domingo, 4 de julho de 2010

Aquela que eu amo é... Capitulo: 06

Olá companheiros de batalha!
Desculpem a demora, mas tive alguns problemas de rede!
Estou postando aqui o sexto capitulo! Enjoy!

SE PREPAREM QUE ESSE CAPITULO É IMENSO!!!


Aquela que eu amo é...
Capitulo 6 - Amigos
Escrito por Alain Gravel
Ajudado por Darren Demaine

Traduzido para o português por Souryu-san
Revisado por Ayanami-san

Baseado nos personagens criados por e com copyrigth da GAINAX

http://www.geocities.com/Tokyo/Teahouse/2236/

(*) veja notas de tradução para detalhes
(numero) veja as notas do autor para detalhes em um assunto especifico

Aviso: este capítulo contém elementos de lime.

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Capítulo 6 - Amigos

Parte 1 - A viagem

Um mês tinha se passado desde o ataque do décimo segundo anjo. As
coisas tinham voltado quase ao normal. Bem, o mais próximo do normal
que a minha vida pode ser, de qualquer forma. Depois de alguns
momentos difíceis, Asuka e Rei tinham dado um jeito de "resolver" suas
diferenças de uma maneira civilizada. Asuka podia agora fazer o que
ela quisesse comigo nas terças, quintas e sábados, enquanto que eu era
da Rei segundas, quartas e sextas. Eu tentei me opor à idéia de ter a
minha vida determinada por um horário que eu não tivesse
ajudado a elaborar, especialmente porque a possibilidade de
liberdade era de apenas um dia por semana, no domingo. Mas não havia
maneira de eu poder ficar contra ambas, então eu aceitei o
arranjo. Além do mais, não era realmente tão mal. De fato, de fato,
muitos caras na escola invejavam a minha posição.
Ainda, houve algumas mudanças. Asuka era agora definitivamente
legal comigo. Ela ainda me chamava de 'baka' quase cem vezes por dia,
mas ela raramente gritava isso agora. A maior parte do tempo, de
qualquer forma. E, do outro lado, Rei tinha mudado consideravelmente.
Ela estava definitivamente mais aberta aos outros agora, ainda que não
fosse o tipo extrovertido, ela mostrava um pouco mais de como se
sentia para as pessoas a sua volta. Sua maior melhora estava agora no
fato de que ela tinha uma amiga fora da NERV, uma de suas colegas, uma
garota chamada Hotaru. Mas mesmo com as recentes mudanças, aquela
garota parecia ser a única estudante de nossa classe que não se sentia
desconfortável na presença de Rei. Bem, além de mim e Asuka em certa
extensão. Mesmo Touji e Kensuke ainda não se sentiam confortáveis a
sua volta. Talvez a proximidade das duas novas amigas se devesse ao
fato de que elas eram muito parecidas. Hotaru era uma garota tímida
que claramente não tinha nenhuma amiga, como Rei meses atrás. Por
causa da sua frágil complexão, sua pele tinha a mesma qualidade de
porcelana que a de Rei. Se seu cabelo curto fosse azul em vez de
preto, as duas poderiam se passar por irmãs (1).
Quando eu olhava para elas alegremente comendo seu lanche, eu nao
podia deixar de me sentir orgulhoso de Rei. Ela tinha feito muito
progresso nas ultimas semanas.
"Shin-chan! Nos temos de fazer alguma coisa!"
Esta súbita explosão da minha companheira de cabeça vermelha me
arrancou de meus pensamentos.
"Uh? O que você quer dizer?"
"Olhe para eles!" ela quase gritou, apontando para Touji num canto
da cafeteria, então Hikari alguns assentos longe. "A maneira como eles
tentam ignorar um ao outro, mesmo que eles estejam loucamente atraídos
um pelo outro, está me deixando louca! Nos temos que ajudá-los! Eles
também merecem conhecer a felicidade do amor que nós dois conhecemos!"
Estas últimas palavras conseguiram a atenção de todo o corpo
estudantil. Não que houvesse muitos estudantes na escola neste
dias. Mesmo assim, não pudemos fazer nada a não ser ficarmos
vermelhos, com todos aqueles olhares. Eu quase me arrastei para baixo
da mesa quando vi o olhar furioso de Rei. Ela podia ser realmente
assustadora quando te olhava daquela maneira.
"O que vocês estão olhando?" Gritou uma subitamente furiosa Asuka.
Com medo da fúria da ruiva, todos decidiram voltar a fazer o que
estavam fazendo alguns momentos antes.
"Você está realmente segura que ela gosta dele?" Eu perguntei,
tentando acalmá-la.
"Claro! Eu perguntei pra ela. Eu não sei porque, mas ela tem a
maior queda por aquele baka. Pessoalmente, eu acho que ela merece algo
melhor, mas se ela quer ele tanto assim..."
"Ei! Touji é um cara legal!" Eu protestei, querendo defender meu amigo.
"Ele é apenas um pervertido como você!"
Olhos arregalados...
"Eu não sabia que você gostava de pervertidos..."
"Eu não gosto!"
"Então não vamos sair esta noite como tínhamos planejado? Você me
chamou de pervertido alguns segundos atrás..."
Por alguns segundos, Asuka não sabia o que dizer.
"Certo, você não é um pervertido. Mas ele é."
Bem, não havia sentindo em começar a discussão novamente, então eu
fiquei quieto. Além disso, eu sabia que no fundo, Asuka provavelmente
não achava que Touji era um pervertido. Ela apenas precisa reclamar.
"Ok, ela gosta dele e eu sei que Touji tem uma queda por ela também. E daí?"
"E daí? Nós ajudamos eles a ficarem juntos, naturalmente!"
"Nós? Porque nós?"
"Porque eu tenho um plano. E preciso da sua ajuda."
"Eu? Eu nem mesmo consigo resolver os problemas da minha própria vida amorosa!"
"Porque você é muito idiota para se dar conta que a garota
maravilha não é páreo para mim!"
Eu tentei ignorar o ultimo comentário. Não era hora para *aquela*
luta. De novo.
"Então, o que você tem em mente?" Eu perguntei, tentando mudar de assunto.
Asuka levou um tempo olhando em volta. Seja o que for que ela
estava procurando, ela não parecia satisfeita pelo que ela viu. Em
alguns segundos, ela acabou a sua comida, então me agarrou e me
arrastou para uma sala deserta.
"Menos ouvidos curiosos aqui," ela explicou, olhando para o meu olhar perplexo.
Qual era a daquela paranóia repentina?
"Um acampamento", ela disse baixinho.
"Uh?"
"Um acampamento. Nós todos vamos a uma viagem para acampar."
"Um acampamento?"
Como isso ia supostamente por Touji e Hikari juntos?
"Sim. Você vai com Touji. Eu vou com Hikari. Então, por uma jogada
do destino, nós todos nos encontramos naquele lago que você me mostrou
no nosso primeiro encontro. Quando a noite chegar, você e eu sumimos
com a barraca que supostamente você ia usar com Touji, então ele e
Hikari não terão escolha à não ser dormir juntos na outra barraca. Se
Touji for como qualquer outro homem, ele vai pegar esta oportunidade
para fazer um movimento sobre ela. Plano perfeito."
Eu não estava certo se tinha gostado daquele plano. Ele parecia... diabólico.
"E se ela não quiser que ele faça um movimento sobre ela?"
"Você esta brincando? Ela apenas esta esperando por isso!"
"Ela lhe disse isso?"
De repente, Asuka ficou bastante embaraçada.
"Bem... não..."
"Você não sabe, então!"
"É claro que eu sei! Lembra-se de quando eu passei uns dias na casa dela?".
Você devia ouvir ela quando ela dorme, murmurando o nome daquele baka e..."
Ela estava quase vermelho vivo agora.
"E o que?"
"Eu realmente não posso te dizer. Você ia sangrar pelo nariz..."
Sendo um garoto, eu imaginei algumas situações
possíveis. Todos eles com o potencial de ser acertado por Asuka e
chamado de pervertido se eu os expressasse. Como as minhas
próprias bochechas ficaram vermelhas, Asuka pareceu entender o que se
passava pela minha cabeça.
"Pervertido!"
"Ouch!" Eu reclamei, depois de tomar um tapa na nuca.
Antes que eu me desse conta, falei demais. De novo.
"Como se eu não tivesse certeza de que você não fez nada quando a ouviu!"
"O que!?"
Desta vez ela me bateu.
"Você é realmente pior que o Touji!"
Antes que eu pudesse pensar em uma resposta, ela voou para
fora da aula. Então, sua cabeça reapareceu.
"Você vai vir comigo ao shopping depois da escola, nós temos
equipamento de camping para comprar. Tente controlar seus hormônios
neste meio tempo."
Dito isso, ela se foi novamente.
"Esta garota é um saco. Mal posso esperar por amanha. É mais seguro com Rei."

                                * * *

"Um acampamento?" Perguntou um confuso Touji. "Você esta me pedindo para acampar com você?"
"Bem... sim."
Oh, cara... isso não vai acabar bem. Eu sei, isso é uma má
idéia. Porque algo tão complicado? Porque Asuka não pode pensar em
alguma coisa simples como ir a um cinema e colocar os dois sentados
juntos?
"Não sei. Isso é mais coisa do Kensuke..."
Eu sabia. Ele estava tentando arranjar um jeito de pular fora.
"Eu pedi pra ele, mas ele disse que não podia. Alguma coisa
sobre um novo projeto militar Top Secret. Vamos lá, vai ser
divertido. Você não esta cansado de Tokyo-3? Eu estou."
"Bem..."
Hora de suplicar, eu acho.
"Está tudo pronto! Eu não quero ir sozinho..."
"Misato vai deixar você ir? Assim?"
"Ela me deu um daqueles dispositivos de rastreamento. NERV vai
saber exatamente onde eu estou e eles podem me levar para o quartel
general em menos de dez minutos. Além do mais, nós somente vamos estar
fora entre sábado de tarde e domingo de tarde. Eu realmente duvido que
algum anjo vai escolher este horário para atacar..."
Bem, ao menos era o que eu esperava.
"E as suas namoradas? Você não é possuído pela Asuka nos
sábados? Com certeza ela não vai te deixar sair assim tão fácil..."
"Hey! Ela não me possui! E elas não são minhas namoradas!"
"É, certo..." disse Touji, mal suprimindo uma gargalhada.
Droga, eu realmente detestava ser lembrado de meus problemas com as garotas...
"Asuka não se importa."
Se ele soubesse que na realidade era uma idéia dela... talvez
Touji estivesse certo. Eu realmente precisava me impor um pouco mais
com Asuka...
"Oh, tudo bem... eu vou com você!"
"Ótimo! Acredite em mim... você não vai se arrepender!"
Silenciosamente, eu esperava que isso fosse verdade...

                                * * *

Uma vez fora de Tokyo-3, Touji pareceu relaxar um pouco. Uma vez
que nos finalmente chegamos ao lago, ele parecia realmente feliz por
ter concordado comigo.
"Você sabe, Shinji... ate que isso não é uma má idéia afinal de
contas," disse Touji, perdido na sua contemplação do lago.
Eu somente ouvi metade do que ele dizia. Sem me dar conta, eu
caminhei até o lago e parei a alguns metros dele. Eu me abaixei, e
toquei a grama verde. Não havia nada demais sobre aquele pedaço de
grama em especial, mas as memórias que isso trouxe a tona me trouxeram
uma vasta gama de emoções. Foi aqui que eu partilhei meu primeiro
beijo com Asuka...
"Então, este é o lugar?"
Espantado, eu levantei a minha cabeça para ver Touji ao meu lado,
um grande sorriso na sua face.
"O que você quer dizer?"
"Qual é, Shinji. Eu ouvi a historia. Aqui foi onde você beijou
Asuka pela primeira vez, não é?"
"O que?! Como você sabe disso?"
"Hikari."
"Eu entendo... eu imagino que garotas falem sobre isso..."
"Então, este é o lugar?"
Eu balancei a cabeça afirmativamente. O sorriso de Touji aumentou
ainda mais. Eu estava a ponto de mandar ele calar a boca quando alguém
chamou nossos homens.
"Suzuhara-kun? Ikari-kun?"
Por mais que eu esperasse essa reviravolta nos acontecimentos,
ainda sim foi surpreendente. Não tanto como para Touji, contudo.
"In... Inchou?" (*)
Ambas as garotas apareceram atrás de nos, carregando mochilas
semelhantes às que eu e Touji tínhamos trazido. Enquanto Asuka parecia
obviamente tranqüila com o peso em seus ombros, Hikari parecia quase
exausta. Eu fiquei apenas um pouco surpreso com Touji correndo para
ela e tirando aquele peso dos ombros dela. Hikari agradeceu a ele e
ambos coraram.
Quando eu tirei meus olhos daquela cena, eu me dei conta que
Asuka estava me encarando. Eu entendi porque quando me dei conta que
eu estava ainda ajoelhado naquele pedaço de grama. Silenciosamente,
Asuka caminhou para mim. Eu me levantei. Nos olhamos por alguns
segundos, então Asuka, me surpreendeu com um beijo profundo. Eu sabia
que Touji e Hikari estavam olhando, então eu congelei a principio. Era
a primeira vez que nós nos beijávamos em publico. Mas depois de um
curto intervalo, eu esqueci de meus amigos.
"Desta vez, nós fizemos direito," sussurrou Asuka, depois que
ela se separou.
Quando eu voltei a minha atenção para meus amigos, eu me dei
conta que Hikari tinha um olhar espantado na sua face, enquanto que
Touji mostrava de novo aquele maldito sorriso.
"O que os rapazes estão fazendo aqui?!" gritou Asuka de
repente, me assustando. Eu sabia que era parte do plano dela para
tentar convencer Hikari e Touji que isso não era um esquema, mas eu
ainda não esperava que ela gritasse logo depois de me beijar.
"Acampando naturalmente!" respondeu Touji, apontando para
nossas coisas, a poucos metros de distância.
"Que coincidência!" exclamou Hikari. "Nós viemos aqui fazer o
mesmo..."
Isso era perfeito. Ela mesma apresentando a hipótese de
coincidência era a melhor coisa que podia ter acontecido. Contudo,
mesmo que ele não mencionasse isso, eu podia sentir que Touji estava
cético quanto a isso.
"E ai, o que nós fazemos agora?" eu perguntei.
Asuka esperava que Hikari aproveitasse a situação. Ela fez.
"Bem, nós tínhamos planejando uma viajem de garotas, mas agora
que estamos todos juntos, porque não ficamos todos aqui? Seria
divertido! Quanto mais melhor!"
Eu notei que Asuka teve problemas em esconder um sorriso. Se
dando conta disso, ela voltou ao seu eu normal, que era gritando e
fazendo muito barulho por nada.
"O quê?! Você quer que a gente acampe aqui? Com esses pervertidos?!"
"Nós não somos pervertidos!" eu disse.
A partir deste ponto, as coisas apenas evoluíram para a
espécie de discussão que tínhamos sempre.
"Você é! Eu estou certa que você ouviu que eu vinha aqui e
veio para se aproveitar da situação! Sem Misato por perto... Admita,
você e o outro baka planejaram tudo isso para que então pudessem fazer
todo o tipo de coisas pervertidas conosco, garotas indefesas!"
"O que?!" gritou Touji.
"Oh, meu..." disse uma confusa Hikari.
A discussão continuou por um tempo, até que ficamos cansados
disso e todos decidiram ficar, exatamente como Asuka tinha planejado,
naturalmente. Como a hora do jantar estava chegando rapidamente,
ninguém teria tempo de encontrar um lugar para acampar. Logo, Touji e
eu ficamos com a tarefa de erguer as barracas, enquanto que Asuka e
Hikari iriam para o mato colocar seus trajes de banho.
"Porque nos sempre acabamos fazendo todo o trabalho?" reclamou
Touji, enquanto tentava descobrir como armar a  barraca de Asuka.
"Porque nos somos homens? Alem do mais, eu estou certo de que
você esta feliz por dar uma mão a Hikari..."
"É, mas esta é ainda a barraca do Demônio..."
"Hey! Asuka-chan não é tão má assim!"
"Oh, então é Asuka-chan agora? Aquele beijo deve ter alguma
coisa..."
Droga! Eu tinha deixado o "chan" escapar... Oh, bem, depois do
que ele tinha visto antes...
"Nah... não era nada. Você devia ver quando nós dormimos
juntos..."
"O que?!"
Touji estava tão espantado que soltou a barraca. Tudo veio
abaixo. Eu sorri. Eu tinha a minha vingança.
"Oh, cara! Eu vou ter de começar tudo de novo!"
Não pude fazer nada a não ser explodir em uma
gargalhada. Touji logo me seguiu. Ate agora, tudo parecia indicar que
ia ser um dia bem agradável.

