desta forma. Misato era minha guardiã, a pessoa que sempre estava aqui quando eu tinha um problema, pelo menos quando ela estava sóbria. Geralmente, era ela quem tentava confortar os outros. E também, eu nunca tinha tido nenhuma mulher adulta em meus braços, apenas adolescentes. 
Pela primeira vez, eu me dei conta, por mais bonitas que elas pudessem ser, Rei e Asuka ainda tinham muito que crescer em comparação com Misato. Como eu tinha feito.
    Eu olhei para as duas garotas, que pareciam completamente perdidas, sem saber o que fazer nesta situação. Asuka tentou se aproximar,
Mas deu um passo atrás depois de dar um adiante. Ela nos olhou, então para uma confusa Rei, então para a porta, então para seus pés, então para nos de novo.
    "Shinji, você acha que você vai..."
    "Eu vou cuidar das coisas."
    Ela parecia um pouco culpada, mesmo que aliviada.
    "Eu... Eu... eu sinto muito ser tão inútil... eu apenas..."
    "Esta bem..."
    Asuka olhou para Rei e com um gesto silencioso, indicou a porta. Com um aceno da garota de cabelos azuis, ambas estavam fora do apartamento em um segundo.
    Bem, parecia que a tarefa de tomar conta de Misato era toda minha
Agora que as garotas tinham me deixado por minha própria conta. Eu não poderia realmente culpa-la. 
Eu me sentia perdido. Eu... eu era apenas uma criança... eu não sabia o que fazer.
    "Idiota... que idiota..."
    "Misato-san..."
    Nos ficamos lá por um tempo, talvez uns poucos minutos, talvez uma hora, eu não sabia. Toda vez que eu achava que ela ia parar de chorar, as lagrimas voltavam, com força total. Quando isso acontecia, eu apenas a segurava com mais força. Quando ela se acalmou, eu deixei meus dedos gentilmente fluir ao longo daquele cabelo púrpura escuro, esperado que isso tivesse algum efeito. Ele parecia suave sob a minha mão, quase como seda. Nem o cabelo de Rei ou Asuka era assim tão macio. Talvez fosse um efeito colateral de todo aquele LCL que estávamos sempre imersos. Ou talvez Misato tivesse apenas um cabelo mais suave.
    "Misato-san... talvez você deva deitar no seu quarto..." eu tentei sugerir, uma vez que ela pareceu se acalmar.
    "Sim..." ela mal suspirou.
    Eu a ajudei a se levantar e praticamente a carreguei para lá. Ela parecia incapaz de se manter em pe com suas próprias forcas. Não havia sido fácil. Enquanto que do tamanho de uma mulher media, Misato era ainda bem maior que eu, e ela era definitivamente mais pesada que Asuka. Mas era muito pra meu pequeno corpo carregar. Mas nos conseguimos. Com um pé, minhas mãos estavam muito ocupadas segurando ela, eu abri a porta corrediça. Eu nunca tinha entrado no quarto dela, era considerado fora dos limites, e eu não pude deixar de me engasgar ao ver a bagunça que estava lá. Eu tinha dado uma olhada antes, na época que eu tinha chegado em Tokyo-3. Nesta época, era quase uma bagunca. Mas agora... eu olhei com desgosto para as latas de cerveja, lixo e roupas caídos pelos cantos. Eu imaginei, era eu que era anormal por querer dormir em um quarto arrumado?
    Naturalmente, com a minha sorte, alguma coisa ia acontecer.
    O melhor que eu pude, eu tentei carregar Misato para a sua cama sem tropeçar em alguma de suas coisas. Contudo eu não tinha planejado que Misato pisasse numa lata de cerveja, com o seu já instável balanço, e caísse na dita cama, me arrastando com ela. Para completar isso... eu tinha caído em cima de uma mulher... *novamente*! Certamente, era uma maldição! Bem, ao menos desta vez, minhas mãos estavam na cama e não... em outro lugar.
    Eu conhecia algumas pessoas que não iam classificar isso como "má sorte".
    Ambos abrimos nossos olhos. Eu olhei para aqueles olhos castanhos escuros, vermelhos e inchados de tanto chorar. Ela me olhou. Então, eu senti um braço nas minhas costas, empurrando nosso corpos para junto, e lábios tocando os meus...

                                * * *

    Eu acordei de repente, quando eu senti alguma coisa acertar o meu estomago. Meus olhos se arregalaram de ver um pe ali. Eu olhei para o dono do pé. 
Misato estava ferrada no sono. Ela agora parecia em paz. Eu quase ri quando me dei conta que ela estava babando no travesseiro.
    Cuidando pra não acordar ela, eu levantei e sai do quarto. Felizmente, 
Ela tinha soltado a mão que prendia meu braço, me segurando junto a ela.
    Quando eu olhei para o relógio para ver as horas, eu me dei conta que era cedo da manha, mas não cedo o suficiente para voltar para a cama e tentar pegar no sono. Eu logo teria que ir para a escola. Eu bocejei. Eu provavelmente mal tinha conseguido dormir uma hora, talvez duas, noite passada. Eu podia sentir isso, e o dia seria bem longo... preguiçosamente, eu caminhei em direção ao banheiro. Talvez eu me sentisse melhor depois de um bom banho. Eu tinha bastante tempo para tomar um.

                                * * *

    Eu sai do banheiro e me vi cara-a-cara com Misato. Seu cabelo estava uma bagunça e ela vestia seu robe, claramente pensando em tomar um banho. Eu me senti bastante consciente enquanto a olhava, vestindo apenas uma toalha em volta da minha cintura. Estava clara para ambos, isso era uma situação embaraçosa. Nos olhamos um para o outro. Eu não pude deixar de me lembrar no que tinha acontecido a algumas horas atrás. Ela deve ter notado o vermelho na minha face, e ela mesma corou.
    Ao menos, ela parecia se sentir um pouco melhor, parte de mim notou.
    "Eu... eu... eu vou preparar o café. Você... você pode usar o banheiro agora," eu disse, numa tentativa de por um fim nesta situação constrangedora. 
então, eu corri para o meu quarto, o mais rápido que alguém segurando uma toalha em volta da cintura poderia.

                                * * *

    Quando Misato finalmente se juntou a mim no café da manhã, ela já estava completamente vestida no seu uniforme da NERV, como toda manha. Como sempre, sua mão procurou a geladeira, para sem duvida tomar a sua cerveja, mas eu a parei colocando a minha própria mão sobre a porta.
    "Eu acho que isso aqui vai ser mais útil," eu disse quando passei pra ela uma xícara de café. Eu já tinha bebido duas, mesmo detestando o gosto.
    Ela me deu um olhar estranho, mas pegou a xícara. Embora ela parecesse melhor que na noite anterior, ela parecia um pouco incomodada. Ela provavelmente não tinha força suficiente para protestar.
    Café numa mão, ela sentou e tomou alguns goles do liquido marrom. Sem muito mais que uma palavra da minha parte, eu coloquei um prato de torradas na frente dela e peguei um pouco de geléia da geladeira.
    "Isso é tudo o que nos temos para o café da manhã?"
    "Eu não estava a fim de cozinhar."
    Misato acenou concordando. Quando eu me sentei, ela me olhou, nervosamente.
    "Shinji... sobre a noite passada... bem... eu... eu não estava pensando direito..."
    "Tudo bem, Misato-san."
    Eu sorri para ela, um sorriso amistoso. Ela pareceu um pouco surpresa pela minha reação.
    "Nenhum problema, certo?"
    Eu fiz uma pausa por alguns segundos. Eu deveria mesmo dizer isso?
    "Alem do mais... aquilo foi... agradável..."
    Eu sabia que eu estava super corado, agora. Misato me encarou, olhos arregalados, então ela mesma corou, antes de sorrir de leve. Era bom ver ela desta maneira.
    "Contanto que nos não contemos a Asuka e Rei, nos vamos poder continuar vivos," eu acrescentei, antes de eu mesmo rir um pouco.
    Nos realmente não falamos muito depois disso. Nos ainda estávamos provavelmente um pouco desconfortáveis. E eu podia dizer que Misato estava perturbada por algo mais. Quando eu notei que ela parecia olhar para o telefone, eu me preocupei que ela desabasse em mais um mar de lagrimas. Isso pelo menos,
Ate ouvirmos um "quack" vindo do lado dela.
    "Pen-Pen!"
    O cheiro da torrada deve ter acordado o agora faminto pingüim. 
Antes que eu pudesse me levantar e encontrar alguma coisa para ele comer, Misato 
Pegou ele e o segurou forte em seus braços, da mesma forma que uma garotinha seguraria um ursinho de pelúcia. Ela parecia tão triste... isso não poderia continuar assim. Alguma coisa a estava machucando e eu sentia... que ela precisava partilhar esta dor.
    Eu estava relutante em fazer a pergunta que estava na minha mente. Eu tinha uma idéia do que a estava despedaçando. Mas... eu não me atrevia a perguntar. Ignorância é uma benção. O que você não sabe não pode machuca-lo. E... e eu não queria me machucar...
    "O que... que aconteceu... Misato-san? Foi ... foi... foi Kaji?"
    Droga! Eu tinha perguntado!
    Ela estremeceu ao ouvir o nome de Kaji, o segurou o pássaro de águas mornas mais apertado. Lagrimas silenciosamente abriram caminho pelo seu rosto e caíram sobre as penas do animal.
    As próximas palavras foram muito difíceis de dizer. Bem, nao havia volta agora...
    "Então... é realmente sobre Kaji. Eu... eu ouvi a mensagem noite passada. 
Ele esta... esta... morto?"
    O choque apareceu na sua face. Ela quase derrubou Pen-Pen. Ela o colocou de volta no chão, provavelmente para evitar o risco disso acontecer novamente.
    "Shinji-kun... você... você não precisa saber..."
    Ela olhou para mim, seus olhos quase implorando.
    "Eu... eu não posso... eu não posso fugir da verdade... não para sempre".
Alem disso, eu já sei. Mas... mas se você não me contar... eu sei que parte de mim vai... apenas... tentar... evitar a verdade..."
    Ela olhou para mim, sua expressão mudando de surpresa para orgulho. 
Apesar das lagrimas que continuavam caindo, ela me deu um tímido mais caloroso sorriso, antes de se tornar mais seria. Seus lábios se entreabriram, ela tentou falar, mas falhou. Apenas da segunda vez eu ouvi um fraco, "sim. Ele esta morto."
    Ate agora, eu tinha feito um bom trabalho evitando a verdade. Era tão fácil. Kaji era um homem tão extraordinário. Ele sempre parecia calmo, no controle. Ele sempre parecia ter uma solução para cada problema. Kaji, morto? Isso não parecia fazer sentido. Ate agora, eu tinha evitado a verdade. Mas agora que Misato tinha dito estas palavras...
    "Eu entendo."
    Estas eram as únicas palavras que eu consegui dizer. Enquanto eu falava, eu me dei conta do quanto seca estava a minha garganta.
    Primeiramente, o que eu senti não era como eu esperava. Eu conhecia tristeza. Eu sabia como parecia. Mas eu não me sentia assim. Eu me sentia mais... vazio. Isso era perturbador.
    "Você esta certa?"
    Parte de mim ainda não queria acreditar. Talvez fosse por isso que eu estava me sentindo desta maneira.
    Misato balançou a cabeça. Calmamente, eu levantei a minha xícara para tomar um gole.
    "Misato... e de Kaji que nos estamos falando... ele não pode... ele não pode estar morto..."
    "Shinji. Ele esta morto. Eu sei."
    O tom da sua voz. A  inconfundível dor em sua face.
    Isso, eu não podia ignorar.
    Primeiro Mãe.
    Junto com ela, Pai.
    E agora Kaji...
    Minha xícara de café caiu na mesa, parte do liquido morno espirrando na minha camisa. Eu sentia uma dor familiar no meu peito, e lagrimas familiares correndo dos meus olhos embaçados.
    "Shinji!"
    Que estranho... agora, era ela que se levantava e me tomava em seus braços, apesar de suas próprias palavras.
    "Shinji..."
    Era uma coisa boa que Asuka estava agora vivendo com Rei. Ela provavelmente se sentiria enojada de me ver chorando assim. Ela provavelmente teria alguma coisa pra dizer tipo, "você é um homem ou o que?"
    Não, eu estava errado. Eu sabia o quanto ela gostava de Kaji. Ele tinha sido a sua primeira paixão ele também tinha sido a coisa mais próxima de um pai que ela tinha tido. Ele tinha sido a coisa mais próxima que eu tinha tido de um pai, então eu podia saber como ela se sentiria. Se ela estivesse aqui... ela ainda estaria mais machucada que eu.
    "Não vamos... não vamos contar para Asuka..." eu consegui dizer depois de uns instantes.
    "Você esta certo," concordou Misato, ainda me segurando. "Vamos apenas inventar alguma historia a respeito dele me deixar e voltar para a Alemanha. Isso vai servir... por enquanto."
    "Sim... nos podemos contar a ela... quando tudo isso estiver acabado. Com o tempo... ela não vai pensar tanto nele..."
    Misato me soltou. Ambos tentamos limpar nossas lagrimas. Ela logo teria de trabalhar e eu teria de ir para a escola. A dor e o súbito vazio em nossas vidas ainda existia, mas de alguma forma, eu acho que ambos nos sentimos um pouco melhor. Apenas um pouco.
    "Você esta bem, Misato-san?"
    "Não... mas... um dia eu estarei..."
    Houve uma longa pausa. Nenhum de nos sabia o que dizer.
    "Ele disse que se nos encontrássemos novamente, ele iria dizer aquelas palavras que ele devia ter dito a oito anos atrás. Eu me arrependo de não ter eu mesma dito elas. Shinji... se você ainda não disse... diga a Asuka e a Rei que você ama elas. Você nunca sabe... quando aqueles que você ama... não mais estarão aqui..."
    Eu concordei. Aquelas três palavras. 'Eu Te Amo'. Eu nunca tinha dito elas corretamente a nenhuma das duas.
    Eu me levantei e estava indo me trocar e pegar a minha bolsa escolar quando uma questão me ocorreu. Uma questão simples, mas de muito impacto.
    "Porque?"
    Misato olhou para mim por um tempo. Ela parecia hesitante em dizer. 
Eu penso que ela estava pensando nas palavras certas.
    "Ele era um risco de segurança."
    Ouvindo estas palavras, apenas uma conclusão veio a minha mente. Minhas mãos se fecharam em punhos.
    "Foi ELE que deu a ordem para mata-lo?"
    "A ordem veio de seu gabinete."
    "Eu entendo."
    Eu olhei para os meus punhos, quando eu comecei a notar que meus dedos estavam ficando machucados. Minhas juntas estavam brancas. Eu abri minhas mãos, assim eu não me machucava. Mas a raiva ainda estava aqui.
    "Eu não sei como, eu não sei quando, mas ele vai pagar..." eu disse em uma voz baixa que provavelmente preocupou Misato, julgando pela expressão que ela tinha.
    Ela veio ate mim e colocou uma mão em meu ombro, e a outra afagou meu cabelo. Isso teve um efeito calmante. Repentinamente, eu me dei conta de que nunca estivemos tão próximos como estávamos agora.
    "Não faca nada apressado, Shinji. Eu vou cuidar do trabalho do Kaji. Eu vou procurar a verdade. E uma vez que eu a encontre, nos veremos o que podemos fazer com ela."
    "Misato-san..."
    Eu olhei para ela. A dor tinha deixado seus olhos, sendo substituída por um propósito e resolução.
    "Prometa-me que você."
    Novamente, ela me envolveu em um abraço, um mais alegre.
    "Eu irei, Shinji-kun. Eu irei..."
                                * * *     

    "Então, qual era o problema de Misato?"
    Havia preocupação e também curiosidade na voz de Asuka. Eu não estava surpresa de que ela perguntaria. Mas eu não esperava isso tão cedo. Nos mal tínhamos deixado o complexo dos apartamentos para ir para a escola.
    "Kaji deixou ela," eu disse secamente. Rapidamente, meu cérebro começou a trabalhar em uma desculpa.
    Asuka parou mortificada em seus passos.
    "O que?!"
    "Eu acredito que ele disse que Kaji-san rompeu seu relacionamento com a Major Katsuragi."
    Asuka olhou para Rei.
    "Eu sei o que ele disse! Eu... eu apenas não consigo acreditar..."
    "Acredite. Eles não estão mais juntos. E provavelmente nunca estarão."
    Isso não era completamente verdade, mas tampouco era completamente mentira.
    "Mas... mas... eles se amam tanto! Porque?" Perguntou Asuka.
    "Parece que ele não a amava o tanto quanto nos achávamos. Assim que ele conseguiu o que ele queria... ele apenas a descartou."
    O choque apareceu no rosto de ambas as garotas quando elas registraram estas palavras. Eu me senti mal dizendo estas coisas sobre Kaji. Mas era pro bem da Asuka. Estranho. Era tão fácil mentir quando a mentira causava menos dor que a verdade.
    "Ele conseguiu... o que ele queria...?"
    Aparentemente, minha mentira não era tão convincente assim. Asuka teve problemas aceitando ela.
    "Eu acredito que ele quis dizer que Kaji-san não sente mais nada pela  
Major Katsuragi já que ele fez sexo com ela, " Rei convenientemente explicou.
    Certamente Asuka tinha entendido o que eu tinha dito. Afinal de contas, supostamente ela era mais inteligente que eu. Contudo, entender algo era uma coisa, aceitar era outra completamente diferente. Felizmente, Rei's 
As palavras de Rei tiveram muito impacto, o que fez este  "fato" mais fácil para 
Asuka aceitar.
    "Isso não pode ser..."
    Qualquer um que conhecesse Asuka saberia que suas emoções era bem intensas. Então, não foi nenhuma surpresa quando a sua expressão mudou de choque e descrédito para ódio crescente em apenas uns segundo.
    "O bastardo! Quando eu vir ele, eu vou... eu vou... eu vou despedaça-lo!
E pensar que eu achava e;le tão legal...!"
    "você não vai ver ele de novo."
    "Uh?"
    Rei olhou para mim, um olhar suspeito em sua face. Eu acho que deixa escapar coisa demais com estas ultimas palavras. Ela agora conseguia ver entre as mentiras. Mas Asuka não pareceu entender. E isso era o que importava.
    "Ele foi para a Alemanha," eu menti novamente.
    "Que covarde! Humpf!"
    Dito isso, Asuka correu em direção a escola. Eu acho que ela precisava lidar com aquela raiva.
    "Não conte a ela," eu simplesmente disse a Rei.
    Ela simplesmente acentiu concordando.
    A verdade e algo precioso. Mas também pode machucar. Às vezes é melhor sentir raiva que dor. Nem sempre, mas às vezes, é. Poucos dias depois, eu me dei conta que tinha sido uma sabia decisão esconder isso dela...

                                * * *

    Quando eu me deixei cair na cama, eu suspirei de alivio. Que dia... 
a escola tinha sido legal, e não tinham havido tantos testes na NERV hoje, mas mesmo assim, eu estava morto de cansado. Eu tinha me preocupado quando Misato pulou o jantar, mas eu me senti melhor quando ela chamou, para dizer que ela estaria trabalhando ate tarde. Ela provavelmente estava tentando se ocupar. Eu não podia culpa-la. Eu não conhecia Kaji tão bem quanto ela e a dor ainda estava aqui. eu me encontrei inconscientemente chorando algumas vezes hoje.
    Misato... ela era meu oficial superior, meu guardião. Mas ela sempre estava lá quando eu precisava dela. Eu pensei em todas as vezes que ela me deu conselhos. Todas as vezes que ela tentou me ajudar, mesmo que eu não quisesse ninguém a minha volta. Ela era como... uma mãe.
    Então eu pensei na noite anterior. O quanto vulnerável ela tinha estado. Como tinha sido segurar ela em meus braços, tão perto. Como ela tinha parecido perdida, agarrando meu pulso, implorando para não deixa-la sozinha no quarto.
    Um monte de caras provavelmente ia ficar com inveja. Ela era linda afinal de contas. Mesmo que ela fosse descuidada com a casa.
    Não apenas ela era meu superior, e a coisa mais próxima do que eu tinha de uma mãe agora, mas ela também era uma mulher, eu compreendi.
    Eu me lembrei do momento em que nos dois caímos na sua cama. 
Como ela tinha nos mantido juntos. Como nossos lábios tinham se tocado e como tinha sentido, quando eu me derreti naquele beijo...
    Eu fechei os meus olhos e tentei tirar aqueles pensamentos fora da minha cabeça. Droga! Eu já amava Rei e Asuka! Eu não podia pensar em Misato desta forma!
    Foi apenas um simples beijo, droga!!!
    Eu tentei me concentrar na figura materna que Misato era pra mim. 
Isso era tudo que eu queria, tudo que eu ansiava. Alguém que se importasse comigo... mas não da mesma forma que Rei ou Asuka.
    Mantendo esse pensamento em mente, eu lentamente emergi num sono, mostrando um sorriso de contentamento.

                                - - -

    Kaji Ryouji gemeu enquanto lutava pra se levantar. A dor em seu peito era quase insuportável. Quase. Ele enfiou o dedo no buraco da sua camisa e pode sentir a bala presa na placa de metal que ele tinha colocado ali. Isso tinha parado a bala, mas o impacto tinha provavelmente quebrado algumas costelas. Ao menos, ele estava grato de que a bala tinha sido endereçada ao seu peito e não a sua cabeça. Mesmo assim, ele lamentava não ter usado alguma coisa mais sofisticada como uma vestimenta a prova de balas.
    Dolorosamente, ele levantou. Ele não sabia quanto tempo tinha estado inconsciente, então ele tinha de agir antes que a equipe de limpeza chegasse.
    De dentro de um lugar oculto perto dali, Kaji pegou um saco de lixo meio cheio bem como o corpo de um agente de segurança da NERV que tinha previamente tentando atirar nele. O homem também era um agente infiltrado da SEELE. Era irônico que mesmo "morto" ele ainda faria um trabalho em favor de Ikari.
    Cuidadosamente, Kaji pegou a carteira do homem e trocou com a sua. 
Ele também removeu a roupa preta e os óculos escuros que a figura usava. O homem tinha uma complexão física e cabelo similar ao dele. Mas um problema continuava. Do saco de lixo, Kaji pegou uma arma equipada com silenciador. Descarregar um pente inteiro na cabeça do corpo foi o suficiente para torna-la identificável. E a bagunça que ele fez apenas ia apressar a turma de limpeza a dar um fim no corpo o quanto antes. Ele quase riu, pensando em todas as vezes que as pessoas quiseram tirar o sorriso de Kaji Ryouji da sua cara. Ele achou que eles teriam aprovado. 
    Do seu saco, Kaji tirou uma roupa preta, similar a que o homem usava. Ele colocou, bem como os óculos escuros do homem. Ele colocou a roupa suja de sangue do homem no saco, para se livrar dela na próxima lixeira. Sorrindo, o homem antes conhecido como Kaji Ryouji caminhou para longe do corpo, sabendo que agora ele poderia facilmente deixar o quartel general da NERV. Contudo, o sorriso na sua face era falso.
    "Eu sinto muito impor isso a você Katsuragi," ele pensou, "mas esta é a única forma que eu posso proteger você..."
    Ainda havia muito que fazer. Agora que ele estava morto, ele poderia tentar localizar a SEELE. Apenas uma sombra seria capaz de encontrar uma organização que reinava nas sombras. E se ele encontrasse uma maneira de eliminar a SEELE,
então Katsuragi e as crianças estaria salvas.
    "Tome cuidado, Katsuragi. Proteja esta cidade e as crianças o melhor que puder. Se eu for bem sucedido, talvez nos encontremos novamente..."



[Continua...]



Na próxima vez:
Capitulo 9 - Mente despedaçada / eu estou aqui por você.


Omake:

    "Você esta um pouco atrasado, não é?" Kaji perguntou enquanto sorria maliciosamente. Misato detestava aquele sorriso. Então ela atirou no peito dele e foi embora.
    "Isso foi por me usar." Ela disse seriamente.
    Depois que ela saiu, Kaji se levantou e tirou a roupa de Kevlar que ele estava usando. Ele cuidou do assunto, (i.e. - trocando o seu corpo com o de um agente morto, e depois ele usou o banheiro; Misato podia ser realmente assustadora) e caminhou em direção a porta mais próxima.
    "Oh, hey Hyuuga." Kaji sorriu.
    "Você nunca vai machucar a Major novamente!" Hyuuga gritou.
    *BLAM!*
    Kaji caiu no chão. Satisfeito com o seu trabalho, Hyuuga voltou para o comando da NERV. Depois que ele saiu, Kaji levantou-se, tirou seu protetor de estomago de kevlar, e saiu pela porta.
    Quando ele entrou no elevador, ele trombou com Asuka.
    "Asuka-chan! Como você esta?"
    "Isso é por me seduzir!!!"
    *BLAM!*
    Kaji se contorceu antes de cair no chão. Satisfeita como seu trabalho, Asuka saiu do elevador e foi em direção a sua casa, para a comida de Shin-chan. Vendo que ela tinha ido, Kaji levantou-se e removei seu suporte atlético de Kevlar. Ele duvidava que ele teria filhos alguma vez, depois disso.
    Depois de se esgueirar pra fora do Geofront, Kaji decidiu que uma bebidinha seria uma boa idéia. Então ele foi pro bar mais próximo.
    E ficou confortável e pediu uma cerveja. Então ele notou a companhia ao seu lado.
    "Pen-Pen?"
    "Wark!"
    *BLAM!*
    Kaji caiu no chão mais uma vez. Satisfeito, Pen-Pen acabou a sua cerveja, então a de Kaji, e saiu. Depois dele sair, Kaji se levantou e tirou as suas meias de Kevlar. Agora, Kaji não estava feliz. então ele rapidamente rumou para o aeroporto, parando apenas numa 7-11 para pegar um ho-ho e uma revista pornô.
    "Kaji-san!" Shinji exclamou.
    *BLAM!*
    Shinji desabou no chão. Melhor prevenir que remediar, Kaji pensou enquanto saia pro aeroporto.

(Meu obrigado novamente a Godsend777 por este pequeno pedaço)


Notas do autor:

Eu assustei alguns de vocês, não? Eu estou certo de alguns de vocês imaginaram se Shinji e Misato... Pervertidos! ^_^

Agora, a grande questão, quem atirou em Kaji? Tendo Misato feito o trabalho traria muito drama a este capitulo, e podia muito bem explicar a reação dela quando ele ouvia a mensagem (sem Shinji, ela provavelmente ficaria no chão da cozinha ate a manha). mas... por mais que eu tentasse explorar esta possibilidade... eu tinha problemas em arranjar uma justificativa razoável para ela fazer isso. Então, como na serie, eu deixei a questão aberta. Naturalmente, alguns de vocês podem se perguntar o que Misato 
Exatamente quis dizer por "Shinji. Ele esta morto. Eu sei."... (eu sou mau ou o que?)

Sobre o destino de Kaji... bem, eu tenho de admitir, eu peguei a idéia de uma serie de fanfics que eu realmente amo e admiro. Eu não vou dizer qual, pra não dizer um spoiler a algumas pessoas. Eu acho que é uma grande historia e a ironia de tudo se encaixava perfeitamente. E também, me deu algumas possibilidades para o caso de eu encontrar alguns problemas com o fim.



Alain Gravel
rakna@globetrotter.qc.ca
16 de Setembro de 1999

Iniciado em 20 de fevereiro de 1999
Primeira versão do pre-reader finalizada em 7 de setembro de 1999
Segunda versão do pre-reader finalizada em 16 de setembro de 1999
Versão final feita em 10 de outubro de 1999
Revisão final em 14 de marco de 2000


quinta-feira, 8 de julho de 2010

Aquela que eu amo é... Capitulo: 07


Olá companheiros!
Chegamos aqui a primeira prata da casa. Sim, digo que o capitulo 07 o é por que eu fucei, visitei sites vencidos no internet archive, mas não achei de maneira alguma este capitulo. Como o encontrei? Em um Backup que fiz faz um tempão! Então se preparem, por que esse capitulo é do caramba!!!

Aquela Que Eu Amo É...
Capítulo 7 - Despertar
Escrito por Alain Gravel
Auxiliado por Darren Demaine

Traduzido por Ayanami-san
Revisado por Souryu-san

Baseado em personagens criados e possuídos pela GAINAX.

http://www.geocities.com/Tokyo/Teahouse/2236/

(*) Veja as notas de tradução para detalhes

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Capítulo 7 - Despertar

Parte 1: A escolha de um homem.

    A cama era confortável, mas eu mal tinha conseguido dormir. Eu tinha 
gasto a maior parte da noite olhando para esse novo teto desconhecido. 
Eu tenho certeza que eu poderia ter dormido em qualquer outro lugar que 
não fosse um quarto de hotel. Eu poderia ter pedido a Kaji ou a Kensuke 
para me deixar ficar por uma noite. Misato estava pronta a me deixar 
dormir no meu velho quarto até o dia seguinte. Mas eu não queria pedir 
ajuda a nenhum deles. Eu não pertencia mais àquele mundo.
    As duas horas que eu dormi estavam longe de serem relaxantes. Em 
meus sonhos, a minha mente ficava repassando o que as pessoas tinham 
passado a chamar de "Acidente da Unidade-03". No entanto, havia uma 
pequena e assustadora diferença: em meus sonhos, não era a Unidade-03 
que o meu EVA destruía. Era um Touji gigante (ninguém nunca disse que os 
sonhos deveriam fazer algum sentido). Eu acordei gritando e molhado de 
suor. Eu provavelmente acordei as pessoas no quarto ao lado também.
    Se o meu sono tinha sido invadido por pesadelos, as horas que eu 
passei acordado foram dominadas pela misteriosa garota de cabelos cinza.
    'Pilotar o EVA só pode te trazer dor. A Quarta foi apenas a primeira 
a se machucar. A Primeira ou a Segunda podem ser a próxima. Você deve ir 
enquanto ainda há tempo. De outro modo, você será destruído junto com 
aqueles que você ama.'
    Eu não sabia quem era aquela garota. Devia ser apenas alguma pessoa 
maluca. Ainda assim... eu não podia parar de pensar no que ela tinha 
dito. Provavelmente porque eu sabia que ela estava certa. Se eu ficasse, 
eu acabaria machucando Rei e Asuka assim como a Touji.
    Kaji uma vez tinha me dito que o que eu chamava de sorte era outro 
nome para talento. Mas a sorte pode acabar às vezes. Já por duas vezes 
eu tinha sido um inútil. Primeiro contra o Décimo Segundo Anjo, agora 
com o Décimo Terceiro.
    O fato era que... eles não precisavam de mim. Comigo fora do 
caminho, Asuka não sentiria a necessidade de se mostrar e ser a melhor. 
Seus resultados poderiam apenas melhorar. E Rei não sentiria a 
necessidade de fazer algo estúpido como me proteger como tinha feito 
contra o Quinto Anjo. De fato, se eu fosse embora, ela usaria a Unidade-
01 no meu lugar. Os testes tinham provado que isso era possível. Mesmo 
com as melhorias, a Unidade-00 continuava sendo a menos confiável de 
todas. E também... até agora, a Unidade-01 tinha de alguma forma... me 
protegido. Agora... ela poderia proteger Rei. Além disso, se eu não 
tivesse tomado o lugar dela quanto o Terceiro Anjo atacou, ela teria 
sido a piloto da Unidade-01. Eu tentei não pensar que se eu não tivesse 
pilotado ela teria morrido.
    Sim, eu não era mais necessário. Eles tinham Rei, eles tinham Asuka, 
e eles tinham aquela coisa...  ele devia se chamar dummy plug... eles 
não precisavam de mim. Eu apenas ficaria no caminho, iria machucá-los. 
Era melhor assim...
    Minha decisão estava tomada, eu deixaria Tokyo-3 e nunca retornaria. 
Era o que eu tinha que fazer, o que eu deveria ter feito muito antes.
    Então, porque isso me parecia tão errado?