                                * * *

O dia tinha passado bem. Como as garotas tinham decidido
pegar um sol enquanto nós tomávamos conta das barracas, parecia que a
tarefa de pegar madeira para o fogo e preparar a comida iam cair sobre
nos, os cavalheiros. Sendo as habilidades culinárias de Touji
limitadas ao uso de comida de microndas, ele decidiu tomar conta da
madeira. Quando ele tinha juntado uma quantidade razoável de galhos e
gravetos, eu comecei a preparar uma pequena fogueira de
acampamento. Quando as garotas ficaram cansadas de apenas ficar
atiradas por ai, nossa comida estava a caminho e o sol estava
lentamente nos deixando.
Comemos, então conversamos por um tempo até que Asuka foi a
sua barraca e voltou, carregando uma garrafa de sake e um six pack de
Yebisu em cada mão.
"Vamos começar a festa de verdade agora!"
Isso era, pelo menos, mais que surpreendente.
"Onde diabos você conseguiu isso, Asuka?!"
"Onde você acha? No mesmo lugar que Misato compra o seu
suprimento semanal de álcool. O dono não suspeitou de nada quando eu
coloquei essas na conta dela."
"Você fez o que?!"
"Relaxe Shin-chan... ou você acha que ela tem uma conta de quanto ela compra..."
Eu balancei a minha cabeça sem acreditar. As vezes, Asuka ia muito longe...
"Nós não devíamos beber... somos muito jovens..."
"Oh... o pequeno Shinji esta com medo?"
"Eu não estou com medo!"
"Prove."
Ela me deu uma cerveja, um sorriso provocador na cara.
"Não vai funcionar Asuka. Eu não vou beber isso."
"Como eu pensava. Você é um covarde. Diga, Touji, você é mais
homem que o Shin-chan aqui?"
"Eu não tenho nada que provar a você."
Eu esperava que Asuka desistisse, mas em vez disso, um imenso
sorriso apareceu na sua cara, enquanto ela olhava para Hikari.
"Então eu acho que você é a única que sobrou, Hikari. Devemos
mostrar a estes garotos que temos mais estomago que eles?"
"Eu não sei Asuka..."
"Você não quer que os garotos aqui pensem que você é uma
garota tímida, você quer, Hikari-chan?"
Eu sabia que quando ela disse 'garotos', Asuka queria dizer
'Touji'. E pela maneira que Hikari olhou para meu amigo, eu sabia que
Asuka tinha acertado no ponto.
"Não... claro que não..."
Relutantemente, Hikari pegou a lata de Yebisu que Asuka passou
pra ela, antes de pegar uma para ela. Ambas abriram suas latas. Hikari
tomou um golinho tímido.
"Não é tão ruim ..."
"Vamos lá, Hikari, não é assim que se bebe!"
Eu fiquei chocado de ver Asuka levantar a lata e fazer uma
muito boa imitação da Misato. Eu estava impressionado. Ela bebeu a
lata inteira de um gole só. Eu não pude deixar de pensar que esta não
era primeira vez que Asuka bebia cerveja.
"AAhhh0! Misato está certa, isso é que é forma de beber!"
"Você quer que eu faça isso?!" gritou uma ainda chocada Hikari.
Asuka assentiu.
Por um tempo, Hikari encarou a sua lata... então ela tentou
imitar o que Asuka tinha feito alguns minutos antes. Ela realmente não
conseguiu isso, mas ela ainda bebeu a maioria antes de quase engasgar
e espirrar quase tudo sobre ela. Então ela estourou em um acesso de
gargalhadas, seguida por Asuka. Touji e eu olhamos um para o
outro. Ambos acenamos com a cabeça ao mesmo tempo e pegamos cada um
uma cerveja...

                                * * *

Eu não tenho vergonha de admitir isso. Eu não agüento álcool. Era
assim antes e é assim agora.
Depois da primeira lata de Yebisu, eu senti os efeitos. Eu
estava um pouco alto e me dei conta que estava rindo um pouco mais
alto do que de costume. Depois da segunda lata, eu tive problemas em
caminhar em linha reta, o que eu descobri ser muito chato quando você
tem que caminhar uma certa distância para conseguir privacidade para
pagar um dos efeitos colaterais da cerveja. Depois da terceira lata e
um par de doses da garrafa de sake de Asuka, me dei conta que qualquer
tentativa de mover qualquer um de meus membros de forma coordenada era
quase inútil. Embora a minha mente estivesse mais ou menos limpa,
meu corpo estava totalmente fora de controle. E conforme o tempo
passava, eu lenta mas certamente cai no sono.
Finalmente, eu não fui o primeiro a ficar bêbado. Hikari
estava completamente fora de controle antes de eu terminar a minha
segunda lata. Eu devo dizer que era... uma visão interessante. Eu não
sei se ela estava fingindo estar bêbada como uma desculpa, ou se ela
realmente estava tão bêbada, mas logo, ela estava desabando em cima de
Touji. Primeiro assustou demais o garoto, mas pouco tempo depois, ele
pareceu relaxar e começar a aproveitar a situação. Talvez a cerveja
estivesse ajudando.
Asuka rapidamente seguiu o exemplo de Hikari e logo estava em
cima de mim.
Como em Hikari, os efeitos do álcool rapidamente apareceram na
sua atitude, enquanto ela ficava mudando de um comportamento demasiado
alegre para uma atitude tímida e silenciosa.
Touji não parecia realmente afetado pelo álcool, se nós não
levarmos em conta o fato de que ele ficou rapidamente confortável com
a atenção que Hikari dava a ele.
Uma coisa era certa, nós estávamos nos divertido, alguma coisa
que eu não experimentava seguidamente. Nós cantamos, contamos piadas
das quais normalmente não iríamos rir se estivéssemos sóbrios, e mesmo
chegamos ao ponto de um mergulho da meia noite no lago. Felizmente,
nenhum de nós era estúpido o suficiente de nadar muito pra longe,
então nenhum acidente desafortunado aconteceu.
Eu acho que a festa acabou quando Asuka achou que eu estava
realmente caindo.
"Se vocês me dão licença, eu vou colocar meu querido Shin-chan
antes que ele caia no sono e de um jeito de desabar dentro da
fogueira, ou algo estúpido assim."
Touji, é claro, deu uma boa risada.
Eu senti alguém me agarrando e me arrastando para algum
lugar. Isso deve ter sido bem difícil para a pobre Asuka, porque eu
realmente tinha problemas em caminhar. Não que eu realmente tivesse
tentado ajudá-la...
Eventualmente, eu ouvi o som de um zíper sendo aberto e eu fui
atirado dentro da minha barraca.
"Oh, yeah..." disse Asuka a Touji antes de me seguir, "amanhã
cedo, eu vou trazer minhas coisas para cá e colocar a suas em minha
barraca. Certamente você entende que eu quero passar a noite com o meu
querido Shin-chan..."
"O que?!" gritou o que parecia um obviamente chocado Touji.
Eles discutiram por um tempo, mas eu não prestei
atenção. Preguiçosamente, eu tirei meus sapatos usando apenas meus pés
e me arrastei em direção ao meu saco de dormir. Bem, eu achava que era
o meu, já que havia apenas um na minha barraca e estava onde eu tinha
posto ele da ultima vez. Lentamente, eu o abri, me arrastei pra dentro
dele, mas não fechei. Eu me sentia muito preguiçoso para tirar minhas
roupas, então eu apenas me atirei, pronto para uma bem vinda noite de
descanso. Naturalmente, eu fui sacudido até ser acordado por Asuka
poucos minutos depois. Eu acho que isso significava que ela tinha
vencido a discussão.
"Vamos lá, não durma ainda, seu baka! Meu Deus, e eu te falo de
baixa tolerância ao álcool. Você é realmente patético..."
Estas palavras me acertaram como uma ameaça. Esta não era a
garota bêbada que tinha tropeçado em mim a pouco. Este pensamento foi
o suficiente para me manter acordado por enquanto. Quando eu abri meus
olhos, eu me dei conta que Asuka parecia normal.
"Bem, assim é melhor. Se estamos presos juntos, você pode ao
menos me fazer companhia."
"Você faz isso parecer como se fosse algo ruim. Você sabe, é
você que está sempre subindo na minha cama!"
"Naturalmente... a sua cama é mais confortável que a minha."
Por alguns segundos, eu realmente perguntei a mim mesmo se ela
estava sendo sincera.
"Falando de cama, onde está seu saco de dormir?" eu perguntei,
tentando mudar de assunto.
"Deixei no apartamento, eu tinha de arranjar espaço para a
cerveja e para o sake."
"E o que você vai fazer?"
"O que você acha? Usar o seu é claro!"
"O que? Ele é meu!"
Para confirmar meu clamor, eu agarrei ele com toda a forca que
eu consegui. Asuka apenas deu de ombros.
"E dai? Tem espaço suficiente para dois..."
Era provavelmente inútil tentar argumentar, então eu mantive a
minha boca fechada. Ia ser um pouco apertado, mas eu acho que podíamos
dar um jeito de nos apertar. Eu realmente pensava... quando nós fomos
fazer compras, ela havia insistido em que eu levasse um maior, dizendo
que eu ia ficar mais confortável.
Será que ela já havia planejado deixar o dela em casa naquela
ocasião? Mas se sim, porque ela comprou um em primeiro lugar? Apenas
para que eu não suspeitasse? Isso parecia um pouco demais, mesmo para
alguém como Asuka.
Oh, bem... não era como se fosse a primeira vez que íamos
dividir espaço para dormir...
"Shinji? Você me acha bonita?"
Eu fui trazido de volta por esta pergunta, mas eu respondi
antes mesmo de pensar. Não que eu tivesse que pensar muito a esse
respeito.
"Naturalmente eu acho que você é bonita, Asuka-chan! Quem não
acharia você linda...?"
Eu esperava que ela fosse toda sorrisos depois desta resposta,
mas seu rosto estava bem sério. Eu não me lembrava de ter visto ela
assim antes. Parecia... como se eu tivesse olhando para a Rei que eu
conhecia dois meses atrás.
"Você me acha mais bonita que Rei?"
Eu emperrei naquela pergunta. Eu realmente não sabia o que
dizer. Se eu dissesse não, eu poderia machucá-la. Se eu dissesse
sim, Asuka provavelmente contaria a Rei. Porque ela tinha de me
perguntar aquilo...?
"Ambas são as garotas mais bonitas que eu conheço!"
Eu sabia que isso não ia satisfazê-la, mas ia me dar algum
tempo. Não que fizesse alguma diferença...
"Oh... então, sou tão bonita quanto ela, não sou?"
Eu acenti nervosamente. Parte de mim, contudo, estava
realmente preocupado com ela. A maneira como ela tinha feito aquela
pergunta, em uma voz monótona similar a de Rei...
"Eu entendo..."
Com medo, eu esperei a sua fúria. Eu nunca teria imaginado o
que fez a seguir.
Ela ficou em pé, então, antes que meu cérebro registrasse o
que ela estava fazendo, ela deixou a parte de cima de seu biquíni cair
a seus pés. Eu estava chocado alem do possível. Sem mencionar um pouco
assustado.
Parado, eu nada podia fazer a não ser encarar seus recém
expostos seios. Era, afinal de contas, uma visão adorável... contudo,
eu me sentia um pouco confuso por causa de seu rosto sem emoções. Era
como se o que ela tivesse acaba de fazer não significasse nada para
ela.
"Então, Rei ainda é mais bonita que eu?"
Eu tentei dar alguma espécie de resposta, mas nenhuma palavra
conseguiu chegar na minha boca.
"Eu vejo que você precisa ainda ser convencido."
Eu ainda não consigo imaginar que eu não tenha desmaiado ou
sofrido de um gigante sangramento de nariz quando eu me dei conta que
o "convencimento" consistia em remover a parte de baixo do seu
biquíni. Parte de minha mente mandava eu fechar os olhos e correr, mas
outra parte estava tão fascinada que não podia fazer nada além de
olhar. E foi isso que eu fiz.
"Então, eu sou mais bonita que ela?"
Eu apenas balancei a cabeça como um idiota. Se era isso que
ela queria ouvir, era isso que eu iria dizer. Para ser sincero, eu não
parei para pensar muito nisso. E eu nem me importava com isso no
momento.
Eu mal reagi quando Asuka lentamente se moveu para cima de
mim, seus joelhos de cada lado do meu corpo. Provavelmente demais para
a minha cabeça...
Ela se curvou sobre mim, então seus seios ficaram apenas a centímetros de mim.
"Você quer eles?"
"Asuka, você deveria parar com isso..."
Ela não ouviu. Em vez disso, ela agarrou cada um de meus
pulsos e simplesmente colocou minhas mãos em seus seios. Eu engasguei
com o toque. Eles eram macios, mas firmes, mornos, e deliciosos. Eu me
dei conta que isso era um pouco parecido com os seios de Rei que
eu acidentalmente agarrei alguns meses antes. Contudo, diferente
daquela vez, eu tive tempo para aproveitar.
Novamente, eu senti uma ponta de preocupação porque a face de
Asuka parecia fixa em uma mascara de indiferença. Alguma coisa estava
errada aqui...
"Asuka... nós... não devemos fazer isso..."
Eu disse as palavras, mas parte de mim não queria. Eu estava
nervoso como o diabo, mas eu sabia que esta não era a razão pela qual
eu tentava resistir àquela deusa ruiva. A única coisa que me impedia
de me entregar a ela era o medo. Medo de machucar Rei. E medo de
machucá-la também...
Eu dei um suspiro de alivio quando Asuka removeu minhas mãos
dos seus seios, mas eu congelei quando ela começou a abrir o meu
cinto. A garota não tinha ouvido uma palavra do que eu tinha dito. Eu
realmente não podia culpa-la, desde que eu não estava oferecendo muita
resistência. Sem mencionar que uma certa parte de minha anatomia
claramente mostrava que eu não acreditava muito nas minhas palavras. E
não ajudou nem um pouco quando eu soltei um leve gemido, quando a sua
mão "acidentalmente" o tocou. Finalmente, alguma expressão apareceu na
sua face. Um pequeno, mas claro sorriso.
"Esta noite, você é meu."
"Asuka, por favor..."
Eu não consegui dizer mais nada quando minhas calças saíram.
"Eu serei sua primeira. Desta vez, eu vou ganhar de Rei..."
Estas palavras tiveram tanto impacto quanto uma explosão de
N2. Meus pensamentos se tornaram cristalinos quando eu entendi a dura
realidade. Com estas palavras, todas as peças do quebra cabeça se
encaixaram. O acampamento.
Ficarmos bêbados. Dividirmos a mesma barraca. Mesmo a
expressão de Asuka. O propósito de Asuka nunca foi ajudar Touji e
Hikari a admitirem seus sentimentos. Desde o começo, a única intenção
de Asuka era conseguir o que Rei tinha falhado em fazer: fazer sexo
comigo. Não era nem mesmo uma coisa que ela queria fazer, a sua
atitude fria provava isso. Mesmo sem pensar, minha mão deu um
safanão. Asuka caiu, seus olhos arregalados de surpresa. Ela levou
seus dedos trêmulos a face que eu havia esbofeteado.
"Todo o tempo, você esteve me manipulando... alguma vez você
se importou comigo? Ou era apenas uma competição com Rei, comigo como
troféu?"
"Shinji... eu..."
"Cala a boca."
Eu tinha falado em uma voz um pouco mais alta que um
suspiro. Mas teve mais efeito do que se eu tivesse gritado, porque as
palavras carregavam toda a dor que eu sentia. Eu coloquei minhas
calças, peguei minhas coisas, com exceção do saco de dormir, e saí da
barraca. Estranhamente, eu não sentia mais os efeitos do álcool.
"Shinji!"
Ela gritou meu nome algumas vezes. Enquanto eu caminhava em
direção ao fogo, eu ignorei seus chamados.
Finalmente, minhas pernas desistiram e eu desabei. Eu não
tentei me levantar. Eu não tinha força, ou vontade. Se a morte tivesse
vindo em minha direção, eu não teria me movido.
"Porque?" eu gritei, acertando a grama com meu punho.
Porque? Como ela poderia ter feito isso? Ela alguma vez me amou,
desde o principio?
'Você não deve se preocupar com ela. Se ela nem mesmo pode
dizer que te ama, então ela não pode ser mais que uma amiga.'
Talvez Rei estivesse certa. Asuka realmente nunca tinha dito
que me amava. Apenas que ela gostava de mim. Isso podia significar
qualquer coisa...
Naturalmente, eu era culpado do mesmo crime. Eu nunca tinha
encontrado coragem para contar a ambas que eu as amava. Mesmo assim,
eu sabia que eu amava. Mas eu nunca contei a elas, temendo que estas
palavras machucassem uma delas se eu escolhesse a outra.
Poderia isso ser apenas um equívoco...
'Desta vez, eu vou ganhar de Rei...'
Não, não havia outra maneira de interpretar aquelas
palavras. Asuka estava apenas... brincando comigo. Como ela sempre
fazia.
Eu senti vontade de chorar, mas resolvi que não. Eu já tinha
sofrido demais por causa de meu pai. Eu não ia chorar por outro
manipulador.
"Maldita, Asuka!!! Maldita! Maldita! Maldita ..."

                                * * *

"Cara, você parece terrível..."
Eu levantei a minha cabeça, o suficiente apenas para ver que
Touji tinha se juntado a mim perto do fogo.
"Você deveria estar nos braços de Hikari agora, não aqui
tentando me alegrar..." eu disse a ele, tentando afasta-lo. Eu não me
sentia a vontade para receber a pena de outra pessoa.
"É... mas parece que Hikari não consegue agüentar
álcool. Ela adormeceu no instante em que deitou no saco de dormir."
"É uma pena."
"Não é tão mal assim. Eu sei como ela se sente agora. Obrigado Shinji."
Eu olhei para ele perplexo.
"Ei! Eu não sou idiota!" disse Touji. "Eu sei que não foi uma
coincidência nós termos nos encontrado aqui."
"Isso foi tudo coisa da Asuka. Ela deve ter querido me
arrastar para longe da Misato e da Rei então ela poderia me usar como
o idiota que eu era."
"Talvez... mas você... você fez isso por nós, não foi? Então,
mais uma vez, obrigado, Shinji."
Eu levei algum tempo para analisar o que Touji tinha
dito. Então eu sorri.
"Ei, se esta bagunça pode fazer meu melhor amigo feliz, então
eu acho que valeu a pena."
Touji sorriu em resposta. Aí, ele me deu um olhar sério, o
tipo que apenas aparecia em sua face quando ele estava preocupado.
"E aí, o que aconteceu?"
Eu expliquei tudo a ele. Mesmo os detalhes mais íntimos. Não
era como se tivesse significado qualquer coisa de qualquer forma.
"Se não fosse pelo fato que eu estaria zangado também se fosse
você, eu te chamaria de idiota. Um monte de caras mataria por uma
chance com aquela garota."
"Ela pode trepar com qualquer cara que ela quiser, eu não me
importo..."
Sem qualquer aviso, Touji me acertou com força na cabeça.
"Ei!"
"Baka! Você não quis dizer isso que eu sei! De outra forma,
você não ia se sentir tão miserável por causa disso."
Mesmo que eu odiasse admitir, ele estava certo.
"Eu acho que você está certo. Talvez seja por isso que
machuque tanto. Você sabe, eu invejo você Touji. Hikari é uma garota
legal. Ela é bonita, honesta e realmente se importa com você. Você não
vai ter uma vida amorosa complicada como a minha."
"Talvez você deva deixar Asuka se explicar..."
"Então ela poderia tentar me manipular novamente? Não."
Por um tempo, ambos ficamos em silêncio, não sabendo o que dizer.
"Ao menos, você ainda tem Rei. Não há nenhuma duvida que ela te ama."
"Rei."
À menção do nome dela, meu coração pareceu realmente mais leve.
"Talvez você deva ficar feliz com isso. Isso resolve o seu
problema. Agora que as coisas estão acabadas com Asuka, você pode
agora seguir adiante com Rei. Você disse que amava as duas
igualmente. Uma ou outra... qual a diferença?"
Estas palavras me perturbaram. Estava... estava realmente
acabado? Assim? Mas Touji estava certo. Isso resolveu meus
problemas. Resolveu? Repentinamente, eu não estava mais certo. Eu
pensava que eu amava ambas igualmente. Mas era realmente o caso? E
se... se eu amasse Asuka mais que Rei?
"Me diz, você não vai dormir aqui fora, vai? Você pode dormir
em nossa barraca se você quiser."
"Não, eu não quero me meter."
"Falo sério, Shinji..."
"Eu vou ficar aqui, Touji."
Se dando conta que não ia me fazer mudar de idéia, Touji
saiu. Ele rapidamente voltou de sua barraca, trazendo um saco de
dormir.
"Toma. Ao menos você não vai pegar um resfriado."
"E você? O que vai fazer?" eu perguntei, preocupado.
"Eu dou um jeito, não se preocupe. Ao menos eu não tenho de me
preocupar com chuva ou com vento."
"Valeu, Touji."
Touji me deu um sorriso orgulhoso.
"Ei! Amigos são pra quê?"
Então uma expressão séria apareceu em seu rosto.
"Shinji... nós vivemos em um mundo louco. Você deve saber isso
melhor que qualquer um. Qualquer que seja a decisão que você tome, não
espere demais. Porque se você fizer isso, alguma coisa pode acontecer
e você pode se arrepender. Pense sobre isso. Eu tenho feito o mesmo
nas últimas horas..."
Quando Touji saiu, eu realmente tinha um monte de coisas em
que pensar.
Eu desejei ter trazido o meu SDAT player. Ele sempre ajudou a
tirar qualquer pensamento de minha mente.
Droga...

                                * * *

Eu acordei, me arrependendo do que eu tinha feito. Eu não
sabia se era resultado do álcool, ou o fato de que tinha dormido sob
as estrelas, mas eu me sentia miserável. Bem, mais do que na noite
anterior. Eu estava me sentindo tonto, como se todos os meus músculos
doessem. Minha boca estava seca e áspera, como seu eu tivesse comido
areia. Na noite anterior o álcool tinha afetado meus membros, mas
deixado a minha mente livre, hoje os efeitos eram o contrário. Eu
tinha controle perfeito sobre meu corpo. Era perfeito. Parecia que eu
era super sensível a tudo. Cada movimento mandava uma tempestade de
sinais para meu cérebro. Nada era perdido, nenhuma sensação era
pequena demais para sobrecarregar a minha mente com um zunido.
Esta avalanche de sentimentos se adicionou ao me sentimento
geral de estar em frangalhos. Eu tinha sido traído. Novamente. Traído
por alguém que eu pensava que eu amava.... Não. Não pensava que eu
amava. Amava. Era o que fazia isso tão doloroso. Eu não tinha nada
aqui. A euforia que eu tinha experimentado ontem tinha virado cinzas,
me engasgando com seus restos. Eu devia ter me lembrado o que eu tinha
aprendido antes de vir para Tokyo-3: nunca abra seu coração. Eles não
podem te machucar se você não deixar eles entrarem nele. Eu deixei
Asuka entrar; eu pensei que eu podia confiar nela. Em vez disso ela
arrancou um pedaço de mim. Eu quase podia ouvir ela rindo
debochada. Pior, eu quase podia ver o sorriso irônico na sua face! Eu
vi o mesmo sorriso em meus pesadelos.  Era o mesmo com o meu pai. Isso
era o que mais doía.
Dolorosamente, eu me levantei e encarei o céu. Era quase
amanhecer. Desperto, mas não estava concentrado naquilo
que eu estava fazendo, eu me arrastei de volta para o lago e, usando
as minhas mãos como um copo, eu tomei alguns goles de água, então
espirrei um pouco na minha cara. Por enquanto, eu tentei enterrar a minha
dor bem fundo, como eu sempre fiz. Eu achava mais difícil agora do que
de costume.
No processo de tentar me concentrar no que se passava à minha
volta, eu vi um importante detalhe que eu tinha negligenciado alguns
segundos antes. No chão estava caída uma toalha. Isso
significava... que alguém estava tomando banho no lago! E como eu
duvidava que Touji usasse calcinhas, esse alguém era provavelmente uma
mulher.
Okay, isso não era um problema... eu tinha apenas que me
virar, voltara para dentro do saco de dormir do Touji e fingir
dormir.
Mas parte de minha mente não podia deixar escapar um simples
pensamento... poderia ser Asuka.
Que patético. Com tudo o que ela tinha feito, aqui estava eu,
quase babando ao pensamento de vê-la...
Parcialmente descontente comigo, eu levantei a cabeça. Como eu
suspeitava, alguém estava no lago. Uma garota de cabelo marrom. Hikari
eu suponho, já que ela era a única garota de cabelos marrons a volta.
Eu não sabia se eu devia me sentir desapontado ou aliviado.
Como a garota não estava me olhando, ela não sabia que eu
estava olhando para as suas costas nuas. Naturalmente, com a minha
sorte nestas semanas, ela ia se virar antes de eu me decidir fazer o
mesmo. E daí, quando ela fez, eu não apenas confirmei que aquela garota
era Hikari, mas também tive uma perfeita visão de seus
seios. Embora a vista fosse bonita, nada pude a fazer a não ser
me deixar tomar pelo medo. Eu estava morto. Se Hikari não me matasse, Touji
iria. E eu estava certo que o sorriso idiota na minha cara não ajuda
em nada...
Que estupidez!
"Me desculpe!" eu dei um jeito de falar quando eu rapidamente
me virei e corri para o agora apagado fogo do acampamento onde eu
aguardei a minha sentença de morte.
Levou apenas um minuto para eu sentir uma presença as minhas costas.
"Ikari-kun."
"Horaki-inchou... eu... eu..."
Quando eu me virei, eu esqueci quaisquer desculpas que a minha
mente estava formando. Hikari estava parada na minha frente, usando
apenas calcinhas e a jaqueta esporte de Touji. O último fato pegou a
minha atenção. Eles tinham...? Quando eu vi uma expressão alegre
demais na face dela, eu concluí que estes dois realmente tinham de
fato... partilhado algumas horas felizes. Asuka estava certa afinal de
contas. Ao menos toda esta viagem não tinha sido um desperdício.
Asuka...
Poderia ela apenas me deixar em paz? Porque eu não podia tirar
ela de meus pensamentos?
Minha mente estava ausente novamente, eu primeiramente não
reagi quando Hikari se inclinou sobre mim e plantou seus lábios nos
meus. Mas quando eu tinha me dado conta já tinha acontecido... foi
apenas um beijo bem leve, mas mesmo assim me chocou.
"Obrigado, Playboy-kun..." (2)
Eu a encarei enquanto que ela ia para sua barraca, fazendo um
barulhinho alegre, e continuei encarando por um minuto depois que ela
entrou, meu cérebro incapaz de funcionar corretamente. Eu tentei
analisar os últimos eventos.
Touji e Hikari tinham aparentemente dormido juntos. Então, eu
tinha visto Hikari nua, mas eu ainda estava vivo. Não apenas isso, mas
ela tinha me beijado em vez de quebrar todos os ossos do meu
corpo. Certamente aquela garota não era a usualmente tímida, às vezes
mandona Hikari que eu conhecia. Talvez ela ainda estivesse
bêbada. É, devia ser isso. Satisfeito com essa conclusão, eu
decidi esquecer completamente os últimos minutos e começar um novo
fogo logo.
Ao menos, o que tinha acabado de acontecer tinha tido um
efeito colateral bom. Por alguns momentos, eu parei de pensar sobre
Asuka. E agora que eu pensava no que eu tinha visto alguns momentos
antes, eu não pude deixar de sorrir. Um pequeno sorriso, mas um
sorriso sem duvidas.
"Eu invejo você Touji. Ela é legal, bonita, e normal..."

    
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                           * * *

O café da manhã estava quase pronto quando Touji e Hikari
juntaram-se a mim. Eu notei que eles estavam de mãos dadas. Pela
primeira vez, nenhum dos dois estava tentando esconder seus
sentimentos pelo outro. De fato, com o largo sorriso que eles tinha na
cara, estes dois pareciam estar em uma espécie de paraíso particular.
Outro fato que me surpreendeu foi que Hikari não usava seu
cabelo da forma usual. Em vez disso, seu cabelo marrom estava caindo
sobre seus ombros. Este era um pensamento que eu geralmente tentava
evitar, mas desta vez, não consegui. Hikari era uma garota muito
bonita. Eu não pude deixar de tremer quando Hikari tomou conhecimento
de mim finalmente. Contudo, ela ficou quieta sobre o incidente
prévio. De fato, ela estava super gentil comigo. Talvez ela estivesse
tão feliz que não sentisse raiva de mim. Eu relaxei quando me dei
conta de que nós íamos apenas partilhar uma gostosa refeição. E eu
preciso admitir, mesmo que eu me sentisse um pouco embaraçado, eu me
diverti bastante olhando Hikari alimentando um embaraçado Touji. Logo,
estávamos todo rindo. Mas o riso morreu logo que Asuka saiu de sua
barraca.
Hikari se desculpou, murmurando alguma coisa sobre pratos
precisando ser limpos. Touji se ofereceu para recolher alguma madeira
para o fogo, Mesmo que ainda estivéssemos cheios. Eu estava sozinho
com Asuka. Que amigos eu tinha, desertando de mim como ratos fugindo
de um navio naufragando...
Asuka parou em frente de mim. Ela tinha uma face neutra, sem
emoções. Eu sabia que eu mesmo devia ter a mesma expressão.
"Shinji, eu..."
"Pare." Eu ordenei. "nem uma palavra. Eu não quero ouvir uma
palavra. Sem desculpas, sem explicações, sem insultos, nada."
Eu podia claramente ver a surpresa em seu rosto. e, em um
certo grau, a dor.
"Bem agora, eu não estou certo de que eu posso acreditar em
nenhuma de suas palavras."
Eu não dei a a ela a chance de responder. Eu saí. Ela não disse
nada para me parar. Bom.
Se ela queria um café da manha, teria de cozinhar ela
mesma. Eu não iria.

                                * * *

Uma hora depois, Hikari sugeriu que devêssemos voltar para
Tokyo-3. Nós silenciosamente concordamos. A diversão tinha acabado
agora. Pegamos nosso equipamento, e saímos. Asuka, Hikari e Touji
foram direto para casa. Contudo, os rumores dizem que naquele dia,
Touji e a representante de classe foram vistos juntos no parque, em
uma posição bastante comprometedora. Eles não negaram os rumores, mas
confirmaram com um beijo no meio de uma classe cheia de estudantes
espantados.
Eu vaguei um pouco antes de voltar ao apartamento. Com todo o meu
equipamento de camping, eu atraía muitos olhares curiosos, mas eu mal
notei. Eu tinha no que mais pensar. Eu deixei meus pensamentos
vaguearem.
Mãe. Ela me deixou. Às vezes tudo o que eu podia me lembrar
dela era o quanto me machucou quando eu soube que ela não ia mais
voltar.
Pai. Ele também, me deixou, mas eu sempre secretamente pensei
que a gente poderia ter outra chance. Bem, aquela esperança morreu
recentemente, e se eu não tivesse as duas garotas para pensar, eu não
sei o que eu teria feito.
E agora Asuka tinha me deixado também.  Não no sentido físico,
mas emocionalmente. Fez com que eu me sentisse usado, abusado,
controlado. Como sempre.
Eu sou tão patético...
Pessoas que eu amei morreram.
Pessoas que eu amei me deixaram.
Pessoas que eu amei me usaram.
Iam todos que eu amava me abandonar?
Não. Rei não iria. Rei não iria morre como minha mãe. Eu tinha
a capacidade de protegê-la. Nada aconteceria a ela, eu não
deixaria. Ela não me abandonaria como meu pai. Nos dois não temos
nenhum lugar para ir.
Ela ficaria comigo. E não me usaria, como... como...
Maldita!
Rei era tudo que me deixaram, tudo que eu podia contar. Mesmo
que não houvesse ninguém mais, eu sempre poderia acreditar nela
completamente.
'Rei contou a você seu segredo?'
Eu bani as palavras de meu pai da minha mente raivosamente. Eu
podia confiar em Rei. Eu podia! Ela nunca esconderia nada de mim. Ela
era a minha última esperança, E ela não me deixaria na mão.
Não deixaria.
Não deixaria...
Se ela fizesse...
Quando eu finalmente voltei ao apartamento, eu fiquei aliviado
quando Misato me disse que Asuka estava em seu quarto. Eu fui direto
pro meu, esvaziei a minha mochila da maioria de seu conteúdo, então
guardei minhas roupas. Eu agarrei minha pasta, meu SDAT player e saí
do quarto.
"Shin... Shinji? Onde... onde você vai assim?" perguntou
Misato, visivelmente surpresa e preocupada.
"Para a casa de Rei, Misato-san. Eu não estou certo de que eu
vou conseguir viver aqui agora."
Mesmo que ela ainda aparentasse preocupação, eu podia dizer
que Misato se sentiu aliviada. Ela tinha provavelmente pensado que eu
ia fugir de novo.
Eu dei um último olhar à minha volta. Para pensar que eu tinha
começado a considerar este apartamento minha casa. Agora que eu me
sentia em paz aqui, eu tinha de sair. Isso era algum tipo de destino
cruel? Primeiro, meu pai tinha me arrastado para fora da minha chata
mas pacífica vida na casa de meu tio. Agora, eu tinha de deixar este
lugar, chutado para fora por Asuka...
Eu odiava a minha vida.
"Quando você vai voltar?"
"Eu não sei. Talvez eu não volte."