                                * * *

    Eu não pude deixar de me sentir incomodado ao andar pelos tão 
familiares corredores da enfermaria da NERV. Felizmente esta era a 
última vez que eu via essas paredes. Eu sabia que Misato tinha 
esperanças de que isso não fosse assim. Era provavelmente por isso que 
ela não tinha pego meu cartão de identificação de volta nem desativado 
os direitos de acesso que eu tinha a essas instalações. Mas a minha 
decisão era final: eu não mais tinha um lugar aqui. O fato era... eu 
nunca havia tido.
    Eu acompanhei os números das portas passando a cada passo que eu 
dava. Parte de mim queria simplesmente fugir. Não seria a primeira vez. 
Mas alguma coisa me impelia a seguir em frente. Alguma obsessão mórbida, 
talvez.
    Eu congelei quando cheguei ao meu destino. Quarto número 107. Eu 
queria que a minha mão abrisse a porta, mas ela se recusava a fazê-lo.
    Eu... eu não poderia fazê-lo. Mas não podia ir embora também.
    Deus, eu odiava isso.
    Respirando fundo, eu entrei no quarto de Suzuhara Touji.
    Aliviado, eu percebi que Touji parecia estar dormindo. A sua 
condição tinha se estabilizado, mas ele ainda estava conectado a alguns 
aparelhos. Então eu percebi quão irregular a forma de seu corpo parecia 
debaixo dos lençóis. Eu tentei desviar o olhar, mas alguma coisa bem 
fundo em mim me forçou a olhar bem para os lugares onde deveria haver 
uma perna e um braço.
    Eu fiz isso.
    Silenciosamente, as lágrimas vieram.
    Eu não podia agüentar mais. Eu tinha que ir embora. Mas quando eu 
alcancei a porta, todo o meu corpo congelou ao som de uma voz familiar, 
ainda que fraca e cansada.
    "Shinji... você veio aqui se desculpar... antes de fugir?"
    "Touji!"
    Eu estava relutante em me virar. mas quando eu o fiz, eu não vi o 
olhar cheio de ódio que eu esperava, mas sim uma face sorridente. Ele 
parecia tão pálido quanto Rei e parecia realmente exausto. Mas ele 
estava sorrindo.
    "E então?"
    "Eu não vou me desculpar. O que eu fiz é imperdoável."
    "Ah... e... você vai embora... certo?"
    Eu era assim tão previsível que todo mundo sabia o que eu planejava 
fazer?
    "Sim."
    Ele virou sua cabeça para olhar para o teto. Eu percebi que aquilo 
devia ser um tremendo esforço olhar para mim.
    "Souryu está certa... você é mesmo... um idiota."
    Ele falou, sem tirar os olhos do teto. Mesmo dito de forma tão 
suave, aquelas palavras me acertaram.
    "Misato-san veio. Ela... ela me explicou tudo. Shinji... não foi sua 
culpa..."
    Misato tinha falado com Touji?
    "É sim! Foi o meu EVA que fez isso com você!"
    De leve, ele balançou a cabeça.
    "Você não estava no controle..."
    "Não importa..."
    Eu não podia agüentar olhar para ele mais. Ali, naquela cama, 
machucado por minha causa. Ele tinha quase morrido por minha causa. Eu 
podia ver isso em seus olhos. Ele tinha chegado bem perto de nos deixar. 
Envergonhado, Eu olhei para o chão. Nós dois ficamos em silêncio por uns 
bons momentos.
    "Isso significa que eu sou um assassino?"
    Eu olhei para ele com descrédito. O que ele queria dizer?
    "O EVA que eu estava pilotando... ele... ele matou um monte de gente 
em Matsushiro... não foi? Ele poderia até ter matado... Rei e Asuka. 
E... se o seu pai... não tivesse tomado aquela decisão... poderia ter 
matado você também..."
    "Não é a mesma coisa!"
    "Ah não?"
    Eu... eu realmente não sabia o que responder. Eu sabia que o que ele 
tinha dito fazia sentido. Mas... parte de mim se recusava a acreditar 
naquilo. Eu acho... que parte de mim precisava assumir a culpa... porque 
era o único meio que poderia justificar a minha decisão de ir embora.
    "O seu EVA foi tomado por um Anjo..." eu respondi, sem muita 
convicção no entanto.
    "O seu... por um computador", replicou Touji, simplesmente. "É a 
mesma coisa. Nós dois estávamos presos... em... 'coisas'... que não 
podíamos controlar."
    Eu sabia que isso era verdade... mas...
    "Eu poderia ter tentado te resgatar ao invés de não fazer nada e 
desistir!"
    Sim. Esta razão daria conta...
    "Como? Como você acha que você poderia ter me salvado? Aquele Anjo 
tinha arrebentado... tanto com Souryu como com Ayanami... em questão de 
segundos. Ele tinha te pego de jeito... muito fácil também..."
    Ele estava certo. Mas ainda...
    Eu estava a ponto de dizer alguma coisa quando ele continuou. 
Parecia que ele apenas tinha parado para recuperar o fôlego e reunir 
seus pensamentos.
    "Você teve dias para pensar sobre isso... você... você imaginou 
algum jeito que... você pudesse... ter me salvado?"
    Eu tinha pensado muito nisso. Situações em que eu poderia tê-lo 
salvado se passaram na minha mente. Se eu tivesse feito isso... se eu 
tivesse tentado aquilo... mas... não, eu nunca realmente tinha 
conseguido encontrar uma resposta para aquela pergunta. Envergonhado, eu 
permaneci em silêncio.
    "Imaginei", disse Touji depois que todo um minuto tinha passado, 
vendo que eu obviamente não tinha resposta para dar.
    "Não importa."
    Eu não deixaria que ele me convencesse que o que tinha acontecido 
era insignificante! Eu não deixaria! Era minha culpa, droga! Porquê ele 
tinha que ser tão legal comigo?!
    "Eu não sou útil para ninguém. Se eu ficar, eu vou acabar machucando 
mais pessoas!"
    "Não, se você ficar... você vai ter que enfrentar o que aconteceu... 
e é disso que você tem medo... machucar a si mesmo. Se você for 
embora... você irá machucar todos que se importam com você. Misato. Rei. 
Asuka. Eu."
    Maldito Touji! Porquê ele tinha que ser tão brilhante de repente?!
    "Niguém liga..."
    "Não é verdade e você sabe disso."
    Dessa vez, pareceu que Touji estava bravo. Eu imagino que ele teria 
gritado, se não estivesse tão fraco. Os anestésicos provavelmente também 
não ajudavam. Mas novamente ele levantou a  cabeça para olhar para mim. 
Ele podia parecer fraco, mas eu podia ver o fogo brilhando em seus 
olhos.
    "Rei e Misato... elas esconderam a verdade de mim..."
    "Elas não queriam que você se machucasse..."
    "Eu poderia ter te impedido!"
    "Não. Eu tinha minhas razões."
    Estranhamente, um pequeno sorriso apareceu em sua face. Ele deixou 
sua cabeça cair no travesseiro novamente. Era estranho. Por um momento, 
ele quase pareceu sereno.
    "Eu sei... sua irmã... novamente, minha culpa..."
    "Não diga isso..."
    "Mas é verdade!"
    Touji suspirou.
    "Eu bateria em você... se eu pudesse. Você ainda não entendeu... que 
eu já te pedoei? Que Mari nem sequer acha que você seja responsável pelo 
que aconteceu? Não foi sua culpa. Foi culpa daqueles malditos Anjos."
    "Eu estava pilotando!"
    "Pela primeira vez... sem nenhum treinamento... e aquela coisa 
idiota entrou em berserk... imbecil..."
    Eu olhei para ele, sem saber o que dizer. Touji simplesmente olhou 
de volta. Todas as minhas ilusões estavam indo embora, mas eu queria que 
elas ficassem...
    "O fato é... sem você daquela vez... todos nós poderíamos ter 
morrido. A minha irmã está machucada... mas está viva. Assim como eu..."
    Eu não sabia o que dizer. Então eu apenas olhei para o chão. Era 
mais fácil do que olhar para ele. Eu acho que nós ficamos assim por 
alguns minutos. Eu não sabia realmente o que me compelia a ficar. Talvez 
eu estivesse apenas com medo de ir embora sem que ele me dissesse que eu 
poderia ir.
    "Shinji... eu vou ser honesto... o que aconteceu é uma merda. Mas... 
se perder um braço e uma perna... é o preço a pagar... então é um bom 
negócio. Além disso... Misato me prometeu que vai usar toda a influência 
dela... pra conseguir o melhor atendimento médico, pago pela NERV. Eu 
posso até mesmo estar de pé e andando antes de você perceber!"
    Vendo-o ser tão legal... não, eu não podia suportar. Isso não era o 
que eu esperava que acontecesse.
    "Gomen!" (*)
    Isso foi tudo que eu consegui dizer antes de fugir.

                                * * *

    Quando eu saí da enfermaria, Misato tentou uma última vez me 
convencer a ficar. Parece que ela tinha esperado que eu saísse. Eu fiz o 
meu melhor para desiludi-la e simplesmente dizer que a minha decisão era 
final. Eu agradeci a ela por tudo que ela tinha feito por mim, disse meu 
adeus e fui andando, sem me virar. Eu ignorei completamente a sua oferta 
de me levar até a estação de trens. A minha relação com a NERV e todas 
as pessoas que eu tinha encontrado lá estava acabada. Eu voltaria ao 
apartamento, pegaria algumas coisas, e iria. Com alguma sorte, as 
garotas estariam na escola, então eu não teria que dizer adeus.
    Mas era essa a decisão correta?
    Porque eu continuava questionando a minha própria decisão? Pela 
primeira vez eu tinha finalmente tomado uma decisão e tinha decidido me 
firmar nela. Eu não queria repetir os erros do passado.
    Eu nunca quis pilotar o EVA para começo de conversa e tinham-me dito 
para ir embora. Mas momentos depois, eu estaria sentando no entry plug 
pela primeira vez de muitas.
    Então eu tinha decidido que nunca mais iria pilotá-lo. Mas eu não 
entrei no trem que deveria me levar embora de Tokyo-3. E eu pilotei de 
novo.
    Desta vez eu não mudaria de idéia! Eu não mudaria!
    Eu não era mais um garotinho... desta vez, eu agiria como um homem e 
faria o que eu tinha decidido.
    Não era aquilo o que Asuka teria feito? Quando ela tinha uma idéia 
na cabeça, ela jamais voltaria atrás em suas decisões. Ela era muito 
cabeça-dura para isso. Se ela podia fazê-lo, porque eu não poderia? Rei 
nunca pareceu duvidar de suas decisões também. Mas... tinha ela alguma 
vez tomado alguma decisão sozinha?
    Então eu lembrei que Asuka constantemente tomava decisões erradas. 
Atacar o Sétimo Anjo por si só foi uma delas. O que ela tinha feito no 
lago tinha sido outra.
    Seria melhor apegar-se às suas idéias ou mudar de idéia se a atual 
parecer tola?
    O que seria a coisa madura a fazer?
    Eu estava andando havia muito tempo, perdido em pensamentos, quando 
eu repentinamente ouvi as tão familiares sirenes de emergência de Tokyo-
3. Eu congelei. Um Anjo estava atacando...
    Quase que por reflexo, eu me virer para correr à NERV. Mas então eu 
me lembrei de minha decisão. Eu não tinha mais um lugar ali. Eu não 
tinha que lutar mais...
    Rei e Asuka iriam...
    Isso seria mais que suficiente. Certo?
    Eu fiquei eu suspense por alguns longos minutos, idéias em conflito 
travando batalha em minha mente. Então eu vagarosamente caminhei para o 
abrigo mais próximo.