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Parte 2 - Eu te amo

Eu acordei, ainda segurando o corpo nu de Rei em meus
braços. Como as nas primeiras manhãs desde que eu me mudei para o seu
apartamento. Como Misato não estava por perto, a garota de cabelo azul
não via a necessidade de vestir nada na cama. E depois das primeiras
noites que partilhamos, eu também não via o porque.
Enquanto eu encarava o teto, eu pensei no que tinha
acontecido a alguns dias atrás...

                                * * *

Depois de colocar as minhas coisas em um quarto vazio, eu
desabei no chão, incapaz de segurar as lágrimas ainda mais. Eu me
sentia mal. Eu era apenas um garotinho fraco. Não era de se espantar
que os outros me usassem como um brinquedo. Um brinquedo com o qual
você podia brincar, e então descartar quando você estiver cheio de
brincar com ele. Pai, e agora Asuka.
Através das paredes, eu ouvia gritos. Duas vozes que eu
conhecia muito bem. Misato estava obviamente muito furiosa com
Asuka. O melhor que eu pude, eu tentei me desligar delas. Mas a cada
vez que eu a ouvia... eu acho que eu estourei e gritei para elas
calarem a boca. Eu não estou completamente certo, talvez eu apenas
tenha imaginado que fiz isso. Mas momentos depois, eu parei de ouvi-las.
Logo depois, eu estava enlaçado nos delicados braços de Rei
enquanto que ela tentava me acalmar com palavras suaves e ternas. Eu
me sentia seguro e aquecido naqueles braços e deixei em seu ombro
todas as lágrimas que eu tinha mantido dentro de mim em todos estes
anos. Eu chorei até dormir.
Eu acordei na outra manhã e me encontrei ainda em seus
braços. Mas agora eu estava em sua cama, em vez de sentado no chão do
outro quarto. Eu não sei como ela deu um jeito de me carregar até aqui
sem me acordar. Talvez eu estivesse apenas muito cansado para acordar.
Eu me choquei de inicio, ao me dar conta que estávamos ambos
nus, mas logo relaxei, quando eu me senti calmo e relaxado.
Nós ficamos no apartamento toda a manhã. Eu tentei convencer
Rei a ir para a escola, mas eu não conseguia fazê-la mudar de
idéia. Ela apenas dizia que ela queria estar aqui comigo, que era mais
importante que escutar o Sensei murmurando sobre o Segundo
Impacto. Embora eu não dissesse isso alto, eu estava realmente feliz
por ela não ter ido.
Ela preparou um café da manhã para nós. Como sempre, eu não
pude deixar de me espantar no quanto ela tinha se tornado boa na
cozinha. Quando ela me passou uma xícara de chá quente, ela me
perguntou o que estava errado. Eu pedi para ela me seguir até a sala
de estar, onde sentamos em volta da mesa baixa. Então, eu contei a ela
tudo. Enquanto eu falava, eu notei que ela levantava as sobrancelhas
às vezes. Eu quando eu contei a ela o que tinha acontecido na barraca,
a raiva apareceu claramente na sua face. Mas ela rapidamente voltou ao
seu comportamento calmo e passivo. Uma vez que eu tinha contado a ela
tudo, suas palavras me surpreenderam.
"Eu não acho que ela queria machucar você."
"O que?! Como você pode dizer isso?! Ela me enganou! Ela usou
meus amigos para chegar em mim!"
"Talvez ela pensasse que era a única forma..."
"A única forma?"
Por alguns segundos, Rei pareceu perdida em seus pensamentos.
"Eu não estou certa. Existem muitas coisas sobre ela que eu
não compreendo. Existe uma parede em volta dela, uma parede que mantém
as pessoas longe. Deve ser duro para ela tentar expressar seus
sentimentos, quando tudo o que ela sabe é reprimi-los."
Atordoado, eu olhei para Rei enquanto meu cérebro
processava o que ela tinha acabado de dizer. De alguma forma, eu sabia
que ela estava certa. Asuka nunca se abriu. Ela era como uma
fortaleza. Impenetrável. Seu ódio era sua arma, cujo propósito era
manter as pessoas longe. De certa forma ela era... como eu.
Contudo, isso não podia explicar o que tinha acontecido
naquela noite. Não era apenas um problema de falta de comunicação. Ela
tinha me manipulado. Me usado. Usado Hikari. Usado Touji...
"Não deixe o passado te machucar..."
Eu senti a sua mão em meu braço. Só então eu notei que meu
ódio tinha feito em fechar a minha mão em forma de um punho. Seu toque
me acalmou.
"Eu estou aqui..."
Eu olhei para aqueles olhos vermelhos, logo abaixo daquele
cabelo azul e vi o quanto ela se importava comigo.
"Eu estou aqui por você..."
Lentamente, ela se inclinou sobre mim, seu olhar sem deixar o meu.
"Não existe necessidade de se preocupar com ela..."
Eu não pude resistir. Seus lábios eram como ímãs.
"Eu te amo Shinji..."
Eu me perdi em uma longa série de beijos profundamente
apaixonados. Mas eu estou certo que eu disse as palavras que vieram a
minha mente.
"Eu também te amo, Rei-chan"
Nós passamos a maior parte da manhã presos a um abraço
carinhoso. Apenas em seus braços eu sentia a calma e a paz que eu
tanto queria. Nós mal falávamos. Cada vez que o fazíamos, seguia um
simples padrão; eu diria o quanto eu me sentia traído e machucado por
Asuka e Rei simplesmente responderia que ela estaria sempre comigo.
Depois do almoço, Rei saiu do apartamento. Eu pude notar que
ela não queria, mas ela disse que ela tinha de ir a uns testes
marcados por Ritsuko.
Eu assegurei a ela que eu estaria bem. Mas antes disso, eu
perguntei se ela poderia pegar o meu cello no apartamento da
Misato. Uma vez que ela tinha ido, eu tentei me perder na música que
eu tocava. Eu não era muito bom com o instrumento, mas tocar me
ajudava a manter a minha mente longe de Asuka.
Todo dia, eu tentava me manter ocupado. Eu comecei por arrumar
meu novo quarto, o que foi feito bem rápido, já que não tinha muito
que ser feito. De um armário, eu peguei um futon, um travesseiro e
alguns cobertores sobressalentes. Rei tinha comprado estes por
sugestão de Misato, no caso de alguém precisar usar este quarto. Outro
exemplo de bom planejamento da Major. Como eu tinha apenas trazido
parte de minhas roupas, acertar tudo levou apenas alguns
minutos. Feito isso, eu vaguei pelo apartamento, em busca de algo,
qualquer coisa, que eu pudesse fazer. Mas ironicamente, agora que
tinha mostrado a Rei como tomar conta de seu apartamento, não havia
muito que fazer.
Tudo estava quase impecável, incluindo o banheiro. Mesmo assim
eu decidi lavar o Box e o vaso, bem como o chão e as janelas, de
qualquer forma. Então eu fui lavar um pouco de roupa, começando com os
lençóis de cama da Rei, seguido por tudo que eu podia encontrar na
cesta de roupa suja de Rei, bem como algumas de minhas próprias
roupas. Eu eventualmente me encontrei perdendo tempo, organizando as
coisas de sua geladeira, antes de desistir de tentar ser "útil". Como
Rei não tinha TV, eu finalmente agarrei meu cello e toquei pelo que
foi provavelmente o tempo mais longo de minha vida.
Eu não estava seguro de quando Rei voltaria, mas mesmo assim
eu fiz jantar para nós dois. Eu me dei conta que isso apenas faria
mais pratos pra serem lavados.
Quando ela voltou, algumas horas depois da hora do jantar, ela
me encontrou trabalhando duro no meu trabalho de casa. De alguma forma, eu
tinha feito mais trabalho de casa em um único dia que em todo um mês
inteiro.
Rei tentou se desculpar, mas eu a interrompi. Eu estava apenas
aliviado em vê-la de volta. Eu preparei uma refeição rápida para ela
e fiquei observando enquanto ela comia tudo. Ela não pode deixar de
enrubescer ao meu olhar.
Quando chegou a hora de ir para a cama, Rei pareceu
desapontada quando eu caminhei para o quarto de hóspedes, onde eu
tinha preparado um futon, mas não disse nenhuma palavra. Mesmo que
eu sentisse conforto em sua presença, eu não estava certo se eu queria
dormir na mesma cama que ela. Isso era como tudo tinha começado na
primeira vez...
Mais tarde naquela noite, eu parei contra o corrimão do
balcão, olhando a noite. Eu tinha sido acordado por pesadelos e desde
então eu tinha sido incapaz de fechar os olhos. Depois de ficar
cansado de encarar o teto nem um pouco familiar de meu quarto, eu
escolhi olhar uma vista mais agradável.
O ar da noite era frio contra meus braços e pernas nuas, mas
eu mal notava. Eu apenas olhava com fascinação para as luzes de
Tokyo-3. Tokyo-3... a cidade que eu estava defendendo. Porque eu não
me importava com isso? Realmente, o que sobrou para eu me importar?
Porque eu continuava?
Abaixando a minha cabeça, eu olhei a rua abaixo. Era uma boa
distância de onde eu estava no balcão. Não pude deixar de pensar... eu
ia sentir alguma dor se eu caísse daqui?
Novamente, talvez pela centésima vez, eu me lembrei da última
parte dos pesadelos que atormentavam o meu sono. Asuka estava parada
atrás de mim, um leve esgar em sua face. Então, entre risos, ela
dizia...
'Baka!'
'Apenas um brinquedo.'
'Um garotinho patético.'
'Você realmente pensou que eu podia te amar?'
'Você é tão patético.'
'Covarde.'
'Hipócrita.'
'Insignificante.'
'Incapaz.'
'Inútil!'
'Porque eu deveria me importar com você?'
'Quem iria amar um garoto como você?'
'Quem poderia...?'
'Quem poderia...?'
'Quem poderia...?'
Eu endureci quando senti de repente dois braços envolvendo a
minha cintura e uma cabeça descansando sobre meu ombro. Por um breve
momento, eu fiquei paralisado com medo, pensando que aqueles braços
pertenciam a Asuka, mas eu rapidamente relaxei quando me dei conta que
era realidade e não sonho, o que significava que estes braços somente
poderiam pertencer a Rei.
"Você vai pegar um resfriado se ficar aqui fora muito tempo",
ela sussurrou para mim. No ar frio da noite, eu podia sentir a sua
respiração morna contra o meu pescoço. Eu não podia nem começar a dizer o
quanto bom era isso justamente agora.
"Eu não consegui dormir."
Quando eu senti seus lábios contra a minha pele, lentamente
beijando cada parte de meu pescoço, eu perdi completamente o interesse
em qualquer pensamento anterior. Eu me virei e encarei a garota de
cabelos azuis. Ela vestia apenas uma leve camisola, que deixava muito
pouco para se imaginar. Eu tinha convencido ela a vestir ao menos
alguma coisa quando ela caminhava pelo apartamento, no caso de Misato
ou alguém mais da NERV aparecer sem anunciar. Ela também tinha a sua
cruz de prata, agora presa a uma corrente de prata. Pelo que eu sabia,
ela sempre usava isso, a não ser quando em trajes de banho em um
plugsuit. Ate agora, eu não tinha pensado em perguntar a ela o que a
cruz significava para ela.
Eu olhei para dentro de seus olhos vermelhos e vi o quanto ela
se importava comigo. De comum acordo, nossos lábios se encontraram e
nós ficamos presos nos braços um do outro pelo que pareceu uma
eternidade.
"Eu vou fazer você esquecê-la..."
Rei pegou a minha mão e me mostrou o caminho para o seu
quarto. Eu não fiz nada para resistir. Antes de deixar o balcão, eu
olhei mais uma vez para a nossa cidade. Eu estava errado. Ainda havia
algo com o que se importar...
No próximo dia, eu acordei para descobrir que Rei não estava
mais na cama. Um pouco preocupado, eu fui procurar por ela. Eu a
encontrei na cozinha, colocando um toque final no café da manhã. Nos
saudamos com um pequeno beijo, então ela me mandou sentar que ela ia
trazer a minha refeição. Era meio estranho ser cuidado assim. Um
pensamento estranho passou pela minha mente... isso era como uma
mulher trataria o marido... bem, a menos que ela tivesse algum
trabalho mais importante que isso. Eu mal podia pensar em uma mulher
como Misato ou Ritsuko tomando conta de seu marido... bem,
especialmente Misato, já que ela mal podia tomar conta de si
mesma. Ainda assim, aquele pensamento era estranho. Isso também me
lembrava do que Rei tinha dito um mês antes.
'Deve ser apenas uma questão de tempo ate estarmos noivos.'
Isso não era uma má idéia. Se estivéssemos noivos, ela não
teria nenhuma razão para fugir, certo?
"Coma com calma, Shin-chan. Eu vou tomar um banho, então
preparar o seu."
"Você não vai comer?"
"Eu não estou com fome. Não se preocupe, apenas aproveite a sua refeição."
"Eu sempre aproveito as refeições que você prepara."
Rei corou, então saiu. Uma vez que ela estava fora de minha
vista, eu alegremente comecei a comer.
Pedir a ela para ser minha noiva. Eu poderia fazer isso? Eu
realmente queria isso? Era Rei a garota que eu queria em minha vida?
Mas isso realmente importava? Não havia mais ninguém agora...
Eu acabei de comer a minha sopa miso e arroz quando eu ouvi a
campainha. Isso era estranho. Quem viria à casa de Rei tão cedo?
Curioso, eu fui ver quem era.
"Quem é?" eu perguntei enquanto apertava o botão do intercom.
"Sou eu."
Eu senti surgir a raiva quando eu ouvi a resposta. Asuka!
Aquela pequena maldita...!
Decidido a ignorá-la, eu voltei para a cozinha. Mas ela
continuou tocando, e quando não funcionou, ela começou a bater. Bem
alto, também. Depois da quinta batida, eu desisti. Eu tinha esquecido
o quanto persistentemente chata ela podia ser.
"O que você quer?" eu perguntei quando abri a porta mas parei
na abertura para ela não entrar, colocando o máximo de veneno possível
na minha voz.
Asuka não reagiu. Sua face estava limpa, sem emoções. Ela
simplesmente disse, "hoje é terça."
Eu imediatamente entendi as implicações do que ela dizia. Eu
não podia acreditar nessa garota. Como ela se atrevia a me pedir para
passar o dia comigo depois do que ela tinha feito?
"E dai?" eu respondi, o veneno ainda em minha voz.
Era a minha imaginação, ou ela realmente tinha vacilado um
pouco com as minhas palavras? Fosse a minha imaginação ou não, parte
de mim realmente gostou disso.
"Está acabado", eu disse. "Vá embora."
"Não!" a sua explosão me surpreendeu. Antes que pudesse
reagir, ela me derrubou no chão usando o cotovelo, e então entrou no
apartamento.
"Nós precisamos conversar!" Ela não parecia brava, mas
sim... desesperada. Eu estava confuso. Essa não era a Asuka que eu
conhecia.
"Saia daqui."
Despertado por estas palavras, eu me virei para ver Rei parada
atrás de mim. Obviamente, ela ainda estava em seu banho quando Asuka
decidiu entrar, já que ela estava nua, ensaboada e pingando água no
chão, De seu cabelo e pele. Seus olhos pareciam queimar com ódio.
Asuka não disse uma palavra. Ela apenas ficou parada, olhando
para Rei, então para mim, então de volta para Rei. A dor se tornou
óbvia em seus modos.
"Eu entendo..." ela sussurrou entre dentes. Quando ela disse
estas palavras, eu pude sentir a dor em sua voz. Eu não pude deixar de
imaginar, porque? Porque ela deveria sentir dor? Por que agora uma
outra pessoa estava brincando com o seu brinquedo? Bem, pior para
ela.
"Saia do meu apartamento" Rei disse em uma quieta, voz
controlada.
Asuka obedeceu à ordem sem uma única palavra de seus protestos
usuais, e mesmo fechou a porta atrás de si. Eu mal podia acreditar
nisso.
O que havia acabado de acontecer aqui? Eu não entendia mais
nada. Ela tinha...? Ela tinha sentimentos por mim afinal de contas?
Mas nesse caso... porque?
'Talvez ela pensasse que era a única forma...'
Poderia ser isso? Não, isso era muito fácil... então porque?
"Eu acho que eu vou ficar aqui com você hoje", disse Rei,
rompendo a minha corrente de pensamentos, enquanto eu me levantava.
"Você não tem que..."
Ela me deu seu doce sorriso.
"Eu quero."
Sem se importar com o seu estado de nudez, ela caminhou em
minha direção e seus lábios encontraram os meus.
Quando as minhas mãos vagaram pela sua pele molhada, eu parei de
pensar em Asuka...
Nós passamos um dia quieto juntos. Eu tentei na maior parte do
tempo acompanhar o trabalho escolar que eu tinha negligenciado nos
últimos meses. Rei simplesmente lia quieta. Bem, ate que ela começou a
ler alguns mangas que ela tinha emprestado de sua amiga Hotaru. Vê-la
dar risadinhas, era algo que ainda me espantava.
Uma hora depois do jantar, Rei e eu fomos despertados por uma
batida na porta. Com medo de que fosse Asuka novamente, eu deixei Rei
responder.
"Hotaru-chan!"
"Rei-chan!"
Eu estava espantado em ver as duas amigas, uma delas
geralmente bastante tímida e a outra muito reservada, exceto comigo,
se abraçando desta forma. Rei obviamente estava radiante de alegria,
vendo sua amiga aqui.
No momento em que ela me viu, a jovem subitamente ficou
quieta. Eu estava deixando ela desconfortável.
"Olá, Tomoe", eu disse, seguido pelo mais acolhedor sorriso
que eu consegui.
"Olá, Ikari-kun," ela respondeu, cumprimentando com a cabeça.
Eu realmente imaginava porque aquela garota era tão tímida.
Um impressionante momento de silêncio se seguiu. Eu estava a
ponto de me recolher para o meu quarto, já que a minha presença
obviamente deixava todos nervosos, quando a amiga de Rei falou
novamente.
"Ikari-kun... posso... eu posso perguntar.... posso te fazer
uma pergunta?"
Se era possível, ela parecia ainda mais nervosa que antes. Ela
estava quase vermelha de embaraço.
"Er... claro, pergunte."
"Porque você está aqui no apartamento de Rei-chan? Hoje não é
terça?"
Eu deixei escapar um suspiro. Todo mundo sabia?
"Não importa mais que dia é hoje. Está acabado."
A menina delicada parecia surpresa.
"Isso significa que você é o namorado de Rei-chan agora?"
"Hotaru-chan!" disse uma envergonhada Rei.
Eu pensei um pouco nesta idéia. Se eu considerasse os últimos
dias, eu só podia dar uma resposta.
"Eu... eu acho que sou."
"Eba!"
Essa não era a reação que eu esperava. De fato, essa mudança
de atitude era quase assustadora...
"Eu ganhei a aposta!" disse a garota orgulhosamente, antes de
se dar conta que ela não deveria ter dito isso... Rei tinha um olhar
severo, enquanto que eu tinha um olhar confuso.
"Uma aposta...?"
"Er... você... conhece nossa colega de classe, Kuno Minami?
Cabelo castanho curto, garota de família rica?"
Eu assenti. O nome parecia familiar. Eu também me lembro de
ouvir o nome Kuno de uma discussão que Misato teve ao fone a alguns
dias atrás. Se eu estava certo,  a mãe de Kuno Minami era dona da
maior companhia de reparos de Tokyo-3. seus serviços pareciam custar
uma fortuna, mas quando era hora de reparar um estrago, seu pessoal
era supostamente o mais rápido.
"Bem, ela começou uma aposta sobre qual garota seria a sua
namorada entre Rei, Asuka e Hikari."
Não essas histórias com Hikari novamente... bem, felizmente
Touji e ela tinham assumido agora, então eu não tinha com o que me
preocupar mais. A menos que Hikari tenha contado a ele o que aconteceu
no lago.
"Parece", continuou Hotaru, "que ela teve essa idéia de sua
mãe. A mãe de Minami fez um monte de dinheiro apostando com qual
namorada o noivo de sua irmã iria sair. Alguns rumores também falam
sobre apostas sobre qual namorado o noivo de sua irmã iria sair, mas
isso não faz muito sentido..."
"E você apostou em mim?" perguntou simplesmente Rei.
A garota enrubesceu.
"Bem... você é a minha melhor amiga. Eu tenho de te apoiar..."
A face de Rei suavizou.
"Isso foi muito gentil de sua parte Hotaru-chan."
"Então, o que trouxe você aqui, Tomoe?" eu perguntei, tentando
mudar o assunto. Eu ainda não podia acreditar que alguém era diabólico
o suficiente para fazer uma aposta sobre a minha vida amorosa...
"Oh... eu quase esqueci."
De uma sacola que ela carregava, ela puxou uma grande pilha de
papel.
"Aqui estão os seus deveres."
Droga! E eu a recém tinha acabado de fazer meu trabalho de
casa... ah droga, isso ia me manter ocupado.
"Tudo isso em um ou dois dias?" eu perguntei, um pouco
curioso. Isso era afinal de contas, meio estranho.
"Bem, o Sensei está doente e o seu substituto não está realmente
interessado na história do Segundo Impacto."
"Então nós estamos finalmente trabalhando na classe?"
"Sim. E esse trabalho de casa é realmente difícil..." reclamou
a garota.
"Você precisa de alguma ajuda?" perguntou Rei.
A garota de cabelos negros pareceu brilhar de alegria.
"Você me ajudaria?"
Rei assentiu, um sorriso em seu rosto.
"Ótimo! Mas eu deixei o meu dever em minha casa..."
Rei olhou para mim. Em silêncio, eu concordei com o que eu
sabia que estava na sua mente.
"Então nós iremos para lá."
Depois de alguns minutos, as garotas saíram. Talvez fosse uma
coisa boa. Uma parte de mim se sentia culpada de monopolizar Rei aqui,
mesmo que fosse a sua própria escolha. Era bom vê-la sair com uma
colega como qualquer outra garota normal.
Escola. Talvez fosse hora de voltar. Mas Asuka estaria
lá. Mesmo que eu tentasse, poderia eu ignorar a sua presença? Eu não
estava seguro. Mas eu não poderia me esconder aqui por muito tempo.
Talvez apenas mais um dia... havia ainda algumas coisas que eu
precisava entender. Talvez principalmente pelos meus sentimentos por
ambas as garotas.
Quando Rei voltou perto da meia noite, eu ainda estava
acordado, esperando por ela. Trocamos beijos rápidos, então ambos
fomos para seu quarto. Parecia natural desta vez.

                                * * *

"Você não se importa se eu tomar um banho antes, se importa?"
Estas palavras me trouxeram de volta a realidade. Eu estava
tão perdido em meus pensamentos que não notei que Rei estava de pé. Eu
sorri quando eu olhei para ela. Ela era tão bonita, seus olhos ainda
mal abertos, seu cabelo ainda mais descabelado que o normal. Eu não
pude deixar de dar a ela um profundo beijo. Ela não reclamou, muito
pelo contrário.
"Mas que bela maneira de ser saudada de manhã", ela disse com
um sorriso.
"Você sabe que eu posso fazer melhor," eu respondi com um sorriso.
Rei simplesmente me respondeu com um beijo rápido na minha
testa antes de sair da cama.
"Desculpe, mas eu realmente tenho de ir a escola
hoje. Hotaru-chan quer me ver cedo, ainda tem algumas coisas na qual
ela precisa da minha ajuda."
Eu concordei.
"Está bem. Alem do mais, eu quero ir cedo para o quartel
general, pra ver se eu consigo encontrar o Kaji-san."
Ela concordou.
"Sim. Eu estou certo de que ele pode te ajudar. Se eu entendi
corretamente, a Major Katsuragi o rejeitou no passado. Ele deve ser
capaz de ajudar você a entender. Então, você vai ver que não
existe necessidade de deixar o passado afetar a sua vida."
Isso parecia razoável. Mas mesmo depois de todos estes anos,
Kaji ainda sentia alguma coisa por Misato. Seria o mesmo com Asuka?
isso era possível de esquecer? Talvez. Eu tinha Rei. Esta era uma boa
razão para esquecer...
"Quanto mais o tempo passa, mais eu sinto que posso acreditar
em você, Rei-chan."
Ela sorriu.
Eu olhei ela pegar seu uniforme escolar, então ir para o
banheiro. Apenas então eu saí da cama. Apesar de tudo, eu me sentia
bem. Zumbindo uma pequena melodia, eu fui preparar o café da manhã.

                                * * *

Depois de procurar por um pouco, eu encontrei Kaji se
inclinando sobre Misato em uma máquina de vendas. Ambos tinham uma
expressão muito séria em suas faces, o que era bem anormal para
Kaji. Alguma discussão importante devia estar acontecendo.
Em um instante, ambos se separaram e tentaram agir
casualmente. Eles tinham provavelmente ouvido meus passos. Quando me
viu, Misato parecia desconfortável. Algo estava
acontecendo. Provavelmente algo que eu não devia saber.
"Bem, eu tenho de ver Ritsuko..." disse Misato a Kaji. Então,
ela olhou para mim.
"Olá, Shinji-kun."
"Olá Misato-san."
Ela mal olhava para mim. Ela apenas se afastou. Isso era
porque eu tinha escolhido o apertamento de Rei em vez do dela? Bem, eu
teria de lidar com isso mais tarde. Por enquanto, eu tinha outros
problemas com os quais lidar.
"Oi, Shinji-kun!"
Kaji estava de volta ao seu comportamento alegre.
"Kaji-san... eu... eu gostaria de falar com você... sobre uma coisa..."
"Julgando pela expressão em sua face, isso parece importante."
"E é para mim."
O homem levou alguns segundos para pensar. Então, ele sorriu.
"Muito bem. Mas este não é um bom lugar para conversar. Venha
comigo, eu vou te mostrar uma coisa boa", ele disse, me dando um
daqueles sorrisos matadores.
"Eu sou um garoto", eu lembrei a ele.

                                * * *

Mas que surpresa! Enquanto eu me inclinava para olhar melhor,
eu não podia acreditar em meus olhos. Pensar que havia alguma coisa
assim, aqui, tão perto do quartel general da NERV...
"Isso são melancias?"
"Você não acha que elas são bonitas?" disse Kaji, obviamente
orgulhoso de seu trabalho. "Este é o meu Hobby. Mantenha isso em
segredo. Fazer alguma coisa ou crescer alguma coisa é algo
maravilhoso! Nos podemos ver e aprender muitas coisas com isso. E
também nos dá prazer."
"Também nos traz dor."
Pela segunda vez neste dia, eu pude ver uma expressão séria na
face de Kaji. Provavelmente tão seria quanto a minha.
"Você detesta a dor?"
"Sim..."
"Você alguma vez encontrou algo que lhe trouxesse prazer?"
"Eu acho que sim. Mas apenas me trouxe mais dor. Agora, eu não
sei..."
Eu não pude deixar de pensar nos últimos dias. Mesmo agora,
quando eu começava a me sentir feliz, graças a Rei, eu imaginava se
isso iria durar.
"Eu entendo. Isso é sobre o incidente no acampamento, não é?"
"Você sabe disso?" eu perguntei, surpreso.
"Sim, Katsuragi me contou. Uma tremenda confusão,
realmente. Você quer a minha opinião sobre isso, não é?"
Eu respondi com um aceno de cabeça.
"Asuka é uma garota complicada, mas não uma má garota. Eu não
acho que ela queria machucar você. Você devia provavelmente dar a ela
uma chance de se explicar."
"Isso foi o que Touji disse."
Quando eu disse essas palavras, Kaji pareceu surpreso, mas a
expressão desapareceu tão rápido quanto apareceu. Estranho.
"Esse foi um sábio conselho. Você devia ouvir o seu amigo."
"Mas... eu apenas não sei o que fazer. Eu... eu... eu tenho
medo de encarar ela."
Novamente, Kaji ficou alguns segundos pensando nisso.
"Katsuragi está saindo para uma viagem de trabalho e eu devo
ficar com vocês esta noite, embora ninguém entenda a necessidade disso
mais, especialmente com você e Rei morando em outro apartamento. Você
deve vir comigo. Talvez a minha presença ajude acalmar as coisas entre
vocês dois. Você sabe que vocês dois precisam conversar, sabe? De
outra forma, você vai sempre pensar no porque ela agiu como agiu."
"Sim, eu acho que sim," eu disse, não entusiasmado com o projeto.
O homem eternamente sem barbear me deu um sorriso.
"Bom. Vocês garotos têm teste de sincronização hoje a
tarde. Quando tiverem acabado, nós podemos jantar juntos, então você
vem pro apartamento de Katsuragi comigo. Estou pagando."
Testes de sincronização. Eu tinha esquecido. Isso significava
que eu iria vê-la... eu bani esses pensamentos de minha mente e tentei
me animar.
"Grande!"