                                * * *

    Quando os sons da batalha começaram, eu estava sozinho, rosto contra 
os meus joelhos, com uma criança assustada. Eu provavelmente parecia 
patético.
    'Porquê você é tão medroso?'
    Mais que isso... eu era um covarde.
    'Souryu está certa... você é mesmo... um idiota...'
    Eu era fraco. Inútil.
    'Desculpe, mas a irmã mais nova dele se machucou na batalha. Ele tem 
seus motivos.'
    Meu único talento era pilotar o EVA. E nem mesmo isso eu conseguia 
fazer direito.
    O som de artilharia pesada aumentou. A batalha realmente parecia 
perto. Teria o Anjo entrado do GeoFront?
    O que isso importava para mim, de qualquer forma?
    O que era aquela necessidade de sair deste lugar? Ir aonde? NERV?
    "Papai! Eu estou com medo!"
    Eu não sei porque, mas aquelas palavras me acordaram para o que 
estava acontecendo por perto. Eu via gente, principalmente crianças, 
soluçando e chorando. Eu via mães abraçando seus filhos, tentando 
confortá-los. Eu via casais abraçados, tentando conseguir força um com o 
outro, em vão. Eu via medo, dor e desespero. E conforme eu me 
conscientizava dos sons da batalha, eu passei a dividir o medo deles.
    Estranho, estar em um EVA era menos assustador que isso.
    Mas eu estava seguro aqui, certo? Eu não estava arriscando a minha 
vida...
    Não... outros estavam arriscando suas vidas ao invés de mim... como 
eu era patético...
    De repente, o abrigo inteiro foi sacudido como se estivesse no 
epicentro de um terremoto. Uma das paredes e parte do teto pareceram 
literalmente explodir, jogando pó e metal para todos os lados. Mesmo com 
o alto som da explosão eu podia ouvir gente gritando e chorando. Quando 
a poeira baixou, eu abri os olhos que eu tinha fechado por reflexo e vi 
um homem jogando bem na minha frente, com um longo fragmento de metal 
atravessando seu peito. As pessoas no abrigo tentavam fugir, em pânico. 
Então eu percebi. Por um momento, meu coração parou de bater.
    Onde havia uma parede agora estava a cabeça do Evangelion Unidade-
02.
    Não! Asuka! ASUKA!!!
    Como um possesso, eu corri para a saída, jogando as pessoas para o 
lado se necessário, sem me importar com nada exceto que eu precisava 
sair dali. Eu precisava ver...
    Eu quase caí de joelhos quando saí do abrigo. A Unidade-02, ou 
melhor o que tinha sobrado dela, estava de pé, imobilizada, com um 
mostro gigante passando por ela indo em direção à NERV.
    Isso não era possível. Asuka não poderia ter perdido desse jeito. 
Não Asuka.. ela era melhor piloto que eu...
    "Asuka... ASUKA!"
    Se ela estivesse ainda sincronizada com o EVA quando ele perdeu sua 
cabeça...
    Não... não... NÃO!!!
    Eu não tinha nem sequer me desculpado a ela por toda a dor que eu 
tinha causado...
    "Ei você! O que você está fazendo? Você quer morrer?"
    Eu olhei para a fonte dessas palavras. Percebi que elas não eram 
dirigidas a mim, mas a uma garota. Uma garota com cabelo cinza em um 
vestido leve branco. Ela também estava olhando para a Unidade-02. Então, 
ela virou sua cabeça para olhar para mim. Os olhos vermelhos!
    "Você!"
    Ela apenas sorriu. Um sorriso quente. Totalmente fora de lugar neste 
momento de absoluto caos. Então ela foi andando para longe e começou a 
desaparecer no meio das pessoas que corriam por suas vidas. Eu estava a 
ponto de correr atrás dela, quando alguém me chamou.
    "Shinji-kun?"
    Uma voz familiar. Eu me virei para ver Kaji, aparentemente regando a 
sua pequena plantação de melancias. Eu olhei novamente para o lugar onde 
eu havia visto a garota, mas ela não podia mais ser vista. Quase 
hipnotizado, eu fui até Kaji. A visão da Unidade-02 inutilizada ainda 
tinha um efeito atordoante na minha mente.
    "Kaji-san. O que você está fazendo aqui?"
    "Essa é a minha fala. O que você está fazendo aqui, Shinji-kun?"
    "Eu não sou mais o piloto da Unidade-01. Eu decidi que nunca mais 
vou pilotar novamente."
    "Sei. Bem, respondendo à sua pergunta, como o meu bico foi 
descoberto, eu perdi a minha posição no campo de batalha. Então aqui 
estou, regando..."
    "Num momento como esse?!"
    Eu não podia acreditar. Trabalhando em seu jardim bem no meio do 
ataque de um Anjo?
    "E tem hora melhor? Embora eu prefira estar entre os melões da 
Katsuragi, é aqui que eu quero estar quando morrer."
    "Morrer?"
    "Sim. Diz-se que se um Anjo entra em contato com Adão, que está 
dormindo abaixo de nós, toda a humanidade será aniquilada pelo Terceiro 
Impacto. Tal destino só pode ser evitado pelo Evangelion, que tem o 
mesmo poder de um Anjo."
    Eu não sabia o que dizer. Ninguém nunca tinha me explicado isso 
dessa forma. Eu sabia que nós tínhamos que lutar contra os Anjos. Eu 
sabia que eles nos atacavam. Mas eu não sabia porquê. Eles queriam matar 
todos os seres humanos?
    Isso não mudava tudo?
    De repente, à distância, a Unidade-00 emergiu do subsolo. Ela não 
parecia muito bem. Ainda faltava um braço e os reparos não pareciam 
terminados. Quando ela começou a se mover, eu percebi um fato 
importante: Rei pilotava aquele EVA. Eu não sabia como eu poderia ter 
certeza a esse respeito. Talvez fosse apenas uma impressão. Talvez fosse 
o jeito como o EVA se movia. Mas eu sabia que ele era pilotado por Rei.
    "Unidade-00! Rei!"
    Isso era loucura! Ela não tinha nem um rifle...
    "Eu imagino porque Ikari não a mandou na Unidade-01. Eu duvido que 
ele tenha planejado as coisas desse modo..."
    Meu coração ameaçou explodir em meu peito enquanto eu via o 
Evangelion correr contra o Anjo. Ele segurava alguma coisa em sua mão, 
mas eu não sabia o que era. De repente, o EVA se chocou com o Campo AT 
do Anjo, as faixas amarelas hexagonais claramente visíveis a olho nu. 
Por alguns longos segundos, a Unidade-00 se esforçou para penetrar no 
Campo AT do Anjo. Quando ela conseguiu, ambos o robô e o monstro foram 
engolidos por uma luminosa explosão que me cegou por um momento. Eu 
senti uma rajada de ar quente que quase me derrubou. 
    Quando a fumaça se dissipou e eu podia ver novamente, a Unidade-00 e 
o Anjo estavam ainda de pé, ambos se um arranhão. Então, o braço do 
Anjo, que parecia algum tipo de faixa afiada, se extendeu e atingiu a 
Unidade-00 diretamente na cabeça. O EVA caiu no chão, um líquido 
vermelho-sangue escorrendo de sua grande ferida.
    "REI! Rei-chan..."
    Eu balancei minha cabeça, tentando não pensar no pior. Certamente 
ela estava bem...
    "Você entende porque ela fez isso?"
    Essas palavras me libertaram de meu transe e eu movi meus olhos da 
forma deformada da Unidade-00 para Kaji.
    "Provavelmente porque meu pai mandou."
    "Não, eu não acredito. Eu acho que você cortou as cordas da 
marionete."
    Eu não podia acreditar nisso. Ela o tinha obecedido quando ele pediu 
a ela que não me contasse nada sobre Touji. Mas ela tinha tido outras 
razões...
    "Rei, Asuka... elas não lutam apenas porque é o dever delas. Elas 
também lutam por suas vidas. E, mais importante, pelas vidas daqueles 
que elas amam, Eu tenho certeza... que elas lutam por você. Para te 
proteger. É uma pena que você não tenha podido protegê-las."
    Essa palavras atingiram o seu objetivo. Quando eu olhei novamente 
para a Unidade-00, uma onda de culpa me engoliu. Eu quase vomitei ao 
pensar que Rei e Asuka poderiam ter se machucado seriamente, só porque 
eu não tinha estado lá...
    Mas eu tinha ido embora para que elas não se machucassem...
    Talvez... aquela decisão... tivesse sido um erro...
    "Eu te invejo, Shinji-kun. Eu não posso fazer nada além de regar 
aqui. Mas você... há algo que você pode fazer, algo que somente você 
pode fazer agora. Pense por si mesmo e decida por si mesmo."
    Kaji olhou para mim. Eu acho que nunca o vi tão sério em toda a 
minha vida.
    "Esta é a escolha de um homem. O que você vai escolher, Ikari 
Shinji?"
    Meu cérebro trabalhava duramente, enquanto eu relembrava do que 
todos tinham me dito hoje. Desta vez, eu não podia mais me esconder da 
verdade.
    Eu olhei para a figura do Anjo conforme ele se dirigia flutuando ao 
Quartel General. Tudo em volta eram sons de pessoas machucadas e 
assustadas tentando encontrar abrigo. Eu estava indo embora porque eu 
não queria causar dor a mais ninguém. Sem mim os outros poderiam se 
concentrar em suas tarefas. Eu não seria uma distração para eles.
    Mas eu tinha ido embora e as pessoas continuavam se machucando. 
Rei... Asuka... a minha decisão não as tinha salvado como eu tinha 
esperado. De fato, por eu não ter estado ali para lutar ao lado delas, 
poderia até mesmo... poderia...
    'Se você não pilotar, estará condenando Rei e Souryu à morte.'
    Palavras de meu pai, meu maior medo. Eu me lembrei de como ele tinha 
dito essas palavras: casualmente, calmamente. Como se estivesse falando 
do clima. Eu nunca pensei que essas palavras pudessem machucar tanto. 
Bem, não era nada comparado a ver as Unidades 00 e 02 agora. Tinham as 
palavras dele sido proféticas? Eu tinha rejeitado o único bom conselho 
que meu pai tinha me dado? Maldito! Essa decisão era minha, não dele!
    Um flash de luz do Anjo e uma explosão de água assinalaram a 
destruição de um dos navios de guerra do lago. Eu via soldados com o 
uniforme da NERV atacarem o Anjo. Eles sabiam que não poderiam fazer 
nada com suas armas, mas eles nunca desistiam, nunca mostravam o medo 
que eles deveriam estar sentindo. Eles lutavam por alguma coisa, eu 
podia sentir. Eles não tinham medo. Eu tinha ido embora porque eu tinha. 
Então *eu* não seria machucado pelas minhas ações.
    Os olhos do Anjo brilhavam. Homens morriam.
    E minha mão se fechou em um punho forte.
    "Eu acho que entendi..."
    "Entendeu?"
    Eu assenti, e então, sem me importar com o que estava acontecendo, 
sorri, pela primeira vez em um bom tempo.
    "Eu tenho que ir!"
    "Eu tenho um jipe aqui perto. Eu te levo até a NERV."
    Eu poderia ter agradecido a ele, mas eu sabia que palavras não eram 
necessárias. Ele provavelmente estava tão agradecido quanto eu.
    Conforme eu via o Anjo avançando para o Quartel General, eu comecei 
a perceber o quão desesperadora a situação era. Eu só esperava que nós 
pudéssemos chegar a tempo. De outro modo, se Kaji estava certo, eu nem 
mesmo teria tempo para me sentir culpado por ter deixado as garotas 
sozinhas contra aquele monstro.

                                * * *

    "Continuem. Mais uma vez, tentem a partir de um-zero-oito."
    De seu posto bem acima do EVA, o Comandante parecia se esforçar para 
ativar a Unidade-01. Mas aparentemente, todos os seus esforços eram em 
vão. Eu não sei exatamente o porquê. Não importava de qualquer maneira. 
Tudo que era importante era que eu era provavelmente a última esperança 
da humanidade. Não venha me falar de responsabilidades. Mas pela 
primeira vez, eu não sentia realmente o peso que isso sempre tinha tido.
    "Eu vou pilotar!"
    O Comandante olhou para baixo, para mim. Pelo que eu pude perceber, 
ele se mantinha calmo, sob controle. Eu tinha que admitir, mesmo que eu 
o odiasse, eu tinha que admirar a sua calma numa situação como essa.
    "Porque você está aqui?"
    Não havia emoções na sua voz. Eu não fiquei muito surpreso, mas eu 
também não me importava realmente."
    "Eu sou o piloto do Evangelion Unidade-01. Esse é o meu motivo. É 
isso o que eu posso fazer."
    Essa era uma verdade que eu tinha entendido. Quando eu pilotava, eu 
era capaz de defender aqueles que eu amava.
    "Isso é tudo que você tem a dizer?"
    "Cale a boca e me deixe pilotar! Não há mais tempo a perder!"
    O homem não disse uma palavra. Mas o plug que estava no EVA foi 
retirado e substituído pelo meu. Eu sorri vitorioso, mesmo sabendo que o 
meu pai também tinha um sorriso similar, por razões completamente 
diferentes.

                                * * *

    Eu quase não tinha conseguido. Foi por pouco. Quando eu literalmente 
atravessei a parede da sala de controle principal, eu realmente entendi 
as palavras de Kaji. Eu agora sabia o objetivo do EVA. Quando eu salvei 
a vida de Misato, eu percebi quão privilegiado eu era por ser capaz de 
proteger aqueles com quem eu me importava. E pela primeira vez na vida, 
pilotar não pareceu uma obrigação. Tão estranho quanto poderia parecer, 
eu gostei. Eu sentia o que eu acredito que Asuka sentia quando pilotava 
o seu EVA: orgulho e excitação.
    Quando eu lutei contra esse monstro gigante e feio que era o Anjo, 
eu me tornei alheio a tudo à minha volta. Somente por um instante eu 
senti a dor da perda do braço esquerdo do meu EVA. rapidamente abafada 
pelo calor da batalha. Eu não pensei realmente quando berrei algumas 
ordens para Misato. Eu estava quase no piloto automático. 
    Uma vez que estávamos do lado de fora do Quartel General, eu deixei 
de me conter. Do lado de fora, não havia ninguém que poderia se ferir, 
além de mim e do Anjo. Quando eu passei a literalmente despedaçá-lo, eu 
provavelmente parecia possesso. Com essa luta, eu deixei todo o meu ódio 
e a minha ira saírem. 
    Aquele Anjo tinha machucado Rei e Asuka!
    Ele tinha tentado matar Misato!
    Os Anjos!
    Eles tinham sido responsáveis pelos ferimentos da irmã de Touji!
    Eles tinham machucado Touji!
    Por causa deles nós tínhamos que lutar!
    EU OS ODIAVA!
    Eu estava quase arrancando a cabeça do Anjo fora quando de repente, 
tudo ficou em silêncio com exceção de um som. O timer das baterias 
internas. Eu olhei para os dígitos, 00:00:00
    Eu estava sem energia.
    Não!
    De repente, eu senti o EVA ser levantado do chão e ser jogado longe. 
Pareceu que ele tinha atingido o chão bem forte e eu estava 
impressionado de não ter me machucado no impacto. Mas eu rapidamente me 
lembrei do que estava acontecendo e como as coisas pareciam ruins.
    "Mova-se, mova-se, mova-se. Mova-se, por favor mova-se. Não tem 
sentido se você não se mover agora!
    Então, eu ouvi uma explosão e senti o EVA ser sacudido. Eu sabia que 
ele tinha recebido um dano sério. A explosão foi seguida por um som 
regular, rítmico. O Anjo estava batendo no EVA. Ele sacudia com cada 
impacto. Eu podia ouvir sons de coisas quebrando e se eu não estivesse 
entrando em pânico, eu teria percebido as rachaduras que apareciam acima 
da minha cabeça. Freneticamente, eu puxei os controles, sem resposta. O 
EVA continuava parado. Eu logo morreria. Então, se o que Kaji tinha dito 
era verdade, toda a raça humana me seguiria. Eu tinha falhado, de novo. 
Eu tinha falhado em proteger aqueles que eram queridos para mim. Eu 
senti como se estivesse afundando num oceano de desespero.
    "NÃO!"
    Em lágrimas, eu puxei ainda mais rápido e com mais força os 
controles. Meus braços doíam, mas eu não me importava. 
    "Mova-se, mova-se, mova-se, mova-se, mova-se, mova-se, mova-se, 
mova-se, mova-se, mova-se, mova-se, mova-se, por favor mova-se! Se você 
não se mover agora, todos irão morrer! Eu... Eu não posso deixar isso 
acontecer. Eu.. Eu não posso... EU não posso deixá-los sozinhos agora! 
Então, por favor... MOVA-SE!"
    De repente, eu congelei. Eu podia ouvir um som. Algo como... um 
coração batendo? Então, foi como se eu tivesse sido engolido por um 
oceano de escuridão. Somente dias depois eu soube o que tinha 
acontecido.
    Eu tinha sido absorvido pelo EVA.

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Parte 2: Segunda Chance / Que a melhor garota vença!

    Um colo.
    Um colo muito familiar. Rei? Asuka? Misato? Não. Outra pessoa...
    Mãe!
    Mãe!!!
    Eu estou indo mãe!
    Uma voz. Uma voz fraca. Uma voz familiar. Mas não a da mãe...
    'Shinji! Me devolvam o meu Shinji! Me devolvam...'
    Mi... Misato?
    'Você deve voltar.'

                                * * *

    Quando eu acordei do que pareceu o sono mais relaxante que eu jamais 
tinha tido, eu murmurei quando percebi o teto sempre familiar da 
enfermaria da NERV. Pelo menos eu tinha sorte, a luz estava apagada 
então meus olhos foram poupados da dor de olhar para elas.
    "Não de novo," eu tentei discutir, mas a minha garganta e boca 
estavam secas e as palavras de fato não saíram.
    Desacostumado, eu tentei entender a minha situação. Eu me sentia 
estrannho, mas sem dor. Eu levantei meus braços. Bom, nenhuma agulha de 
sensor, então eu provavelmente não tinha me machucado demais. No 
entanto, eu percebi que os meus sentidos estavam meio embaçados, como se 
eu estivesse em um EVA mal sincronizado. EU abri e fechei a minha mão 
várias vezes, movendo o meu braço. Parecia ficar melhor a cada momento. 
Bom. Aparentemente, o único problema real que eu tinha era uma terrível 
dor de cabeça. Parecia muito com a dor de cabeça que eu tinha tido 
depois da batalha contra o Terceiro Anjo.
    Anjo...
    Com esse pensamento, tudo voltou a mim. Eu estava lutando contra o 
Anjo. Então a força acabou. Então... eu não tinha certeza do que tinha 
acontecido. Eu não podia me lembrar. Eu estava vivo, então eu imaginei 
que ele estava morto. Mas como? Os EVAs de Rei e Asuka tinham sido 
severamente danificados.
    Rei! Asuka!
    Eu me senti um pouco tonto quando tentei me sentar na cama, mas 
rapidamente isso passou. Eu tinha que sair daqui! Eu tinha que saber se 
elas estavam bem!
    "Então, você finalmente decidiu acordar, hein? Já era hora."
    Aquela voz!
    "Touji?"
    Parte de mim se sentiu com medo, mas eu sabia que não havia mais 
nada o que temer. Eu sabia que ele não me odiava.
    Ele estava em uma cadeira de rodas, eu um canto do quarto. Com 
alguns empurrões, ele se aproximou da cama.
    Para minha surpresa, Touji parecia completamente diferente desde a 
última vez que eu o tinha visto. Ele não mais parecia fraco, mas sim 
muito energético. Ele parecia mais saudável e estava vestindo as suas 
roupas esportivas de sempre. Por um momento, eu imaginei se eu não havia 
estado dormindo, ou melhor ainda se eu não tinha acabado de acordar de 
um terrível pesadelo, quando eu percebi que ele ainda estava sem dois 
membros. Eu o encarei completamente perdido. Ele me deu um sorriso 
agradável. Ele devia ter adivinhado que a minha gargante estava seca, 
pois me passou um copo de água que pegou de uma pequena mesa próxima à 
cama. Aquele copo foi realmente bem-vindo.
    "Você nos assustou, sabe," ele disse simplesmente.
    O que... o que esta acontecendo aqui?
    "Como...?"
    Eu realmente não sabia o que dizer. Eu estava confuso demais. E... 
eu não podia deixar de me sentir intimidado por ele.
    "Qual é a última coisa de que você se lembra?"
    Eu tentei pensar. Havia tantas imagens... mas eu não podia realmente 
ver nenhum sentido nelas.
    "O... o Anjo... eu estava sem energia... então... eu não sei..."
    Touji assentiu, como se tivesse esperado essa resposta.
    "Isso foi há um mês atrás."
    "Um mês!"
    Eu não podia acreditar! Um mês? Eu tinha me machucado tanto que eu 
tinha perdido a consciência por um mês inteiro? Eu não sentia dor 
alguma. O que estava acontecendo?
    "Sim. Um mês inteiro. E me deixe dizer uma coisa, foi um longo mês 
para todos aqui. Você realmente nos assustou!"
    "Assustei? O que... o que aconteceu? O Anjo...?" eu perguntei. Então 
eu me lembrei da razão pela qual eu tinha tentado me levantar. "Rei?! 
Asuka?! Elas estão bem?!"
    "Se acalme. Elas estão bem. Elas mal se machucaram."
    Eu suspiei. Que alívio!
    Elas mataram o Anjo?"
    Eu não sabia como isso era possível, mas era a única possibilidade 
que eu enxergava.
    "Não. Você entrou em berserk de novo."
    "Ah..."
    Aquilo provavelmente explicava porque eu não me lembrava de nada. 
Pelo menos, ainda não. Mas ainda... isso não explicava a minha 
inconsciência por um mês inteiro.
    "Você nos deixou doentes de preocupação! Nunca mais faça isso de 
novo!"
    Touji fechou seu punho. Ele quase parecia... prestes a chorar?
    O que diabos tinha acontecido comigo?!
    "O que...? O que aconteceu?"
    "Do jeito que eu entendi... você... desapareceu... dentro do EVA. 
'Absorvido' eu acho que foi o que a Misato disse. Eles tiveram que te 
puxar pra fora. Mas... eles quase... falharam. Você quase foi 
perdido..."
    Desaparecido dentro do EVA. Isso era possível? Mas... parecia tão 
familiar. Eu tinha a sensação... que eu já tinha ouvido algo sobre isso 
antes. Não, eu vi acontecer. Mas... quem? Quando? Não, eu estava 
provavelmente errado. Eu nunca tinha visto o EVA antes de vir para 
Tokyo-3. Nunca... nunca...
    "Sei..."
    Nós olhamos um para o outro em silêncio. Eu não podia deixar de 
olhar para onde ele deveria ter um braço e uma perna...
    "Touji... eu..."
    "Não se desculpe. Você entende que não foi sua culpa, certo?"
    Eu assenti.
    "Então está acabado. Além disso, em uma semana, eu vou ser mandado 
para Tokyo-2 para tentar alguns órgãos artificiais. Misato mexeu uns 
pauzinhos pra isso. Ela sentia que a NERV me devia isso. Eu também vou 
ver Mari de novo! Ela está na reeducação! Ela está andando de novo 
Shinji!"
    Sua irmã... andando...
    "Isso é tão bom! Eu estou tão feliz por você!"
    E eu estava. A irmã de Touji estaria bem. E Touji... podia ter uma 
chance de viver uma vida normal depois de tudo... eu senti algumas 
lágrimas rolarem pela minha face.
    "Meu Deus, não seja um molóide!"
    "Desculpe..."
    Eu estava simplesmente tão feliz. Eu me levantei e abracei o meu 
amigo o melhor que eu pude.

                                * * *

    "Ah! Você acordou," disse a enfermeira ao entrar no quarto. Eu tinha 
usado o botão de chamada para alertar a enfermaria um minuto antes.
    "Sim. E eu gostaria de sair agora."
    Embora Touji tivesse me assegurado que Rei e Asuka estavam bem, eu 
sentia a necessidade de me certificar pessoalmente disso, de vê-las. E 
eu não queria esperar mais nem um minuto.
    "Sinto muito Ikari-kun, mas eu preciso de autorização para isso."
    Droga!
    "Você recebeu ordens de mantê-lo aqui?" perguntou Touji. Pelo que 
ele tinha me dito, ele próprio tinha tentado sair, mas Misato tinha se 
oposto a isso, preocupada que ele não pudesse se cuidar sozinho ainda. 
Touji tinha discutido no começo, mas acabou concordando que ela estava 
certa.
    "Não, Suzuhara-kun. Mas nós não recebemos autorização de deixá-lo ir 
também."
    "Mas ele está fisicamente bem, certo?"
    "Sim, ele está."
    "Então, eu acho que você vai ter que ligar para o seu pai, Shinji."
    Confuso, eu olhei para Touji. Ele simplesmente sorriu.
    "É claro que o Comandante vai ficar possesso se ele for acordado no 
meio da noite. Bem, eu tenho certeza de que se Shinji falar com ele, 
talvez você consiga manter o seu emprego Senhorita..."
    O que diabos ele estava dizendo? De repente eu percebi que a 
enfermeita parecia assustada.
    "Eu.. eu volto num instante com roupas para o Ikari-kun..."
    A enfermeira saiu rapidamente.
    "O... O que aconteceu aqui?"
    "Todo mundo aqui tem medo do seu pai. Eu achei que fosse funcionar."
    Então eu finalmente entendi o que Touji tinha tentado fazer.
    "Obrigado!"
    
                                * * *

    Não demorou muito até que a enfermeira trouxesse um uniforme da 
NERV. Ele era meio grande para o meu corpo pequeno, mas eu não pedi por 
mais que aquilo. Eu só queria sair dali. E foi o que eu fiz bem rápido 
depois de dizer adeus para Touji.
    Eu visitei o apartamento de Misato primeiro, para encontrá-lo 
completamente deserto, com exceção de Pen-Pen. Asuka provavelmente tinha 
ido dormir na casa de Hikari. No meu caminho para fora, eu resmunguei ao 
quase cair ao tropeçar em uma das latas de cerveja vazias de Misato. O 
apartamento estava uma bagunça. Os únicos quartos limpos pareciam ser o 
meu antigo e o de Asuka. Eu achei isso meio estranho, dado que Asuka era 
quase sempre tão ruim quanto Misato no que se referia a arrumação da 
casa, mas eu rapidamente afastei esse pensamento. Eu ainda tinha que 
visitar Rei.
    Silenciosamente, eu entrei no apartamento de Rei. Era ainda muito 
cedo da manhã e eu não queria acordá-la. Eu tinha que ter certeza, no 
entanto, que o que Touji tinha me falado era verdade. Gentilmente, eu 
abri a porta de seu quarto e dei uma olhada. Eu podia ver uma forma 
debaixo dos lençóis e uma massa de cabelo azul no travesseiro. Sem 
dúvida, era Rei. Satisfeito, eu fui para o meu quarto. O impulso de me 
juntar a ela e abraçá-la forte era grande, mas eu o suprimi. Eu não 
queria perturbá-la e não sabia como agir perto dela.
    'Algumas verdades podem machucar se uma pessoa não está preparada 
para ouvi-las.'
    Eu tinha dito isso para Rei. Ela tinha apenas me escutado. Então 
como eu podia ficar bravo com ela? Como eu podia odiá-la por tentar me 
proteger? Eu teria que me desculpar com ela. Eu a tinha afastado quando 
tudo que ela tinha tentado fazer foi tomar conta de mim. Ela tinha feito 
tanto por mim, oferecido tudo para mim, corpo, coração e alma, e eu 
tinha retribuído o seu amor agindo como um canalha. Eu só podia esperar 
que ela eventualmente me perdoasse.
    Meio que perdido em pensamentos, eu realmente não percebi onde eu 
estava indo, então quando eu entrei no outro quarto, eu não percebi a 
pilha de livros, sapatos, roupas e outras coisas que jaziam no chão, bem 
atrás da porta. Pego completamente desprevenido, eu perdi o equilíbrio e 
caí, em cima de algo que era duro em alguns pontos e macio em outros. Eu 
entrei em pânico quando eu o senti se mover, e grunhir. Eu abri meus 
olhos (parecia que eu os tinha fechado durante a queda) para ver os 
olhos azuis de Asuka olhando direto para mim.
    'Ei, baka Shinji. Você quer se tornar um comigo? Você quer que nós 
nos tornemos apenas um corpo e apenas uma alma? É tão maravilhoso. Eu 
estou te dizendo. Vamos!'
    Uma imagem borrada. Asuka, nua, sorrindo, deitando-se sobre mim...
    De onde aqueles pensamentos tinham vindo? Isso parecia quase... uma 
memória. Mas não estava claro, como se eu tivesse me lembrado daquilo 
como parte de um sonho.
    "PERVERTIDO!"
    Isso me tirou de meu breve delírio. Eu logo percebi que Asuka não 
estava mais olhando para mim mas sim mais para baixo, para seu peito. Eu 
segui o seu olhar para notar que a minha mão direita estava... bem em 
cima de seu seio.
    Ah não! Não de novo!
    Estou morto.
    Eu tentei me levantar, mas Asuka veio com a mesma idéia e nossas 
cabeças bateram uma na outra. Inconscientemente, a minha mão apertou com 
força.
    "Eek! MORRA!!!"
    Eu não sei como, mas Asuka conseguiu ficar por cima de mim e me deu 
um soco na cara, seguido pelo seu joelho naquele lugar. Isso quando as 
luzes se acenderam, mostrando Rei na porta. Pelo menos, eu acho que era 
Rei, porque parece que eu ouvi ela e Asuka dizerem em sincronia perfeita 
"Ah Meu Deus! Shinji!" antes de desmaiar.