                                * * *

"Bem, Shinji-kun, pronto?"
"Não realmente, mas vai ter que dar."
Kaji balançou a cabeça, então bateu na porta. Eu mesmo podia
tê-la aberto, eu ainda tinha o meu keycard, mas eu achei que seria
melhor deixar Kaji cuidar disso. Alguns segundos depois dele ter
batido, ouvimos a voz de Asuka do apartamento.
"Kaji-san!"
Então, ela parecia caída por Kaji como de costume. Isso não
era uma grande surpresa, eu acho.
A garota ruiva abriu a porta, um largo sorriso em sua
face. Contudo, no momento em que me viu, o sorriso desapareceu
completamente.
"Eu acredito que ambos têm algo para falar," Kaji disse
simplesmente enquanto entrava no apartamento.
Asuka e eu continuamos parados, nenhum de nós arriscando um
movimento, ou dizer algo. Apenas quando Kaji nos disse que a sala de
estar seria mais confortável para conversarmos nós nos acomodamos na
sala. Contudo, uma vez sentados, cada um de um lado da mesinha da
sala, nós congelamos de novo.
"Bem, enquanto vocês dois conversam, eu acho que vou tomar um
banho..."
Ouvindo isso, eu quase entrei em pânico. Kaji apenas me deu um
pequeno sorriso e desapareceu dentro do banheiro. Apenas aí foi que eu
voltei a minha atenção para Asuka novamente. Bem, aqui vamos nós. Devo
fazer a pergunta que esta rondando a minha mente desde aquela noite? O
quão difícil pode ser?
Bem difícil, aparentemente, já que as palavras morriam na
minha boca. Toda vez que eu estava pronto para fazer alguma coisa, as
visões dos sonhos que eu tinha noite vinham à minha mente, colocando
uma pausa na minha tentativa de falar.
De que ia servir isso de qualquer forma? Ela apenas ia rir de
mim. Mas... quando eu olhei para ela, a Asuka à minha frente não era
nem um pouco parecida com aquela que eu sonhava. Esta Asuka apenas
encarava o chão, sem saber o que falar, sem se atrever a me
encarar. Esta não era a Asuka que eu conhecia...
"Porque?" eu finalmente consegui dizer.
Graças a deus! Ok, agora que o gelo estava quebrado, era a vez
dela. Asuka esperou um pouco antes de responder. Ela parecia bastante
nervosa. Algumas vezes ela parecia a ponto de dizer alguma coisa, mas
parava, mordendo o lábio. Era uma visão nada usual.
"Eu... eu... eu não sabia o que mais fazer... eu... eu não
queria que as coisas saíssem como saíram. Quando... quando eu disse
que queria que Touji e Hikari ficassem juntos... eu realmente queria
isso! Era a minha idéia a princípio. Mas rapidamente... eu... eu me
dei conta das possibilidades. Uma vez que aqueles dois estivessem
juntos... isso significaria... que nós seríamos deixados em
paz. Sozinhos. Sem Misato ou Rei para interferir. Apenas um momento
para nós... apenas nós."
"Então nós teríamos feito sexo sem eles saberem!" eu gritei,
incapaz de me manter calmo, sem nem ao mesmo dar tempo para analisar o
que ela tinha dito.
Asuka balançou a cabeça.
"Não! Eu não pensei nisso! Eu juro! Era apenas... eu temia que
aquela noite... não iria durar! Nós teríamos nos divertido, e então o
fim de semana ia acabar... e então... então... nos estaríamos de volta
a Tokyo-3 e... no próximo dia... você... você... estaria de volta aos
braços dela! Como você sempre faz!"
Essas palavras me acertaram. Eu finalmente fiz a conexão que
eu tinha falhando em fazer. Quando eu vi lagrimas saindo dos olhos
dela, eu senti a dor dela em meu coração.
"Você compreende o quanto isso machuca?!" ela continuou,
tremendo levemente, como se estivesse a ponto de chorar. "Você sabe
como é segurar você em meus braços,à noite, sabendo que no outro dia
você estaria segurando ela em seus braços?! Você sabe como eu me sinto
quando estamos comendo juntos na escola e você olha para ela em vez de
mim?! Eu... eu... eu estava desesperada... eu sabia que... com o
tempo... eu perderia você. Eu apenas sou boa em pilotar o EVA... esta
é a única coisa que eu sei fazer e eu nem sou mais a melhor nisso
agora. Ela... ela cozinha como um chef... enquanto que eu mal sei como
fazer comida instantânea. Ela limpa, lava, seu apartamento sempre
brilhante... aqui, eu espero que você faca todas esta tarefas e meu
quarto é uma bagunça. Ela é boa na escola... você sabe que ela é a
melhor estudante da classe, mesmo perdendo mais da metade das aulas?
Eu mal consigo acompanhar porque eu não conheço todos os
kanji... eu... uma estudante formada... que patético..."
À minha frente, desta garota que não tinha mostrado nada senão
auto-afirmação, estava um catálogo de falhas. Eu não podia acreditar
nisso. Asuka era a pessoa mais forte que eu conhecia, e
definitivamente a mais teimosa. Eu nunca vi nada a não ser
autoconfiança emanando dela, e ouvindo as palavras dela eu entendo o
quanto esperava isso. Mais que esperava, porque de certa forma eu
achava a arrogância dela confortadora. Eu sei que isso soa estranho,
mas vendo a maneira imperiosa que ela agia, eu secretamente esperava
que um dia eu lidaria com meus problemas da mesma maneira que ela
fazia. Ter aquele tipo de coragem.
E agora eu assistia enquanto ela fazia um maravilhoso trabalho
se rasgando. Uma vez eu tinha pensado que ela era bem parecida comigo,
afastando as pessoas... mas eu nunca imaginei isso. Estava louco para
descobrir o quanto nós éramos realmente semelhantes.
Eu estava vivendo um dos meus piores pesadelos. Como eu temia,
minha indecisão tinha machucado uma delas. Eu me senti realmente
envergonhado. Isso... Isso era tudo minha culpa. Toda minha. Eu era o
único culpado. Como sempre, eu era a fonte da minha própria
desgraça. Mas eu a tinha culpado... eu tinha sido malvado com
ela. Eu a tinha odiado. E agora... qualquer auto estima que eu
tivesse estava diminuindo a um ritmo exponencial.
Como se fosse possível, a expressão de Asuka
escureceu. Parecia que uma faca tinha sido subitamente atravessada em
meu coração.
"Mas se fosse apenas isso... mas... ela é legal com você. Ela
toma conta de você. E aposto que ela faz qualquer coisa que você
queira! Ela provavelmente morreria por você se pudesse! E ela é quase
tão bonita quanto eu!"
O seu tom da voz caiu. Repentinamente parecia quase
vazio. Tudo que eu podia ouvir era desespero. Enquanto eu olhava, ela
parecia diminuir. Ela enlaçou seus braços em volta do seu peito
apertado e puxou as suas pernas para cima.
"Mas pior... ela te ama e não tem medo de mostrar isso. Então,
me diga Shinji... como eu posso esperar ganhar dela? Eu não tenho
chance... sem nenhuma chance... então eu pensei... se nós tivéssemos
partilhado algo que vocês ainda não tivessem... talvez você
poderia... era uma idéia estúpida."
"Asuka..."
Sua face estava agora se abaixando, seus olhos, parcialmente
escondidos pelo seu cabelo ruivo, estavam fechados.
Eu não sabia o que fazer. Eu me sentia subjugado pelas
palavras de Asuka. então ela realmente me amava?
"Eu não posso te culpar por escolher ela. Qualquer um com o mínimo
de bom senso a escolheria."
"Asuka... eu..."
Ela me interrompeu. bem, de certa forma. Eu realmente não
estava seguro do que eu queria dizer. O que eu poderia fazer? Mesmo se
ela realmente me amasse, eu ainda tinha sentimentos por Rei.
"Não se preocupe Shinji. Até agora, eu tenho vivido por minha
conta, apenas por mim, apenas para meus próprios valores e a minha
própria satisfação. Eu não preciso de você, ou de qualquer um para
isso. Eu... eu não quero estar só mais. Se eu puder... eu preferiria
estar com você a estar sozinha. Mas é muito tarde agora. E além do
mais... metade do seu coração não é suficiente. Se eu não posso ter
você todo para mim, então é melhor eu não ter você..."
"Asuka..."
Ela levantou a cabeça e olhou para mim. Eu podia ver tristeza
em seus olhos, mas havia algo mais. Quase parecia que ela estava em
paz. Um principio de sorriso apareceu em sua face, o tipo de sorriso
que eu nunca tinha visto antes. Apesar da situação, o único pensamento
que passou na minha mente naquele momento foi que eu nunca tinha visto
nada tão bonito.
"Está bem. Eu posso me virar. Seja feliz com
Rei... Shinji... eu... eu amo você..."
Dito isso, todas as sobras de suas forças caíram, e ela recuou
para o seu quarto.
Ela tinha acabado de dizer que me amava... ela me amava...
Eu queria ir atrás dela, mas uma mão forte agarrou meu
ombro. Eu estava surpreso em ver Kaji, ainda com suas roupas e cabelos
obviamente secos. Aparentemente, ele não tinha tomado banho no final
das contas.
"Deixe-a sozinha por enquanto. Ela precisa de tempo para
pensar. Você precisa de tempo também. Você não deveria cometer os
mesmos erros de antes e tomar decisões precipitadas novamente."
Embora meu coração ordenasse ir atrás dela, eu compreendi
as palavras de Kaji.
Eu concordei e Kaji me soltou. Então, um largo sorriso
apareceu na sua previamente seria face.
"Bem, bem... eu não esperava que ela realmente dissesse
isso. Se as coisas não fossem tão complicadas, eu te congratulo,
Shinji-kun. Não é todo mundo que pode ter o coração daquela
garota. Então, o que você fará agora?"
Eu não sei. Eu não sei como. Mais que nunca, meus pensamentos
estava uma bagunça.
"Vou para a escola amanhã, eu acho. E dai, nos veremos o que
acontece..."
Eu estava a ponto de sair, mas repentinamente mudei de
idéia. Eu não estava seguro de que encarar Rei agora era uma boa
idéia.
"Kaji-san? Você se importaria se eu ficasse aqui esta
noite? Eu acho que eu posso precisar de mais conselhos..."
"Eu não sei no que eu posso ser de mais ajuda, mas eu vou
gostar da sua companhia, Shinji-kun."
"Obrigado..."

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Parte 3 - A Quarta Criança
Era ainda madrugada quando eu deixei o apartamento de Misato
para ir ao de Rei. Eu queria deixar o apartamento antes que Asuka
acordasse. Eu queria ir para a escola cedo. Desta forma, eu podia ao
menos evitar Asuka até lá. agora, com tudo esclarecido, eu sabia que
eu não tinha nenhum motivo para evitá-la. Contudo, eu me senti
inconfortável com o que ela tinha me dito.
Ela me amava.
Mas ela me disse para ser feliz com Rei.
Isso era tão confuso. Ela... ela realmente me amava tanto?
Tanto que a minha própria felicidade era mais importante que a dela?
Mas...
Ela realmente me amava? Isso podia ser outro truque... eu
tirei estes pensamentos da minha cabeça. Aquelas lágrimas que eu vi
eram reais. Ela não teria chorado se quisesse me enganar. Ela não
teria parecido tão machucada por dentro. Não... seus sentimentos eram
genuínos. Mas... quais eram os meus exatamente? Como eu me sentia
sobre ela agora? E como isso se comparava com os meus sentimentos por
Rei?
Eu suspirei em frustração. Porque as coisas eram tão
complicadas?
Ah, sim... porque eu fiz a estúpida decisão de tentar sair
com as duas ao mesmo tempo...
Uma surpresa me esperava quando eu entrei o apartamento de
Rei. Rei Estava de pé, já em seu uniforme escolar, acabando de
preparar a mesa para o café da manhã.
"Seu banho está pronto, Shinji. Quando você tiver acabado, sua
refeição estará esperando por você."
Por alguns segundos, eu encarei, olhos arregalados.
"Eu imaginei que você possivelmente tentaria evitar Souryu
esta manhã, então eu preparei tudo para você."
Eu era tão previsível? De qualquer forma, este era um doce
pensamento. Eu sorri para ela.
"Obrigado, Rei-chan."
Feliz, sua face amoleceu e ela sorriu.
"Vá tomar o seu banho. Você pode me explicar o que aconteceu
ontem à noite enquanto comemos."
Eu concordei e fui em direção ao banheiro. Minutos depois, eu
voltei limpo e vestindo roupas novas. Então eu comecei a explicar tudo
a ela entre algumas mordidas. Embora não parecesse reagir muito, eu
podia dizer que Rei não estava muito feliz com os últimos
acontecimentos. Eu tinha ficado bom em ler a expressão dela nestes
últimos dias. Eu não esperava a sua reação contudo.
"Por favor... fique."
"Uh?" eu disse, confuso.
"Eu sabia que quando você veio para cá, era para evitar
ela. Agora, você não tem nenhuma razão para evitá-la. Mesmo
assim... eu estou te pedindo para ficar aqui... comigo. Isso...
isso... é... o... primeiro pedido que eu faço em minha vida. Por
favor... fique comigo..."
Aqui, à minha frente, estava Rei... implorando para eu ficar
com ela... Rei... a garota em quem eu acreditava ainda mais forte que
Asuka...
"Estes últimos dias... você estava feliz, estava? Porque sair?
Então... por favor..."
Ela parecia tão frágil... tão bonita... simplesmente não podia
recusar. E eu devia a ela. Ela tinha estado lá quando eu tinha
precisado. Eu simplesmente não poderia deixar assim. De outra forma,
seria como se eu apenas a estivesse usando. Como o meu pai usava a
todos.
"Eu... eu ficarei com você, Rei-chan..."
Eu não estava certo de que era uma boa idéia. Mas novamente,
aqui ou no de Misato... qualquer lugar faria a escolha ser difícil.
'Se eu não pudesse ter você todo para mim, então é melhor eu
não tê-lo...'
Ao menos Rei me queria aqui. Isso era provavelmente melhor,
afinal de contas...
Então, porque eu me sentia como se estivesse traindo Asuka?
Porque eu sentia esta dor de cabeça? Haveria alguma forma de eu ser
feliz?
"Shin-chan!"
Ela pegou a minha mão nas dela e apertou forte. Eu acho que
ela teria me abraçado se a mesa não estive entre nós. Ela parecia tão
feliz... isso me fazia sentir tão bem. Sim, isso era para o melhor. Eu
iria ficar aqui... com Rei. Sorrindo, eu levantei e a tomei em meus
braços. Ela me segurou firme. Eu estava surpreso de ouvir um pequeno
soluço. Ela estava tão feliz que estava chorando? Quando eu olhei para
o seu rosto, eu sequei duas lágrimas solitárias com um dedo. Então,
nos beijamos. Não um beijo profundo, mas um leve, carinhoso.
A culpa que eu senti quase que imediatamente desapareceu.

                                * * *

A vida era irônica. Aquela manhã, Rei e eu tentamos sair cedo
para evitar Asuka. O que eu vi quando saí do apartamento? Asuka,
saindo do de Misato. Ambos congelamos ao ver um ao outro, Asuka tão
surpresa quanto eu. Parecia que ela mesma queria me evitar. Por um
segundo, eu imaginei se esta situação não era conseqüência do nosso
treino de sincronização.
"Shinji..." disse Asuka quando eu disse o nome dela. Sim,
definitivamente um efeito colateral do nosso teste de sincronização.
Um silêncio impressionante se seguiu.
"Nós devemos ir se quisermos chegar a tempo," disse Rei,
aparentemente decidindo tomar a situação nas suas mãos.
Sem uma palavra, nós descemos pelo elevador, então seguimos em
direção à escola. Levou provavelmente 5 minutos até que Asuka
finalmente quebrasse o silêncio.
"Garota Maravilha..."
Nós todos paramos de caminhar. Como Asuka parecia tensa, eu
deduzi que ela tinha alguma coisa para dizer. Alguma coisa
provavelmente relacionada com o que tinha acontecido na noite
anterior. Rei olhou para ela, um estranho olhar chateado em seus
olhos.
"Shinji escolheu ficar com você. Bem, eu posso viver com
isso..." enquanto ela falava, Asuka voltou a ter sua confiança. "Mas é
melhor você se cuidar, Garota Maravilha! Se eu sentir que Shinji está
infeliz, eu vou pegar ele de volta!"
Por um momento, Rei apenas encarou Asuka, sem reagir. Então
ela respondeu. Eu devo dizer que era totalmente inesperado. Antes de
responder, eu podia jurar que eu vi um sorriso diabólico na sua cara.
"Não se preocupe, Garota Demônio. Shinji será feliz comigo. Eu
não vou assediar ele, eu não vou tomar vantagem dele e certamente não
vou fazer nada para machucá-lo... como alguém fez."
Eu engasguei com as palavras de Rei. Ela parecia
tão... tão... Asuka. Não, ainda pior... isso... isso não era a minha
Rei...
Eu esperava que Asuka fosse ficar ofendida por estas palavras,
mas em vez disso, ela se virou, como se ela não pudesse encarar o
olhar de Rei.
"Eu entendo. Me desculpe... Ayanami. Cuide dele."
Eu não podia acreditar em meus ouvidos. Asuka estava... se
desculpando... para Rei? Eu tinha perdido alguma coisa importante
aqui?
"Bem, não quero estar atrasada para a escola..."
Dito isso, Asuka correu. Eu apenas olhei para a sua figura
indo embora, confuso.
"Eu apenas me certifiquei que ela tinha entendido que não deve
nos incomodar mais. E eu também mostrei a ela o quanto desconfortável
pode ser ser chamado por um nome", Rei tentou explicar, vendo a minha
confusão.
"Mesmo assim... eu não entendo como ela pode desistir tão facilmente..."
"Por causa de você."
Por causa de mim?
"Venha, nós devemos ir."
Mesmo sem pensar, eu a segui.