                                * * *

    "Ei! Eu disse que sinto muito, tá? Estava escuro, eu ainda estava 
meio sonolenta e ele não estava usando as roupas de bobo de sempre!"
    "Eu acho que a sua reação é compreensível..."
    "Claro que é!"
    "No entanto, eu não sei como você não o reconheceu. Eu sei que eu 
teria."
    "Estava escuro!"
    "Talvez. Mas os olhos dele são os mesmos no escuro. Eu acho que eles 
são até mais atraentes..."
    "Eu não sei do que você está falando."
    "É realmente uma pena."
    "O que você quer dizer? O porque você está ficando vermelha?!"
    "cabe a mim saber e a você descobrir."
    "Ora sua..."
    Quando eu recobrei meus sentidos, eu percebi que Rei e Asuka estavam 
discutindo. Imediatamente, isso me pegou de surpresa. Não era uma 
discussão violenta como elas já tinham tido algumas vezes. Parecia 
mais... duas boas amigas discutindo. Mas isso não era possível. Rei e 
Asuka mal falavam uma com a outra. Elas? Agindo como amigas? 
Impossível."
    "Eu espero que você não o tenha danificado."
    "Danificado? E porque você está ficando vermelha de novo?!"
    "A... parte... onde você... acertou ele com o seu joelho..."
    "Oh... Rei! Sua pervertida!"
    "Eu só sei o que quero..."
    Essa era Rei falando? Eu sabia que ela era usualmente ousada comigo, 
mas com Asuka...
    De alguma forma, essas palavras dispararam um flash de memória, 
similar ao que eu tinha tido anteriormente com Asuka. Mas desta vez, eu 
me lembrei de uma Rei nua.
    'Shinji. Você quer se tornar um comigo? Você quer que nós nos 
tornemos apenas um corpo e uma alma? É tão maravilhoso.'
    Isso era estranho. De onde essas impressões vinham? Talvez eu 
devesse ter ficado na enfermaria apesar de tudo...
    "... e eu sei que você também quer isso."
    "Não fale sobre isso! Meu Deus, você é ainda pior que os três 
patetas juntos!"
    "Parece que o nosso Shinji recobrou a consciência. Ou pelo menos 
parte dele. Aparentemente, eu me preocupei demais. Pelo que parece, ele 
está perfeitamente funcional."
    Meus olhos se abriram quando eu ouvi as palavras de Rei, sem 
mencionar a imagem dela nua em minha mente, que tinha causado reação de 
parte de mim.
    "Sua pervertida!"
    Eu esperei Asuka me bater de novo, mas ao invés disso, eu fui 
espremido num abraço forte. Uau, as coisas pareciam ficar cada vez mais 
esquisitas...
    "Baka! Você nos assustou demais! Nunca mais faça algo estúpido como 
isso!"
    Eu senti outro par de braços envolvendo a mim e Asuka.
    "Nós pensamos que tínhamos perdido você. Bem vindo de volta, 
Shinji."
    Eu não sabia o que dizer. Então eu não disse nada.
    Eu senti alguma coisa molhada cair na minha face. Uma lágrima? Quem 
estava chorando? Rei, Asuka? Isso realmente importava? Ser abraçado 
dessa forma pelas duas garotas que eu amava... isso era bom. Era quente, 
muito confortável. Eu poderia me acostumar com aquilo.
    Quando as duas garotas me soltaram, eu tomei um tempo para 
cuidadosamente olhar para elas. Rei estava sentada sobre seus joelhos à 
minha frente. Ela usava uma camisa que eu reconheci como sendo minha. 
Tendo ficado algum tempo com ela, eu sabia que ela não costumava usar 
nada além de sua cruz prateada. Parecia que ela a tinha colocado às 
pressas, pois havia esquecido um botão. Isso me lembrou da primeira vez 
que havíamos dormido juntos. Ela tinha esquecido aquele botão daquela 
vez também. Quando ela percebeu que eu estava olhando, ela sorriu 
graciosamente.
    Asuka estava sentada no chão, no estilo indiano. Felizmente, ela 
estava mais vestida que Rei, usando calcinhas e a sua usual camisa de 
dormir, embora essa camiseta revelasse MUITA coisa. Ela estava xingando 
um pouco, provavelmente por causa dos longos segundos que eu tinha gasto 
olhando para Rei, mas a sua expressão se suavizou assim que eu passei a 
olhar para ela.
    Sobretudo, ambas as garotas pareciam perfeitamente bem. Obviamente 
nada estava quebrado, e não havia grandes cicatrizes. Eu suspirei de 
alívio. No entanto, eu percebi que ainda restava algo de machucados 
quase curados. Eu duvidei que fosse devido ao ataque do Anjo, Touji 
tinha me dito que tinha sido há um mês. Por um momento, eu imaginei de 
onde esses mahucados tinham vindo, mas eu rapidamente afastei o 
pensamento. Eu lembrei de algo importante que eu precisava fazer. 
    Eu me curvei e implorei pelo seu perdão.
    "Asuka. Rei. Me perdoem."
    "Porquê?" perguntaram as garotas simultaneamente.
    Primeiro eu olhei para Asuka nos olhos.
    "Eu... eu sinto muito pela maneira que eu te tratei naquela noite no 
lago. Eu deveria ter tentado entender as suas razões ao invés daquilo. 
Eu deveria ter entendido que aquilo era culpa minha... que... que a 
maneira que eu me comportei machucou os seus sentimentos. Eu... eu sinto 
muito."
    Asuka pareceu prestes a falar, mas ela parou ao ver que eu agora 
estava olhando para Rei. 
    "Eu não deveria ter sido tão rude com você, Rei. Tudo que você 
queria... era me proteger... porque você se importava comigo. Eu não 
entendi. Eu gritei com você. Eu te machuquei. Eu te fiz chorar. Eu 
jamais deveria ter feito aquilo. Me perdoe."
    Eu me curvei novamente, esperando o julgamento delas. Ao invés 
disso, o que elas fizeram em seguida me pegou totalmente de surpresa.
    "Ja. Ken. Po."
    Eu olhei para cima, confuso, para ver que Rei tinha vencido.
    "Meu Deus, o que você andou fazendo, praticou com a Misato?" 
reclamou Asuka.
    "Não. Você é simplesmente previsível."
    "O quê?! Que seja... vá em frente, você venceu."
    Isso era esquisito. Eu olhei para elas, confuso. Eu fiquei ainda 
mais perdido quando Rei gozou Asuka.
    Numa situação dessas, eu realmente não esperava que Rei me beijasse. 
Força do hábito, aceitei o beijo, até me lembrar que Asuka estava aqui. 
Eu congelei e olhei para ela. Ela estava praguejando, mas quando ela viu 
meu olhar, ela fez aquele "Hum!" típico e olhou para o lado. Eu não 
entendi o que estava acontecendo, mas era bom ter Rei junto a mim 
novamente, então eu simplesmente aderi à sua paixão. E eu devo dizer, 
havia muita paixão naquele beijo. 
    "Você está perdoado, meu amor," sussurrou Rei quando nossos lábios 
se separaram. Então, Rei saiu do quarto. Eu a vi ir, e então olhei para 
Asuka. Eu congelei novamente. Ela tinha aquele olhar... naquele momento, 
eu entendi o que um coelho deve sentir quando um lobo faminto olha para 
ele. Ela literalmente pulou em cima de mim e me jogou no chão.
    "Minha vez agora."
    Não havia sentido em resistir, então eu me submeti a seus lábios 
famintos. Eu realmente não tinha nenhuma razão para resistir...

                                * * *

    "Será que uma de vocês pode me explicar o que está acontecendo?" eu 
perguntei, antes de tomar um gole de meu chá. Rei nos tinha deixado 
anteriormente para prepará-lo. "O que você estava fazendo no meu 
quarto?" eu ainda disse, olhando para Asuka.
    "Anta baka? (*) Não é óbvio? Eu estou morando aqui com a Rei-chan!"
    Eu olhei para ela, sem entender. Isso devia ser um sonho. Asuka, 
chamando Rei de "Rei-chan"? Asuka, morando com Rei? Sem dúvida, era um 
sonho. O que também explicaria os beijos...
    "Eu creio que ele ainda não entendeu."
    "Porquê eu não estou surpresa?" reclamou Asuka.
    Uma pancada na cabeça me confirmou que isto não era um sonho.
    "Escuta, baka Shinji! Enquanto você estava... longe... eu me mudei 
para cá. É assim, simples. Entendeu?"
    Eu assenti, mesmo não estando certo de ter entendido.
    "Então você dorme no meu quarto agora?"
    "Você parece estar pegando o espírito da coisa. Já era hora..."
    "Então, onde eu durmo?"
    "Idiota! No seu quarto antigo, claro!"
    Vendo que eu parecia estar quase me perdendo de novo, Rei decidiu 
assumir as explicações.
    "Asuka e eu resolvemos as nossas diferenças. Eu acredito que nós nos 
tornamos amigas. Nós tivemos longas discussões entre nós mesmas e a 
Major Katsuragi e nós concordamos que seria mais fácil para você se você 
morasse em um lugar onde nenhuma de nós também morasse."
    "Nós não vamos brigar por você mais, e nós não vamos mais te 
pressionar", disse ainda Asuka.
    "Aqueles beijos que nós te demos... serão os últimos. Nenhuma de nós 
vai tentar ficar envolvida romanticamente com você até que você se 
decida", continuou Rei.
    "Agora, que a melhor garota vença!" concluiu Asuka, fazendo o sinal 
de vitória com os dedos.
    Rei suspirou e tentou ignorar a sua muito entusiástica amiga.
    "Eu... eu..."
    Eu não sabia o que dizer. Eu jamais teria esperado tal mudança na 
situação. Conforme aquelas palavras se fixavam, eu percebi que as coisas 
seriam diferentes daqui em diante. Eu não sabia o que pensar a esse 
respeito. Era um alívio. Eu não teria mais que ter medo de machucá-las. 
Eu não teria que me sentir culpado quando ficasse com uma enquanto a 
outra estivesse completamente sozinha. Eu não teria a permissão de traí-
las. Mas eu também percebi que eu não seria mais capaz de segurá-las em 
meus braços. Eu teria que acordar de manhã e me ver sozinho.
    O pior de tudo, eu teria que cozinhar novamente...
    Eu estremeci com esse último pensamento, atraindo um olhar curioso 
das garotas.
    "Então eu devo assumir que vocês não vão mais dormir na minha cama?"
    Ambas as garotas assentiram. Estranho, elas tendiam a ter as mesmas 
reações desde o momento em que eu havia acordado Asuka. Será que Misato 
as tinha posto em algum treinamento de sincronização como havia feito 
comigo e Asuka quando enfrentamos o Sétimo Anjo?
    "Isso vai ficar esquisito."
    "Você se acostuma. A gente já se acostumou."
    "Sei... bem... obrigado... eu acho..."
    Um silêncio desconfortável se seguiu. Eu realmente não sabia o que 
dizer ou fazer, e as garotas também não sabiam. Depois de longos 
momentos durante os quais nós ficamos olhando um para o outro em 
silêncio, Rei conseguiu quebrar essa atmosfera desconfortável.
    "Você deveria voltar para o seu apartamento para tomar um banho. 
Logo será de manhã. Você pode voltar para cá quando terminar. O café da 
manhã estará pronto."
    "Sim, tomar um banho! Esse cheiro de LCL está realmente irritante. E 
tire essas roupas. Uniformes da NERV realmente não te caem bem..."
    Essa era provavelmente a melhor coisa que eu podia fazer. Então eu 
me levantei e fui até a porta. Mas antes de abrir a porta, eu me virei 
para olhar para as garotas.
    "Eu vou sentir falta dos velhos tempos, mas estou orgulhoso de ver 
que vocês duas estão se dando bem agora. E... eu... eu estou feliz por 
vê-las bem. Quando eu vi o que aquele Anjo fez aos seus EVAs... eu... eu 
fiquei realmente preocupado. E eu me senti mal... por deixar vocês 
sozinhas para lutar contra ele. Foi por isso que... eu voltei, eu... eu 
não vou mais embora. Nunca mais." 
    As duas garotas sorriram. Essa era realmente uma visão maravilhosa. 
Eu também sorri, e saí.
    
                                * * *

    A água do banho quente caía boa e morna contra minha pele, 
envolvento completamente o meu corpo. Eu me sentia calmo, relaxado. Eu 
deixei a minha cabeça se soltar vagarosamente sob a água, até que eu 
estivesse completamente imerso. A sensação não era a mesma de entrar em 
um entry plug cheio de LCL. A água parecia... pura, limpa, fresca. Eu 
somente saí dali quando senti que não poderia mais segurar o meu fôlego 
e estava tentado a tentar respirar debaixo da água. Eu acho que isso 
tinha se tornado um hábito. Eu apoiei  minha cabeça na banheira e fechei 
meus olhos. Isso era tão bom... eu caí no sono.

                                * * *

    Um vagão, familiar, indo para algum destino desconhecido.
    'Porque eu estou aqui de novo?'
    "Baka! Porque você pilotou o EVA de novo, é claro!"
    Eu levanto a minha cabeça para ver Asuka me encarando. Ela está 
usando o seu vestido amarelo. Sua face não mostra nada além de uma 
carranca.
    'Ah é. Eu pilotei o EVA.'
    "Você não gosta de pilotar o EVA. Porque você o faz?"
    Rei está sentada ao meu lado. Sua face está como era há alguns meses 
atrás. Fria e sem emoções.
    'Porque... eu quero protegê-las...'
    "Nós não precisamos da sua proteção, seu canalha!"
    'Eu não quero ver vocês machucadas...'
    "Mas você já nos machucou. Você fugiu de nós, depois de ferir os 
nossos sentimentos. Você não é melhor que Ele."
    Rei se levanta e fica lado a lado com Asuka. Meu pai aparece por 
trás delas, e coloca uma mão com uma luva na cintura de cada uma. 
    "Agora que você se foi, eu posso usar estes peões como eu bem 
quiser."
    Ele aproxima sua face da de Rei. Ela olha para ele, seus olhos 
vazios de emoções. Então seus lábios se encontram. Eu fecho meus olhos, 
não querendo vê-los.
    "Então, eu estava certa, a Garota Maravilha não é nada além de uma 
boneca do Comandante..."
    'PAREM COM ISSO!'
    "A única coisa que você sabe fazer é machucá-las."
    Eu abro meus olhos ouvindo essa nova voz. Eu reconheço a pessoa. A 
garota de cabelos cinza.
    "Quanto mais você adiar a sua decisão, por mais tempo você fará elas 
sofrerem."
    'Eu... eu não quero isso.'
    "Saber disso faz você sofrer também."
    'Sim.'
    "Mas se você não voltar para elas, elas esquecerão. E você não 
sentirá mais essa dor."
    "Não vou?"
    "Elas sempre estarão com você...'
    'Comigo?'
    "Para sempre."
    'Para sempre?'
    "Ei, baka Shinji. Você quer se tornar um comigo? Você quer que nós 
nos tornemos apenas um corpo e apenas uma alma? É tão maravilhoso. Eu 
estou te dizendo. Vamos!"
    Asuka está à minha direita, completamente nua. Ela se aproxima de 
mim, eu sinto seus seios contra meu braço.
    "Shinji. Você quer se tornar um comigo? Você quer que nós nos 
tornemos apenas um corpo e uma alma? É tão maravilhoso."
    À minha esquerda está Rei, igualmente nua, igualmente linda.
    "Você quer se tornar um só comigo?"
    "Você quer que nós nos tornemos apenas um corpo e uma alma?"
    "É tão maravilhoso."
    Eu posso senti-las, suas mãos passando por mim. Eu me sinto em paz. 
Mas estranhamente, eu também me sinto muito frio.
    "Vamos, relaxe. Libere a sua mente."
    Eu estou pronto para me deixar perder no seu abraço. Tudo à minha 
volta parece escurecer. Eu me sinto tonto, mas leve. Eu me sinto... 
livre.
    "Se você fugir da realidade, então você as perderá para sempre."
    Eu abro meus olhos, apenas um momento antes de perder todas as 
sensações do meu corpo. Uma pequena garota está flutuando na escuridão à 
minha volta. Ela olha para mim. Ela parece uma versão jovem de Rei, mas 
nem tanto. Seu cabelo é marrom e seus olhos são azuis, azul-escuro. 
Ainda, ela parece... familiar. Aquele sorriso...
    "Essas são apenas sombras. Imagens criadas pelo EVA na sua mente 
para te manter aqui. Ilusões que o EVA cria para atrair as pessoas 
Pessoas como eu. Elas não são aquelas que você ama. Você não consegue 
ver a diferença?"
    Eu olho para Rei e Asuka. E eu vejo. Seus olhos são frios. Assim 
como seus corpos.
    'São apenas... ilusões.'
    Rei e Asuka desaparecem. Eu agora posso ouvir um coração batendo. 
Aquecido, eu me sinto aquecido agora.
    "Não se deixe ser tentado pelo EVA."
    Um colo.
    Um colo muito familiar. Rei? Asuka? Misato? Não. Outra pessoa...
    'Mãe!'
    Ela está perto, tão perto...
    'Mãe! Eu estou indo mãe!'
    "Não, você não deve. Este não é o seu destino. Você deve voltar. 
Para protegê-las. Para dar a elas o seu amor."
    'Mas eu vou machucá-las...'
    "Isso não importa. Elas precisam de você. Assim como você precisa 
delas."
    Uma voz. Eu ouço uma voz fraca. Uma voz familiar. Mas não é a de 
minha mãe... alguém... quase tão importante...
    'Shinji! Me devolvam o meu Shinji! Me devolvam...'
    Mi... Misato...?
    "Você deve voltar. Eles precisam de você. Proteja-os bem. Eu vou 
ajudar se puder..."
    Mãe?
    "Vá agora."

                                * * *

    Eu acordei com um susto. Isso não foi um sonho. Eu tinha certeza 
disso. De alguma forma, isso tinha acontecido. Enquanto eu estive dentro 
do EVA. Isso tinha sido real.
    Mãe. Ela estava... ela estava... dentro... do EVA? Esse sentimento 
de conforto que eu tinha sempre quando me sincronizava com o EVA, era... 
ela? Era por isso que a Unidade-01 ficava me protegendo?
    Mas... como isso aconteceu? A mãe supostamente estava... morta. Como 
poderia ela estar... dentro no EVA?
    Isso não fazia sentido. Ainda assim... de alguma forma... eu sabia 
que era verdade.
    Tantas perguntas. E o único que tinha as respostas muito 
provavelmente não as daria para mim...
    "Eu... eu não vou te desapontar... mãe. Eu vou protegê-las..."
    Eu terminaria isso, eu lutaria com todos os Anjos que faltavam, e 
então eu iria atrás da verdade. Até lá... eu manteria tudo que eu sabia 
apenas para mim mesmo.
    "Obrigado... mãe."

                                * * *

    Eu estava terminando de secar o meu cabelo quando eu ouvi a porta do 
apartamento se abrir. Então eu vi uma mancha vermelha, preta e púrpura 
e, quando dei por mim, eu estava sendo espremido por um forte abraço.
    "Shinji! Você está aqui! Eu estava tão preocupara..."
    Eu tentei dizer alguma coisa, mas o fato de que a minha cara estava 
coberta pelo amplo peito de Misato não tornava tal ação possível. Eu sei 
de algumas pessoas que ficariam realmente invejosas dessa cena, mas 
francamente, eu nem mesmo era capaz de respirar...
    "Shinji..."
    Eu me esforcei para escapar. Só depois de alguns segundos Misato 
percebeu exatamente o que ela estava fazendo e me largou. Imediatamente 
eu enchi os meus pulmões com ar fresco, e então olhei para ela. Ela não 
estava chorando, mas estava muito perto disso. Ela me deu um sorriso 
quente, e então a sua expressão ficou séria. Isso não era bom...
    "Nunca mais se atreva a sair da enfermaria sem a minha permissão, 
rapaz!"
    Confrontado com esse aspecto de Misato, eu de repente me senti 
muito, muito pequeno... eu olhei para o chão e murmurei uma desculpa.
    "Go... gomen..."
    "Está tudo bem Shinji..."
    Quando eu levantei a minha cabeça para olhar para ela novamente, o 
seu sorriso estava de volta. 
    "Você apenas nos deixou preocupados. Até encontrar o Touji, eu achei 
que você tinha fugido..."
    "Eu nunca mais vou fugir de novo, Misato. Eu... eu encontrei uma 
razão para pilotar."
    Misato suspirou aliviada. Eu imagino que isso tirou algum peso de 
seus ombros.
    "Isso é bom, Shinji. Agora, se apronte, você precisa ir à NERV. 
Ritsuko quer fazer alguns testes com você, só pra ter certeza de que não 
há efeitos colaterais do que aconteceu. Você sabe o que aconteceu, 
certo?"
    "Touji me contou."
    "Você não se lembra de nada?"
    Eu pensei nos flashbacks que eu andava tendo...
    "Eu... eu... não. Eu não lembro..."
    Eu odiava mentir para ela. Mas eu não podia contar a ela sobre isso. 
O que tinha acontecido era tão estranho. E eu não queria que o 
Comandante soubesse... que eu sabia.
    "Sei..."
    Misato claramente não estava acreditando no que eu tinha acabado de 
dizer, mas ela não insistiu em perguntar nada. Eu estava agradecido. No 
entanto, eu teria que ser mais cuidadoso com a Dra. Akagi.
    "Eu posso... posso pelo menos tomar o café da manhã? Rei disse... 
bem... ela preparou o café..."
    Misato sorriu.
    "Eu acho que uns minutos a mais não vão machucar."

                                * * *

    Eu acho que as garotas ficaram ainda mais satisfeitas em me ver de 
volta do que eu tinha imaginado. Quando eu voltei para o apartamento de 
Rei... não... o apartamento *delas*, um gigangesco café-da-manhã estava 
esperando por mim. De um lado da mesa, eu via comida Japonesa 
tradicional: sopa misô, peixe, bolinhos de arroz... no outro lado da 
mesa, havia comida no estilo ocidental: omeletes, salsichas, bacon... no 
meio da mesa, um prato de torradas com diferentes tipos de geléia. Atrás 
da mesa, ambas as garotas esperavam, cada uma delas usando um avental, 
expectativa em seus olhos.
    Elas não tinham dito que não iam mais brigar por mim?
    Quando eu me sentei na mesa, eu tive que enfrentar um dilema cruel. 
Qual das comidas eu deveria experimentar primeiro? Eu já sabia que a 
comida de Rei era excelente, e eu podia imaginar que a comida Japonesa 
tinha sido feita por ela. Eu poderia reconhecer a sopa misô dela apenas 
pelo cheiro. A comida de Asuka no entanto... ela nunca realmente se 
importou em cozinhar quando morava comigo e com Misato. Eu não sabia o 
que esperar. Mas a pior parte do dilema era que eu tinha medo de 
machucar uma delas ao provar a comida da outra primeiro. Bem, não havia 
muita escolha. Eu tinha que começar por algum lugar...
    "Rei, eu já sei que a sua comida é excelente. Você não se importaria 
se eu começasse com a comida de Asuka?"
    Rei enrubesceu levemente com o cumprimento.
    "Não... é claro que não..."
    Então eu peguei um garfo e peguei um pedaço do omelete. Eu estava 
mais acostumado ao hashi (*), mas eu ainda consegui pegar um grande 
pedaço. Estava bem apiemntado, mas muito bom.
    "Muito bom Asuka," eu elogiei. Agora era a vez dela enrubescer. 
"Você nunca nos disse que cozinhava tão bem."
    "Bem, eu realmente não cozinhava. Mas eu tive tempo pra aprender. Eu 
gosto da comida da Rei, mas eu não sou vegetariana como ela. Eu preciso 
de um pouco de carne de vez em quando! E eu estava cansada de comida 
Japonesa!"
    "Sei."
    Eu tinha que admitir que eu estava um pouco desapontado. Afinal, Rei 
tinha aprendido a cozinhar para me agradar. Eu deixei escapar um pequeno 
suspiro. Eu era um idiota. Era no mínimo tonto, para não dizer egoísta, 
esperar que elas só fizessem as coisas para me agradar. Elas tinham as 
suas próprias vidas afinal...
    Talvez fosse a minha vez de tentar fazer alguma coisa por elas...
    "Que dia é hoje?" eu perguntei entre um gole da sopa de Rei e 
mordidas no omelete de Asuka, a sopa ajudando a aliviar a pimenta.
    "Sexta."
    "Então vocês duas estão livres amanhã, certo?"
    Ambas as garotas assentiram e me deram olhares confusos.
    "Então eu posso levar vocês duas para sair amanhã?"
    Os olhos de Asuka se iluminaram.
    "Onde?! Onde?!"
    "Er... qualquer lugar que vocês quiserem ir."
    As garotas olharam uma para a outra... e sorriram. Era uma visão tão 
estranha que chegava a amedrontar. De repente, eu comecei a esperar pelo 
pior.

                                * * *

    "O que aconteceu entre Rei e Asuka?" eu perguntei, enquanto Misato 
dirigia até a NERV. Ela parecia levemente perturbada por essa pergunta, 
pois desacelerou.
    "Bem... elas ficaram amigas..."
    "Isso eu vi. E é o que elas me contaram. Mas... eu tenho a impressão 
de que alguma coisa não está certa aqui. Digo... elas eram praticamene 
inimigas. Eu simplesmente... não posso acreditar que as coisas tenham 
mudado... tanto."
    "Você tem que entender o quanto elas gostam de você, Shinji. Quando 
eu contei a elas que você tinha sido... absorvido... pelo EVA... elas 
não aceitaram isso bem. Especialmente porque nós não fazíamos idéia de 
se conseguiríamos te trazer de volta oiu não. Foi difícil... para 
todos."
    A expressão de Misato escureceu um pouco. Eu sabia que ela estava 
falando de si mesma também.
    "Eu... eu sinto muito."
    "Não é sua culpa..."
    Ela tirou os olhos da estrada por um instante para sorrir para mim. 
Os pedestres tentavam pular para um lugar seguro.
    "Rei rapidamente voltou a ser o que era," explicou Misato. "Ficou 
difícil tirar mais que um ´sim´ ou um ´não´ da boca dela. Eu sei que a 
amiga dela, Hotaru, estava preocupada com ela. Mesmo antes de te 
conhecer, Rei mostrava sinais de vida de vez em quando. Mas quando ela 
soube que você poderia não voltar... ela simplesmente pareceu drenada de 
toda a vida. Eu também estive preocupada com ela."
    Isso tinha acontecido porque ela tinha pensado que eu não voltaria? 
Se eu escolhesse Asuka... ela voltaria a ser o que era?
    "Asuka ficou ainda mais agressiva que o usual. Ela não queria 
acreditar na possibilidade de que você poderia estar 'morto' e ficou 
praguejando sobre como você era um canalha, matando aquele Anjo e depois 
se escondendo pra evitar que ela te pegasse."
    Eu não pude evitar sorrir com isso, lembrando do que tinha 
acontecido esta manhã. Ela tinha, de fato, me pego de jeito.
    "Eu acho que ambas se sentiam culpadas por ter falhado em parar o 
Anjo, e conseqüentemente de proteger você. Elas estavam ficando 
perigosamente deprimidas. Uma noite, eu acho que nós estávamos sem 
comida em casa. Nós... esquecemos de comprar. Eu estava... bem... 
bêbada... então eu pedi a Asuka que fosse até o apartamento de Rei pegar 
alguma coisa para comermos. Eu não vi Asuka até a manhã seguinte."
    Misato fez uma longa pausa. Eu comecei a me preocupar.
    "Eu as encontrei de manhã no chão do apartamento de Rei, nos braços 
uma da outra. As roupas delas estavam amarrotadas e elas estavam 
cobertas de cicatrizes e algum sangue. Do que elas quiseram me contar, 
elas tinham tido uma discussão sobre Rei estar vestida com uma das suas 
camisas. A discussão se deteriorou e elas começaram a culpar uma à outra 
pelo que tinha acontecido, quão mal elas tinham tratado você e como elas 
tinham sido incompetentes em te proteger. Mas quando eu as vi na 
enfermaria, depois que elas tinham acordado... elas pareciam... 
mudadas... como se fossem... amigas. O meu palpite é que elas resolveram 
as diferenças entre elas naquela briga. Eu não posso ter certeza, elas 
não querem falar sobre isso. Quando eu penso de novo no momento em que 
eu as vi pela  primeira vez se abraçando... foi realmente uma... visão 
perturbadora."
    Eu assenti, tendo me sentido do mesmo jeito toda a manhã.
    "E então, Asuka se mudou para o apartamento de Rei?"
    "Depois de alguns dias. Pareceu melhor para a amizade delas viver 
através da competição delas por você."
    "Sei..."
    Então elas tinham brigado por mim. Não era por menos que elas não 
queriam me contar nada.
    "Você tem sorte, Shinji. Elas duas te amam muito."
    "Eu sei, Misato-san."
    Eu sorri novamente. Sim, a vida era complicada, mas era bom sentir 
que havia alguém que se importava comigo.
    "Chegamos," disse Misato, estacionando o carro no lugar designado. O 
fato de ter que passar pelos testes da Dra. Akagi não era muito 
agradável, mas eu ainda estava sorrindo quando nós a encontramos.
    
                                * * *

    Como eu tinha imaginado, os testes da Dra. Akagi foram bem chatos e 
bem cansativos. Ela pegou não sei quantas amostras de vários tipos do 
meu corpo, e então me fez passar por dúzias de máquinas diferentes, 
antes de finalmente me dar um plug suit e me enfiar dentro de um entry 
plug para um teste de harmônicos e sincronização. Os resultados? Se não 
considerarmos a queda de um ponto na minha taxa de sincronia, tudo 
estava normal. Então, eu fiquei aborrecido até os ossos por nada. Eu 
senti um arrepio com esse pensamento. Asuka era normalmente quem se 
queixava disso.
    Uma vez que eu fui liberado de todos os testes da doutora, eu voltei 
para o apartamento para perceber que o dia ainda estava longe do fim. Eu 
suspirei em desespero ao ver o campo de batalha que Misato chamava de 
lar. Imagens do apartamento perfeitamente limpo de Rei vieram à minha 
mente. Eu suspirei de novo. Resignado, eu comecei a empilhar as latas de 
cerveja. As aulas acabariam em menos de duas horas. Era tempo suficiente 
para dar a este lugar uma aparência um pouco melhor.
    As minhas projeções se provaram certas, pois eu consegui limpar tudo 
em uma hora e meia. Cansado, eu fui para o meu quarto. Eu estava a ponto 
de me deixar cair na cama, quando eu percebi que havia algo errado. Este 
lugar estava limpo. Realmente limpo. Sem sujeira. Você poderia sentir 
isso no ar. Uma olhada por ali me confirmou que tudo que eu tinha 
aparentemente estava ali, exceto talvez a camisa que Rei tinha pego 
emprestado permanentemente . Eu teria que questioná-la a esse respeito. 
Eu estava curioso em saber porquê ela tinha ficado com uma das minhas 
camisas. Seria para de alguma forma me sentir próximo a ela?
    Num canto do quarto, eu notei o meu cello. Não estava no lugar 
certo, então eu o peguei para movê-lo, mas mudei de idéia e saí do 
quarto com ele na mão e me sentei numa cadeira na cozinha. Da última vez 
que eu tinha tocado, tinha sido com uma mente deprimida. Eu me sentia 
feliz agora. Eu queria ver se eu me sentiria diferente tocando. Foi. A 
melodia era melhor, mais graciosa. Eu parecia estar tocando melhor que o 
usual. Eu fechei meus olhos e me perdi tocando o instrumento.
    Eu só abri os meus olhos quando eu ouvi a porta do apartamento de 
abrir. Rei entrou, sorrindo, seguida por uma Asuka de mau humor. Ela 
ficava murmurando para si mesma e eu podia às vezes compreender alguns 
xingamentos em alemão. Aparentemente, não tinha sido um bom dia de 
escola para ela.
    "Nós estamos te interrompendo?" perguntou Rei.
    Eu percebi que eu tinha parado de tocar.
    "Eu... eu só estava praticando um pouco... eu posso parar..."
    "Não. Continue."
    Eu olhei para Rei. Ela apenas sorriu. Então eu olhei para Asuka. Ela 
me deu aquele olhar "eu não me importo". Então, eu continuei a tocar, 
puxando o arco pelas cordas do meu cello, as cordas ricas e profundas 
vibrando pelo pequeno apartamento. Eu me arrependi de não ter praticado 
mais, ouvindo as ocasionais notas que saíam fora do tom, apesar das 
minhas melhores intenções. Não era sempre que eu tinha uma audiência, e 
eu realmente queria tocar bem para elas.
    Rei sentou em seus joelhos, me observando tocar da sala de estar. A 
sua expressão era a mesma de sempre, mas o interesse em seus olhos 
vermelhos era genuíno. Eu comecei a imaginar se alguma vez ela já tinha 
sentado para ouvir música antes. Isso mesmo, apenas para ouvir. Eu tinha 
certeza que ela já tinha ouvido música na vida, mas ela mostrava tanto 
interesse agora que eu estava começando a pensar que ela poderia jamais 
ter imaginado o que era isso até agora.
    Seus olhos seguiam os movimentos de minhas mãos nas cordas com rara 
concentração. Ela parecia aprisionada pela variedade de notas que uma 
simples passada do arco poderia gerar. Um momento depois seus olhos se 
ergueram para olhar nos meus, e ela sorriu. Pareceu um sorriso de 
agradecimento por essa nova experiência. Eu sorri de volta.
    Olhando um pouco além da garota de cabelos azuis, eu via a outra 
presença. Ao contrário de Rei, que estava sentada corretamente, Asuka 
tinha se jogado sobre tanto chão quanto fosse possível. Braços e pernas 
jogados para fora de seu corpo, ela estava deitada de costas e olhava 
para o teto, a visão da energia relaxada.
    Eu tinha esperado que Asuka ficasse cansada de me ouvir tocar e me 
dissesse para parar com aquele barulho, mas ela não fez isso. Ela 
simplesmente ficou ali, esparramada no chão. Eu atirava uns olhares para 
ela de vez em quando durante a minha apresentação e percebi que seu 
corpo parecia vagarosamente relaxar e aos poucos ia adquirindo um 
pequeno sorriso de contentamento.
    Ver isso fez o sorriso em minha face ficar ainda maior, mas eu 
rapidamente baixei a cabeça. Era melhor ter certeza de que ela não visse 
o meu sorriso e de alguma forma adivinhasse a fala que ficava em minha 
cabeça, dizendo que 'a música acalma a fera selvagem'. Eu não estava 
interessado em sentir de novo a fúria de seus punhos
    Eu toquei assim por provavelmente quinze minutos. No chão, Asuka 
parecia estar aos poucos adormecendo. Um pouco mais perto de mim, Rei 
tinha fechado os olhos, mas o sorriso em sua face mostrava que ela ainda 
estava curtindo a minha música. Essa atmosfera pacífica foi logo 
quebrada pela chegada de Misato.
    "Olá pessoal!"
    Então, Misato congelou ao ver a cena de paz e calmaria que nós 
estávamos proporcionando. Isso não era nada usual na residência 
Katsuragi.
    "Obrigado,"  sussurrou Rei, antes de se levantar e ir para a 
cozinha, onde começou a fazer um pouco de chá.
    Asuka recobrou seus sentidos e correu para o telefone, me deixando 
com a Major.
    "Bem, eu vejo que todos vocês estão aqui, então nós podemos agora 
ter a nossa grande festa-jantar!" disse Misato, toda sorrisos.
    "Festa?" eu perguntei, com uma ponta de suspeita de suas intenções.
    "Não se preocupe! Apenas nós quatro. E eu não vou me embebedar, eu 
prometo!"
    Katsuragi Misato? Prometendo não ficar bêbada? Agora, isso sim era 
estranho...
    "A comida vai chegar em alguns minutos!" anunciou Asuka ao voltar 
para a sala de estar.
    "De fora?" eu perguntei, surpreso. Nós raramente pedíamos alguma 
coisa de fora. Especialmente porque Rei e eu cuidávamos da cozinha. E 
agora que Asuka parecia saber cozinhar, isso era ainda mais estranho.
    "Anta baka? É uma festa-jantar! Você não espera que nós cozinhemos, 
espera?"
    Eu achei que a argumentação dela fazia sentido.