                                * * *

Eu não sabia como lidar com esta nova situação. Novamente, sem
muito protesto, Asuka tinha aceitado meu relacionamento com Rei. Mas
qual era exatamente a minha relação com Rei? Felizmente, nós chegamos
à escola rapidamente, então desta forma eu dei um jeito de colocar
estes pensamentos de lado. Quando Rei e eu tomamos nossos lugares, eu
notei com espanto que éramos os primeiros a chegar. Estranho, onde
estava Asuka?
Logo, outros estudantes chegaram. A maioria deles, eu não
conhecia. Eles eram apenas rostos familiares, nada mais. Eu sorri
quando Hotaru atravessou a porta. Eu franzi as sobrancelhas quando eu
vi atrás dela uma garota de cabelos castanhos; Kuno Minami. Por
alguns segundos, mentalmente eu cogitei contar a ela o meu desgosto
com o assunto das apostas. Eu estava quase juntando coragem para
chegar nela quando eu notei alguém caminhando em direção a sua
mesa. Asuka.
"Ei! Kuno!"
A garota de cabelos castanhos levantou a sua cabeça de seu
laptop para olhar para a ruiva. Um ligeiro sorriso apareceu em sua
face, quase como se ela tivesse visto uma presa indefesa. O que era
bem estranho, já que eu sabia que Asuka era tudo menos indefesa.
"O que eu posso fazer por você, Asuka-chan?"
"Aqui."
Sem dizer mais nada, Asuka puxou um monte de ienes de um bolso
e atirou para ela. Ela pareceu um pouco surpresa por alguns segundos,
Então seus olhos se apertaram e seu sorriso se alargou quando ela
pegou as notas.
"Por que?"
"Porque eu perdi a aposta," disse simplesmente Asuka enquanto
caminhava de volta a sua mesa.
Estas eram palavras simples, mas tiveram um enorme
impacto. Levou apenas alguns segundos ate que os olhos de todos se
concentrassem em mim e Rei. Nosso rubor constante respondeu a pergunta
que todos queriam saber.
"Meu deus! É verdade!".
"O que?"
"Whaaaaaaaa... eu estou arruinada..."
"Shinji seu cachorro!"
"Eu sabia! Eu sabia!".
"Isso significa que nos podemos sair com Sohryu agora?"
"Então vocês dois fizeram?"
"Eu estou com taaaaaaaaaanta inveja!"
"Maldita, Ayanami!".
"Ikari! Seu bastardo!"
Metade da classe se juntou em volta da minha mesa, a outra em
torno da de Rei. Contudo, Rei usou a sua usual falta de emoções para
apenas ignorar todos e olhar para fora da janela, então todos se
viraram para mim. Eu apenas tentei me desligar de todas as vozes como
parecia fazer Rei. Não prestando atenção aos meus colegas, eu notei
Hikari entrando na sala. Isso imediatamente me acertou. Hikari era
sempre uma das primeiras a chegar, não a última. E aquela expressão no
seu rosto... ela parecia... preocupada. Algo estava errado, geralmente
Hikari era bem alegre, exceto quando ela estava agindo como
representante de classe. Pelo olhar na cara de Asuka, eu podia dizer
que ela também tinha achado o comportamento de Hikari fora do normal.
Rapidamente, a garota olhou a classe inteira. Então, ela olhou
em minha direção. Quase parecia que seus olhos estavam presos em
mim. Enquanto que ela caminhava em direção a minha mesa, eu esperava
que ela dissesse a todos para se comportarem e se sentarem em seus
lugares. Ela ignorou completamente os outros estudantes, de fato, ela
empurrou alguns para o lado para chegar em mim. Ela quase
parecia... desesperada.
"Todos vocês. Retornem para seus lugares. Agora."
Todos na sala pareceram congelar de espanto. Rei tinha apenas
falado para toda a classe, uma coisa que nunca tinha acontecido antes,
pelo que alguém podia se lembrar. Enquanto que suas palavras tinham
sido ditas em um tom de voz normal, eles tiveram tanto impacto como se
Hikari tivesse gritado as ordens. Sem uma palavra, todos saíram,
deixando-me a sós com Hikari. Obviamente, Rei tinha também notado que
Hikari tinha um problema.
"Horaki-inchou, eu posso...?"
"Ikari-kun! Você viu Touji?!"
Touji? Porque Hikari parecia preocupada assim com Touji?
Algo... alguma coisa aconteceu? Agora era a minha vez de ficar
preocupado. Estranhamente, eu notei que Rei por um momento havia se
engasgado quando ouviu seu nome, ela pareceu perturbada, antes de
esconder tudo atrás da sua usual expressão fria.... O que estava
acontecendo aqui?
"Todos! Pra fora! Agora!" gritou Asuka.
Aparentemente, nossos colegas tinham ficado muito interessados
em ouvir a pergunta de Hikari. Contudo, medo da Legendária Fúria de
Asuka Langley era suficiente. Os outros foram literalmente chutados
para fora pela acima mencionada Langley.
"Isso parece sério, então nós devemos fazer isso sem toda essa
fofoca," disse Asuka em um tom severo. "Nós temos alguns minutos antes
do Sensei aparecer. E aí Hikari, qual o problema?"
"Touji... Touji desapareceu..."
"Desapareceu?"
"Sim... eu... eu não consigo encontrar ele em nenhum
lugar... ele não esta em casa... não está no hospital... Kensuke não o
viu desde ontem na escola. Ikari-kun... você viu ele esta manhã?"
"Não... mas... você sabe... Touji sempre chega aqui
atrasado. Ele vai provavelmente aparecer..."
"Mas..."
"Tem alguma coisa que você não está nos contando,
Hikari-chan?" Perguntou Asuka, seus olhos se estreitando com a
suspeita.
"Bem..."
Rapidamente, Hikari ficou totalmente vermelha.
"Quando foi a última vez que você viu Touji?" perguntou a
ruiva, ainda com um olhar inquisidor no rosto.
"Er... bem... talvez... talvez... em volta... uma... uma da
madrugada..."
"Uma da madrugada?!" eu engasguei. "o que vocês estavam
fazendo juntos a esta hora?"
Asuka murmurou.
"Dummkopf! (*) realmente Shinji... apenas olhe para a maneira
como ela esta ficando vermelha. Eu estou certa que mesmo *você* pode
adivinhar o que os dois estavam fazendo juntos..."
Rapidamente, as engrenagens do meu cérebro começaram a
trabalhar. Então, a resposta apareceu, me espantando pela
simplicidade. Eu rapidamente senti as minhas bochechas queimarem,
quando eu entendi as implicações e construí diversos cenários na minha
mente.
"Oh!"
Um silêncio impressionante se sucedeu. Se possível, o
vermelhão de Hikari aumentou.
"Ele... ele veio a minha casa noite passada... eu não estava
esperandopor  ele. Ele... ele não parecia bem... ele
parecia... preocupado. Quando eu perguntei, ele me disse que estava
tudo bem, mas eu não acreditei nele. Eu... eu abracei ele... eu queria
que ele sentisse que eu estava ali... para ele. E então... uma coisa
levou a outra...
Eu não estava mesmo certo se eu tinha ouvido aquilo. Mas
Hikari parecia necessitar falar mais sobre isso.  Eu apenas continuei
a ouvir.
"Nós... nós decidimos esperar... um pouco. Eu estava
assustada e não estava certa de que eu queria aquilo. Mas... era tão
gostoso... sentindo ele tão perto. E eu queria que ele se sentisse
melhor..."
Eu tentei esconder a minha surpresa. Eu estava certo que os
dois tinham feito aquilo lá no lago...
"E você...?" perguntou Asuka.
Hikari assentiu. O interesse de Rei e Asuka na historia de
Hikari pareceu aumentar.
"Quando... quando eu acordei... ele tinha ido... sem uma
palavra. Isso... não é coisa dele fazer alguma coisa
assim. Então... então eu tentei encontrá-lo... mas eu não
consegui... eu estou... estou tão preocupada! E se... e se ele... se
ele nunca gostou de mim? E se ele apenas me queria para...? E agora
que nós..."
"Sem chance!" eu disse firmemente. "Touji não é assim e você
sabe disso."
"É. Você mesmo me disse que era o lado gentil dele que você
amava," concordou Asuka.
Hikari concordou e limpou algumas lagrimas. Rei colocou uma
mão no ombro dela e lhe deu um pequeno sorriso.
"Não se preocupe. Eu estou certo de que tudo está bem. Talvez
ele tivesse alguma coisa importante para fazer e esqueceu de te
contar!."
"Você... você acha?"
"Ele tem vontade forte. Nada vai dar errado."
Asuka e eu olhamos para Rei curiosamente. Alguma coisa estava
estranha aqui. Rei tinha falado como se... se ela soubesse de alguma
coisa. Mas se ela sabia, porque ela dizia isso? Eu dei a ela um olhar
inquisidor. Ela apenas sorriu, então voltou para a sua mesa. Logo ela
voltou a olhar através da janela.
"Rei..." eu sussurrei.
Um incômodo pensamento egoisticamente colocou os problemas de
Hikari para fora da minha mente. Poderia Rei realmente... esconder
algo de mim?
Logo, nossos colegas voltaram. Eu notei que Kensuke estava
entre eles. Ele parecia realmente deprimido. Isso me preocupou, mas
antes que eu pudesse perguntar o que estava acontecendo, nosso sensei
chegou e aula começou. Como Hotaru tinha dito, as aulas deste sensei
não eram centradas no Segundo Impacto, então eu me vi ocupado tentando
acompanhar a aula e então eu não consegui encontrar tempo para falar
com Kensuke através do nosso sistema de mail interno. Eu esperava
poder falar com ele na hora do almoço. Eu olhei para a mesa de
Touji. Vazia. Eram as preocupações de Hikari genuínas? Eu tentei não
pensar sobre isso e prestar atenção no Sensei. Eu não tinha meus
próprios problemas para cuidar? Porque eu teria de me preocupar com os
problemas de meus amigos? Eu soltei um som descontente. Porque a vida
era tão complicada?

                                * * *

Vendo que Rei e Asuka estavam tomando conta de Hikari durante
o horário do almoço, eu decidi me juntar a Kensuke. Ele tinha se
isolado, parecendo tão deprimido quanto quando entrou na sala. Não
realmente sabendo como me aproximar dele, eu optei por fazer uma
pergunta direta.
"Qual o problema Kensuke?"
O rapaz mal levantou a sua cabeça para notar a minha
presença.
"Não é justo! Porque, Shinji? Porque eles não me escolheram
como piloto do Evangelion Unidade-03".
"Uh?"
Eu olhei, confuso.
"Evangelion... Unidade-03? Não existe Unidade-03..."
Isso trouxe Kensuke de volta a vida.
"O que você quer dizer, não existe Unidade-03? Ela chegou dos
Estados Unidos ontem! Eles estarão fazendo os testes de ativação na
segunda Instalação Experimental em Matsushiro hoje! Não me diz que
você não sabia!"
Uma quarta unidade EVA... bem, isso explicava porque Kensuke
estava tão para baixo.
"Não... eu não sabia... eu não tenho falado muito com os
outros ultimamente. Hey? Matsushiro você disse? Então é por isso que
Misato tinha que ir para lá!"
Um teste de ativação. Talvez seja por isso que Misato tinha me
evitado o outro dia. Talvez ela tivesse medo de que eu me
preocupasse. Afinal de contas, o primeiro teste de ativação da
Unidade-00 resultou em Rei sendo machucada. Ainda assim...
"Eu tenho tanta inveja," disse Kensuke. "eu imagino quem vai
pilotá-lo? Touji, talvez? Ele estava ausente hoje..."
Eu olhei com descrédito o comentário de Kensuke.
"Touji? Sem chance! Ninguém ia dar para ele um EVA!"
Touji? Pilotando um EVA? Sem chance! Eu sabia que mesmo que
ele tivesse me perdoado, ele ainda odiava os EVAs por machucar sua
irmã. Ele nunca pilotaria um. E diferente de Kensuke, ele parece ter
entendido que pilotar um EVA apenas trazia dor...
"Ele provavelmente já tem um piloto, como a Unidade-02," eu
disse, embora eu não soubesse com certeza disso. "Provavelmente algum
cara Americano..."
Kensuke voltou a seu estado depressivo. Droga!
"Faz sentido..."
Eu tentei alegrá-lo um pouco...
"Eu estou certo de que o cara não é tão bom quanto você teria sido."
"Você acha?"
"Eu estou certo." Eu menti.
Evangelion Unidade-03. Porque ninguém me contou nada?

                                * * *

Quando nós voltamos do almoço, eu notei que Rei estava
claramente agitada. Em vez de olhar para a janela, ela apenas ficava
olhando para o relógio da classe, a cada 5 minutos. Asuka pareceu
notar o comportamento estranho de Rei também, porque deu a ela um
estranho olhar. Rei ou não viu, ou simplesmente ignorou ela.
De repente, nossa aula foi interrompida pelo toque de três
celulares. Todos congelaram quando olharam para nós, os pilotos de
EVA. Asuka parecia excitada, quando pegou seu
telefone. Surpreendentemente, Rei parecia desconfortável. Ela apenas
olhou para o relógio por alguns segundos antes de finalmente atender
seu telefone, sua mão tremendo. Eu fiz a mesma coisa, mas eu não
precisei realmente fazer isso para saber o que estava acontecendo. Uma
alta sirene logo confirmou isso. Um Anjo...

                                * * *

Nós rapidamente fomos pegos na escola e levados a NERV, e
então aos nossos armários. Enquanto andávamos no elevador que ia nos
levar ao EVA, eu podia ouvir Asuka murmurando alguma coisa como "Desta
vez eu vou matar ele..." como se isso fosse um mantra, antes de correr
para a Unidade-02. Diferente de Asuka, Rei saiu do elevador
calmamente, um ar de calma em seus modos. Eu congelei quando tentei
dar um passo adiante. Por alguma razão, eu não pude deixar de ter este
forte sentimento de medo. Alguma coisa ruim ia acontecer. Eu podia
sentir isso. Talvez eu estivesse apenas assustado, com os eventos da
nossa última batalha vindo à minha mente, mesmo assim... o sentimento
estava ali.
Rei caminhou em minha direção e colocou a sua mão enluvada em
meu ombro. Eu olhei para ela e vi um olhar preocupado em sua face.
"Não pude deixar de pensar que..."
"Não se preocupe," disse a garota, me interrompendo. "Sohryu e
eu vamos tomar conta disso."
Eu podia ver agora determinação na sua face.
"Mas se..."
"Então não hesite. O que quer que aconteça, enfrente nosso
inimigo. Você deve. Por favor... tome cuidado..."
Seus lábios se encostaram nos meus. Então, ela se foi.
'O que quer que aconteça, enfrente nosso inimigo.'
    Estas palavras... isso soava como se ela já soubesse contra o que nos íamos lutar. Rei... porque esses segredos?

                                * * *

"Um acidente em Matsushiro?" Eu engasguei. "Mas... Misato esta
lá! O que...?"
"O Contato ainda não foi restaurado", Rei disse simplesmente.
Meu deus! Então nos não sabemos... Não, eu não queria pensar
nisso. Misato com certeza estava bem.
"Então... o que... o que devemos fazer?"
A imagem de Asuka desapareceu. Naturalmente, ela parecia preocupada.
"Você esta reclamando do que? Não temos tempo para nos preocupar!"
"Mas nos temos de enfrentar o Anjo por nossa própria conta..."
Nós sempre nos baseamos nas ordens de Misato. Sem ela para nos
guiar, eu me sentia... perdido. Como se tivessem me pedido para
enfrentar aquele Anjo com uma venda.
"O Comandante Ikari vai ter o comando direto por enquanto."
"O comandante vai...?".
Meu pai ia nos liderar. A sensação ruim que eu tinha tido
antes voltou mais forte que antes.