                                * * *

    Fiel às palavras de Asuka, a comida logo chegou e nós tomamos nossos 
lugares em volta da mesa baixa da sala de estar. Misato estava de frente 
para mim, e eu tinha Rei e Asuka ao meu lado.
    "Parece estranho. Eu tinha quase esquecido o gosto do chá..."
    Era realmente estranho ver Misato bebendo chá ao invés de cerveja ou 
café.
    "Você deveria parar de beber. Isso prejudica a sua saúde."
    "É, eu sei Rei... talvez eu pare..."
    Misato tomou outro longo gole de chá, antes de falar novamente, com 
um grande sorriso em sua face.
    "Shinji... Asuka... Rei... vocês são os filhos que eu nunca tive... 
e provavelmente nunca vou ter. Eu... eu estou feliz que nós estejamos 
finalmente juntos de novo. Restam apenas três Anjos agora. Eu realmente 
espero que nós possamos ter outro jantar como esse quando eles forem 
derrotados. Esse é o meu desejo."
    "Ora, vamos, Misato! Você ainda é jovem! Eu tenho certeza de que 
Kaji irá ter o maior prazer em te dar um ou dois bebês só seus..." disse 
Asuka, um grande sorriso malicioso quase rasgando a sua face ao meio.
    Usualmente, Misato era quem nos provocava. Mas agora, era a vez dela 
enrubescer como um tomate.
    "O quê?! Não... não é nada disso..."
    "Onde você esteve a última noite?"
    A face de Misato de repente ficou tão pálida quanto a de Rei.
    "Eu... bem.. quem... quem iria querer ter filhos com ele, de 
qualquer modo?!"
    "Se não fosse pelo Shin-chan, talvez eu não me importasse."
    Todos naquela mesa, com exceção de Asuka, ficaram sem palavras.
    "Mas eu preferiria ter um com o Shin-chan..."
    Eu engoli seco. Rei olhava direto para Asuka. Eu acho que ela não 
tinha gostado do rumo que a discussão tinha tomado. Eu sei que eu com 
certeza não gostei...
    "Eu imagino como seria? Talvez uma linda garotinha com os meus 
cabelos e os profundos olhos azuis dele..." Asuka tinha uma expressão 
quase que sonhadora na face. Era realmente arrepiante. "Ei, Rei-chan? Se 
você tivesse um filho com o Shin-chan aqui, como você acha que ele 
seria?" perguntou Asuka com um sorriso de malícia, agora de volta à sua 
personalidade usual.
    A reação de Rei provavelmente não foi o que Asuka esperava que 
fosse. Seus hashi caíram no chão. A sua expressão mudou de calma para 
extrema angústia. Lágrimas rolaram pela sua face e caíram em seu peito. 
    "Rei?"
    Como se a menção de seu nome a tivesse tirado de um sonho, ela se 
levantou e correu para fora do apartamento. Nós ficamos ali, perdidos e 
confusos com o que tinha acabado de acontecer.
    "Qual o problema dela? Eu... eu não estava falando sério. Eu nem 
mesmo quero ter filhos. Tudo que eu quero é pilotar o EVA..."
    "Eu não sei. Eu vou... eu vou atrás dela. Com licença."
    Aquele olhar em sua face... eu tinha que saber o que havia de 
errado. Eu acho que Asuka tentou vir junto, mas Misato disse-lhe para 
ficar.

                                * * *

    Eu encontrei Rei em seu quarto, sua cara enterrada no travesseiro, 
chorando como eu jamais a havia visto chorar. Eu me aproximei em 
silêncio, sem saber o que fazer, ou o que dizer.
        "Rei..."
    Eu coloquei uma mão em seu ombro, e a movi para sua cabeça, onde 
acariciei seu macio e desarrumado cabelo azul.
    "O que há de errado, Rei?"
    Ela virou a cabeça um pouco e olhou para mim. Eu senti como se meu 
coração fosse quebrar.
    "Rei..."
    "Eu... eu... eu..."
    As palavras simplesmente morriam em sua boca. Novamente ela começou 
a chorar. Sem saber o que mais fazer, eu a tomei em meus braços. Eu a 
senti pegar minha camisa e chorar muito contra o meu ombro, até 
adormecer.

                                * * *

    Na manhã seguinte, Rei aparentemente se sentia melhor. Ela veio ao 
apartamento de Misato e nos pediu perdão pela explosão. Quando nós 
perguntamos o que havia acontecido, ela simplesmente disse que não 
queria explicar. Nós não insistimos mais a esse respeito, mas pelo olhar 
de Misato, eu podia dizer que ela não desistiria assim tão fácil. Eu não 
tinha certeza se ela estava preocupada como nossa guardiã ou como nossa 
oficial comandante. Provavelmente ambos.
    Depois do café da manhã, as garotas me disseram quais eram os seus 
planos para o dia. Primeiro, Asuka parecia não estar à vontade, eu acho 
que ela se sentia culpada pelo que tinha acontecido na noite anterior, 
mas o prospecto do que estava por vir naquele dia rapidamente a fez 
esquecer aquele incidente.
    Seus planos eram realmente simples. Não chegava a ser uma surpresa, 
com Tokyo-3 ficando mais e mais deserta, não havia muito o que fazer por 
aqui. Primeiro elas queriam ir ao shopping...
    "O shopping?"
    "Sim! Nós realmente precisamos comprar umas roupas novas para você!"
    "Comprar roupas para mim? O que há de errado com estas?"
    "Você sempre usa as mesmas roupas," respondeu Rei, monotonamente.
    "Você não tem nenhum estilo! Sempre aquelas malditas camisas de 
escola e de vez em quando umas camisetas!"
    "Mas eu não preciso de roupas novas!"
    "Rei precisva de roupas novas?" perguntou Asuka, apontando para Rei, 
que hoje estava usando um vestido azul com botas de couro pretas, 
provavelmente escolhidas por Misato.
    Eu não sabia o que dizer. Rei parecia linda. Então eu simplesmente 
fiquei quieto e me deixei ser arrastado.
    O resto do dia tinha sido planejado de forma igualmente simples. Nós 
iríamos trazer as compras de volta para o apartamento e almoçar aqui, e 
depois iríamos gastar todo o dinheiro que tivéssemos no shopping de 
novo, e então eu faria para elas o jantar e finalmente nós iríamos 
assistir um filme. E, se nós não estivéssemos muito cansados, Asuka 
queria ir a uma discoteca, da qual tinha ouvido falar, antes que ela 
fechasse. Rei e eu trocamos olhares preocupados. Eu realmente não sabia 
dancar e ela parecia na mesma situação. Nós dois suspiramos enquanto a 
nossa companhia ruiva nos liderava até o shopping.

                                * * *

    Eu suspirei quando as garotas finalmente me deixaram sozinho por um 
momento para entrar em uma loja de lingeries. "Pervertidos não são 
permitidos aqui" foi o aviso que Asuka me deu. Francamente, eu tinha que 
admitir, esse era o último lugar para o qual eu as seguiria. Se eu 
fizesse isso, eu tinha certeza de que elas teriam um imenso prazer em me 
torturar me pedindo para julgar o que ficaria melhor. Elas já tinham me 
provocado o suficiente quando resolveram experimentar as roupas de 
banho... tinha sido bom olhar para aquilo, mas eu me vi enrubescendo 
demais pro meu gosto.
    Eu suspirei de novo. Lidar com uma já era difícil. Lidar com ambas 
ao mesmo tempo era exaustivo...
    Eu estava procurando algum lugar para desmaiar quando, de repente, 
algo fisgou o meu olho. Eu não tenho certeza do porquê. Talvez parte de 
mim quisesse um fim definitivo para essa situação. Uma coisa era certa, 
o que quer que fosse, algo me levou a olhar mais de perto a vitrine da 
pequena joalheria; mais precisamente o anel de noivado que estava no 
mostruário. Era bem simples. Um anel de ouro com um único diamante 
montado em cima. Mas ainda assim, eu me senti atraído por ele.
    Minutos depois, eu o carregava em um dos meus bolsos. No entanto, eu 
ainda tinha que escolher a quem dá-lo...



[Continua...]



Da próxima vez:

Aquela Que Eu Amo É...
Capítulo 8 - Corações Partidos



Omake:

    Shinji relaxou no banho, mergulhando sua cabeça sob a água. Depois 
de um tempo, ele voltou à tona, embora relutante. Ele preguiçosamente 
apoiou sua cabeça na borda da banheira e adormeceu.
    "Você quer se tornar um comigo?" um Touji pelado perguntou, 
deitando-se sobre ele.
    Desnecessário dizer, Shinji pulou para fora e acordou, não 
necessariamente nessa mesma ordem.
    Segurando a sua cabeça em suas mãos, Shinji prometeu nunca mais ler 
nada da coleção de manga Yaoi de Rei novamente.

(Obrigado a Godsend777 por este pequeno omake)



Notas do autor:

    Alguns podem imaginar exatamente o que aconteceu entre Rei e Asuka. 
Eu concordo, parece muito repentino. Mas não esqueça, isso é pela 
perspectiva de Shinji. Ela não estava lá para presenciar nada. No 
entanto, Axel Terizaki escreveu uma side story para mim para cobrir esse 
"buraco". Ele está disponível no website de TOILI (URL no topo deste 
arquivo).

    O nome Mari, para a irmã de Touji, foi tirado do conhecido "Neon 
Genesis Evangellydonut", de Andrew Huang, da parte 3.5. É bonitinho e eu 
já vi sendo usado em outros fanfics. Um dos meus parceiros, Godsend777, 
o usou para uma side story de TOILI, "Pelo amor e pelo dever". Pela 
continuidade, sem mencionar que é um nome bonito e porque eu era muito 
preguiçoso para pensar em algum outro nome, eu o usei. Mas antes de 
tudo, eu gostaria de pensar nisso como um pequeno tributo ao trabalho do 
Andrew (sim! Vocês adivinharam, a pergunta que vocês vêem em um monte de 
fanfics... "Quando nós podemos esperar o próximo capítulo de 
Evangellydonut, Andrew?" - se ele responder, eu estarei realmente 
lisonjeado, isso significa que ele leu TOILI... ^_^).

    Aqueles que leram "All I want is you", a side story lemon de Jeremy 
para o capítulo 6 reconhecerão a reação de Rei perto do fim da parte 2. 
Era algo que eu pretendia incluir em TOILI quase desde o começo, mas não 
pude achar um lugar até agora. No entanto, eu decidi tornar isso um 
pouco vago, para que isso pudesse levar a outras situações para aqueles 
que não leram o lemon. A intenção disso é mostrar que Rei não é 
perfeita. Muitas pessoas não viram isso nos primeiros capítulos de 
TOILI. No entanto, com o capítulo seis e agora o sete, nós vemos que Rei 
tem seus defeitos assim como Asuka, que ela tem medo e não confia em 
Shinji o suficiente para expor os seus segredos, mesmo que ela o ame. 
Manter a verdade trancafiada é mais seguro do que arriscar enfrentar a 
dor de perder Shinji. Eu já vi Rei ser descrita como a encarnação da 
inocência. Eu discordo. Alguém realmente inocente jamais teria segredos 
para começar. Isso não quer dizer que Rei seja má. Só quer dizer que ela 
é humana. O que, em minha opinião, é muito mais atraente.


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Notas de tradução:

Gomen : "Desculpe". Uma das marcas registradas de Shinji.

Hashi: Aquele par de pauzinhos que são usados em países como o Japão 
como talheres. Eu preferi traduzir para hashi para que o texto ficasse 
mais natural. "Pauzinhos" simplesmente não funcionaria. #Ayanami-san


Alain Gravel
rakna@globetrotter.qc.ca
27 de Agosto de 1999

Iniciado em 28 de Junho de 1999
Primeira versão do pre-reader, Parte 1, terminada em 13 de Agosto de 
1999
Primeira versão do pre-reader, Parte 2, terminada em 27 de Agosto de 
1999
Segunda versão do pre-reader, terminada em 31 de Agosto de 1999
Versão final, terminada em 10 de Setembro de 1999
Revisões finais em 13 de Março de 2000