                                * * *

Dentro do entry plug, eu esperei por nossas ordens, agora que
todos nos tínhamos tomado posição. Curiosamente, eu fui designado como
ultimo EVA a interceptar o Anjo, então isso significava que ele teria
de passar pela Unidade-02 e Unidade-00 para me alcançar. Isso era
estranho. Esta era a primeira vez que eu era colocado como apoio.
Pelo comunicador, eu ouvia a voz de Shigeru e Makoto.
"O alvo está se aproximando."
"Todas as unidades, aguardem o combate terrestre."
Eu engasguei quando eu vi o chamado alvo na tela. Não havia
maneira de confundir a forma. Era um EVA...
"O que? Sem chance... um Anjo? Você diz que isso é um Anjo?"
"Correto. É o alvo." Eu fechei as mãos quando ouvi a voz de meu pai.
"O alvo? mas... é um EVA, não é?"
Poderia ser... o Evangelion Unidade-03 que Kensuke tinha
falado? Isso explicaria o acidente em Matsushiro...
"Gott im Himmel! (*) Eu não posso acreditar! Ele foi tomado
por um Anjo?"
Asuka soava um pouco preocupada. Eu não podia culpá-la, eu
sentia o mesmo. Então, subitamente, um pensamento perturbador me
ocorreu.
"Isso é pilotado por um garoto, como as outras unidades?
Alguém da minha idade?"
Essa era uma questão perturbadora. Se havia alguém dentro, o
que devíamos fazer?
"O quê?!" exclamou Asuka "você acha que é pilotada por alguém?
Mas que..."
Eu ouvi o seu grito um pouco antes das comunicações com o seu
EVA cessarem.
"Asuka? Asuka!"
Eu estava realmente preocupado
"Eva Unidade-02 foi completamente silenciado," anunciou Makoto.
"Piloto foi ejetado. Pessoal de salvamento a caminho."
Graças a deus! Ela estava bem!
"O alvo está se movendo em direção a Unidade-00."
Unidade-00... Rei...
Desta vez, foi a voz do meu pai que eu ouvi no comunicador.
"Rei, evite combate corpo a corpo, e pare o alvo."
"Hai." (*)
Uns poucos segundos silenciosos se passaram. Nada. Então eu
ouvi meu pai novamente.
"Rei. Dispare no alvo."
"Eu... eu não posso."
Mas que...? Rei estava realmente desobedecendo a uma ordem de meu pai?
"Rei!"
Através do comunicador, eu ouvi Rei gritar. Eu me sentia
ansioso. Não Rei também! Silenciosamente, eu esperava que ela
estivesse bem.
'Não se preocupe. Sohryu e eu vamos tomar conta disso.'
Ela tinha parecido bastante confiante. Ela provavelmente estaria ok.
Mas Asuka tinha sido tão facilmente derrotada...
Depois de um tempo, eu ouvi a voz de Maya.
"Danos médios a Unidade-00, e o piloto foi ferido."
"Rei!"
Meu coração disparou. Rei estava machucada! Eu cerrei meus
dentes. Aquele maldito anjo! Ele iria pagar!
Mas... o inimigo também era um EVA. Minha raiva morreu tão
rápido como tinha aparecido.
"O alvo esta se aproximando," disse o Comandante. "Contato em
20 segundos. Tome conta dele."
"Você diz que é o alvo, mas não há uma pessoa dentro?" eu
perguntei, embora eu não tivesse certo se estava perguntando ao
comandante ou a mim mesmo. "Um garoto da minha idade?"
Eu encarei o EVA negro conforme ele chegava cada vez mais
perto. Meu dedo estava pronto para puxar o gatilho das armas, mas
minhas mãos continuavam a tremer. Eu não podia fazer isso. Eu não
podia atacá-lo se não estivesse certo se tinha ou não alguém dentro
dele...
De repente, ele pulou em mim. A velocidade do ataque me pegou
de depressa. Antes que eu soubesse, meu EVA estava caído no
chão. Quando meu EVA se levantou, eu tive uma boa vista das costas do
outro EVA. Ali, eu vi: um entry plug branco, aparentemente preso com
uma estranha substancia azul.
"Um entry plug! Tem alguém dentro dele!"
O EVA negro estava ainda de quatro no chão quando de repente,
quando seus braços se estenderam a uma distância incrível e pegaram o
pescoço da Unidade-01, levantou-a do chão, e então a atirou sobre um
morro. Então, a Unidade-03 apertou.
Era um sentimento estranho. Eu sentia um dor quase
insuportável. Eu tinha problemas em respirar. Mas mesmo assim, eu de
alguma forma me mantive calmo, apenas encarando o EVA negro.
"Shinji, porque você não luta?" Perguntou o comandante.
"Tem uma pessoa dentro, eu pensei."
"Não importa. É um anjo. Nosso inimigo."
"Mas eu não posso fazer isso. Eu tenho de salvar o piloto! Eu
não posso matar um ser humano!"
Como ele esperava que eu matasse alguém? Que tipo de monstro ele era?
"Você vai morrer."
"Eu não me importo! É melhor do que matar alguém!"
Repentinamente, tudo ficou negro. A dor e a pressão contra a
minha garganta pararam. Isso podia apenas significar uma coisa: eles
tinham cortado a minha sincronização com o EVA.
Eu pensei... o que acontece a seguir?
Eu me espantei quando a luz vermelha inundou o interior do
entry plug. Um estranho som soou no ambiente, parecido como o de uma
turbina sendo ligada. Minha cabeça se virou ao som de um terminal de
computador sendo ligado. Mas eu não podia ver nada.
"Mas que diabos você está fazendo, Pai?!"
Eu sabia que eu tinha jurado não chamá-lo assim de novo, mas
em situações como essa, você geralmente esquece este tipo de coisa.
Então, para a minha surpresa, eu senti o EVA se mover
lentamente. Lentamente, eu vi ele levantar os seus braços, então
agarrar o pescoço da Unidade-03, da mesma forma que ela estava
segurando o da Unidade-01. Então ele começou a apertar. Rapidamente,
se tornou óbvio que a Unidade-03 estava subitamente perdendo a batalha
contra a Unidade-01. Então, repentinamente, em um som doentio, o
pescoço da Unidade-03 estalou. Eu olhei, aterrorizado, enquanto eu
olhava a sua cabeça pender para frente e seus braços se desprenderem
do pescoço da Unidade-01 para cair ao lado do seu corpo, como uma
marionete quebrada e sem vida.
Um simples pensamento veio à minha mente. O piloto! Se eu
tinha sentido a dor enquanto a Unidade-03 estava apertando o pescoço
da Unidade-01, o que tinha acabado de acontecer, ao piloto... poderia
ele... meu deus! Não!
Mas este foi apenas o início do horror. Por alguns segundos, o
aperto da Unidade-01 aumentou ainda mais, no pescoço da outra unidade,
então ela se virou e atirou a Unidade-03 no chão, com
forca. Furiosamente, ele bateu com os seus punhos na cabeça do EVA
negro. Isso literalmente o explodiu em uma chuva de fragmentos
vermelhos, metal e ossos. Dentes voaram em uma direção, um olho em
outra. Paralisado, eu apenas... assistia. Eu não sabia como eu
conseguia não ficar enjoado com aquela visão. Um simples pensamento
ficava repetindo dentro da minha cabeça em um ciclo interminável: "o
piloto! Eles estão matando o piloto!"
Eu apenas reagi quando a Unidade-01 começou a desmembra-lo
completamente. Os jorros de sangue pareciam sem fim. Braços eram
brutalmente arrancados e jogados longe. Os punhos da Unidade-01 batiam
sem descanso o peito do outro EVA depois da sua armadura ter sido
violentamente arrancada, destruindo cada órgão, cobrindo tudo com
sangue. Com toda a minha vontade, eu puxei os controles, tentando
parar o EVA, mas sem resultado.
"Pare! Pai, não! Por favor, pare de fazer isso!"
Sem resposta. o EVA apenas continuava batendo, batendo e
batendo... como uma besta faminta por sangue e destruição.
"Droga! Pare! Pare! Pare! Pare! Pare! Pare!..."
Eu agora chorava. Indefeso e chorando.
Repentinamente, eu parei de ouvir os murros da Unidade-01. Com
uma ponta de esperança, eu levantei a minha vabeça. Mas logo a
esperanca virou desespero. Em suas mãos, a Unidade-01 segurava o entry
plug do outro EVA. O cilindro branco estralava sob a pressão dos
dedos do EVA.
"Aaah! Pare com isso! Faca parar! Nãããoooo!"
A gigantesca mão se fechou. LCL vazou pelou destroçado plug.
Eu gritei de horror. Se alguma esperança tinha sobrevivido,
ela agora tinha se ido completamente. O piloto estava
morto. Eu... eu... eu tinha matado um ser humano... eu era um
assassino. Estas mãos. As mãos do meu EVA. Minhas mãos. Minha falha em
parar a besta...
Novamente, eu chorei.

                                * * *

"Shinji..."
A voz de Misato. Isso me tirou do meu torpor. Eu ainda estava
chorando, mas meu cérebro se recusava a pensar. Eu não podia... se eu
fizesse... meu deus! O que eu tinha feito?!
"Misato-san... você está bem..."
Parte de mim se sentiu aliviada. Apenas uma pequena parte. A
outra parte estava ainda obcecada com o que tinha acabado de
acontecer.
"Eu... eu sinto muito. eu... eu tinha der te contar uma coisa
importante, mas..."
Ela parecia fraca. E ela realmente parecia sentir muito. Mas
eu mal notava.
"Misato-san, eu... uma pessoa... eu matei... meu pai... eu
implorei a ele que não..."
"Shinji, eu sinto muito. Eu sinto muito..."
Pelo comunicador, ou ouvia a voz de Maya.
"Informações do pessoal de salvamento do entry
plug. Confirmada a sobrevivência do piloto!"
Estas palavras me acertaram com forca. Vivo! Eu levantei a
minha cabeça, cheio de esperança. Vivo! Então eu não tinha matado o piloto!
"Ele está vivo?!"
Pelo comunicador, Misato continuou a dizer o que ela estava
lutando para falar.
"O piloto da Unidade-03 é... a 4a. Criança é...".
Eu olhei para baixo, para a forma retorcida do entry
plug. Realmente, alguma coisa pareceu ser removida dele. Eu dei um
zoom na imagem. Meu coração parou...
Um garoto... um garoto em um plugsuit negro... um garoto que
eu conhecia bem...
"Touji?"
Eu acho que Misato começou a chamar meu nome mais uma vez. Eu
não estou certo.
Eu olhei para o garoto. Ele parecia machucado. E o interior do
entry plug. Estava vermelho. Não amarelo como LCL, mas
vermelho. Vermelho como sangue.
Touji... Touji!
Eu gritei. Então a minha mente ficou em branco.

                                * * *

Porque? Porque Touji? Porque ele tinha de ser machucado. Esta
era uma questão que eu continuava a perguntar a mim mesmo. Eu tentei
perguntar ao meu pai também, mas me negaram uma resposta. Mesmo quando
eu ameacei destruir o QG, a única resposta que ele me deu foi me
nocautear aumentando a pressão dentro do entry plug. Eu acordei na
enfermaria, então fui escoltado a uma cela. Eu fiquei ali um pouco,
ate que me escoltaram ao escritório do meu pai. Não, o escritório do
comandante, eu mentalmente corrigi. Meu pai morreu há muito tempo
atrás...
Eu lamentei o fato das minhas mãos estarem presas as minhas
costas por algemas. Quando eu olhei para ele, eu teria adorado colocar
as minhas mãos em volta do pescoço dele, como ele forçou as mãos do
meu EVA estrangularem o de Touji. Não me importaria muito. Eu tinha
chegado perto de matar Touji. Quem sabe, talvez ele tenha morrido no
hospital. Então, porque outro assassinato importaria? Mas não seria
realmente um assassinato. Ele era afinal de contas mais monstro que um
ser humano.
O comandante falou.
"Desobedecendo ordens. Ocupação pessoal de um
EVA. Intimidação. Todos estes são atos criminosos. Tem algo que você
queira dizer?"
Oh, tinha muito coisa que eu queria dizer. Muita
coisa. Incontáveis insultos vieram a minha mente, alguns em alemão,
graças à influencia de Asuka. Mas eu fiquei quieto. Ia ser um
desperdício. O homem não se importava. Ele não se importava com nada.
"Eu nunca mais vou pilotar um EVA."
"Muito bem então. Saia."
Eu concordei. Então, contra meus melhores julgamentos, eu fiz
a pergunta que rondava a minha mente deste que eu vi o entry plug
destruído.
"Porquê ele?"
O comandante me surpreendeu me respondendo.
"Porque era conveniente."
O filho da puta! Se um olhar matasse, eu já o teria matado
umas mil vezes. Sem esperar pelas indicações dos agentes de segurança,
eu me virei e sai.
"Você está fugindo novamente. Você me desaponta. Eu presumo
que nao nos encontraremos novamente."
"Pela sua segurança, melhor não", eu disse, o meu tom sério me
surpreendendo.
Ikari Gendo... como eu tinha desejado te ver morto.

                                * * *

Deitado na minha cama no apartamento de Misato, eu encarava o
teto. E agora? O que eu podia fazer? Que iria acontecer? Se eu não
pilotasse o EVA, então o meu propósito aqui tinha chegado a um fim. Eu
não trabalhava mais para a NERV eu não estava certo se me seria
permitido viver aqui ou no apartamento de Rei. Eu nem estava certo se
que eu queria ficar aqui. Este lugar me lembrava demais da NERV... dos
EVAs... Touji...
Touji... Misato disse que ele tinha sido salvo e até mesmo
tinha recuperado a consciência. Mas ele tinha sido ferido
seriamente. Seu braço e a sua perna esquerda... (3) muito
machucados... eles tiveram de... não! Droga! Droga! Não!
Silenciosamente, eu senti as lágrimas silenciosamente encharcarem as
minhas bochechas novamente. Não era justo! Não era justo! Touji não
merecia isso.
Eu teria preferido desligar a minha mente. Mas eu não
podia. Em vez disso, ela continuava a girar com imagens e memórias.
Eu vi Touji, gritando comigo por eu ter ferido a sua irmã.
O punho da Unidade-01 descendo, o crânio negro quebrando com a
força.
Lá estava Touji, mandando que eu acertasse ele.
O spray de sangue de uma perna arrancada pintou um prédio com
um horrendo arco.
Touji, me enchendo por eu olhar para Rei no seu traje de
banho.
Unidade-03, o espasmo final antes do seu pescoço quebrar.
O sangue correndo as suas faces quando Hikari timidamente lhe
presenteava com chocolates pelo dia dos namorados.
O sangue correndo livre do pescoço da Unidade-03, tentando
alimentar a cabeça decapitada.
Meu melhor amigo babando na Misato quando ela se abaixou para
pegar um arquivo no chão.
Partes internas, como intestinos, atiradas despreocupadamente
sobre um sinal de trânsito. Deles um líquido pingava na rua, deixando
o chão vermelho.
Touji, me dando um sorriso amigável.
Ossos quebrados, pedaços de metal, carne vermelha rasgada; os restos da Unidade-03.
Meus pensamentos foram interrompidos por uma batida na
porta. Eu ignorei. Eu não queria ver ninguém. Quase silenciosamente, a
porta se abriu.
No canto do meu olho, estava ela. Rei...
"Shinji."
Sua voz parecia neutra, mas eu sabia que ela estava
desconfortável. Bom. Ela tinha razões para estar.
"Porque?" eu perguntei. "Você sabia, não sabia? Porque não me
contou?"
"Isso não teria mudado nada. Você fez tudo o que podia para
protegê-lo. Saber quem era o piloto não ia mudar em nada o que se
seguiu."
Eu prontamente me sentei e dei a ela um olhar severo.
"Isso não é o que eu quero dizer! Você sabia antes, não sabia?
Você sabia quando Hikari chegou aquela manhã, procurando por ele, não
sabia?"
"Sim."
"Desde quando?"
"Segunda. Desde que foi escolhido o quarto."
Eu senti minha raiva crescer. Minhas mãos se fecharam em punhos.
"Porque?! Porque você não me contou, droga?!"
"Isso o teria preocupado. Eu... eu não queria adicionar isso a sua dor."
Eu pulei e sem pensar, agarrei os ombros dela e com toda a
força que eu tinha e a atirei com forca contra a parede. Mesmo que ela
não tenha reagido, as lágrimas dos seus olhos atestavam que ela tinha
se machucado. Mas eu não me importava. Eu não tinha me dado conta do
que eu tinha feito.
"Droga, Rei! Você devia ter me contado! Eu... eu poderia tê-lo
convencido a não pilotar! Touji... Touji sabia... ela sabia quanta
dor o EVA pode trazer... ele teria entendido... sua... sua hipócrita!
Você não é melhor que Asuka! Enquanto você dizia que não iria me
machucar, você manteve todos estes segredos de mim. Você não é melhor
que ela!"
"Eu... eu sinto muito..." disse Rei, lágrimas em seus olhos,
ainda um pouco tonta do impacto contra a parede.
"Isso não muda nada!" eu gritei. Rei pareceu se encolher de
medo.
"Mesmo que eu quisesse..." Rei tentou explicar,
"o comandante... o comandante Ikari... ele me ordenou... a não contar a
você..."
Pai! A menção do seu nome apenas aumentou a minha raiva...
"Eu não ligo a mínima para as ordens daquele bastardo! Ele não
é deus! Por mim ele pode ir pro inferno! É assim que vai ser sempre?
Você vai escolher ele em vez de mim?"
Confusão em dor apareceram no rosto da garota, enquanto ela
tentava se explicar.
"Eu... eu..."
"Você se importa mais com ele do que comigo? Apenas diga, você
não me ama realmente, me ama?"
"Não!"
Isso saiu como um grito estrangulado. Lágrimas enchiam a sua
pele branca de cetim. Eu não me importava.
"Então porque... porque você não me disse? PORQUE?"
"Ele não teria... mudado de idéia. Sua irmã... a NERV prometeu
tomar conta dela..."
Sua irmã... ele fez isso pela sua irmã...
Eu repentinamente me senti fraco. Eu teria caído se Rei não
tivesse me pegado. Ela me arrastou de volta a cama.
Minha culpa. Era tudo minha culpa.
"É minha culpa... eu falhei em assumir o controle do
EVA... pai... minhas mãos... ele me usou para machucar Touji. E
agora... você me diz que ele pilotava por causa de sua irmã?
Isso... isso é tudo culpa minha! Se eu não tivesse machucado a sua
irmã em primeiro lugar, nada disso teria acontecido! Touji não teria
pilotado! E TUDO MINHA CULPA!"
Rei me tomou em seus braços. Mas pela primeira vez, o seu
toque não trouxe nenhum conforto.
"Não é sua culpa. A irmã de Suzuhara se machucou porque ela
não foi a um abrigo e porque o seu EVA ficou berserk. Você não tinha
poder para isso. Nem tinha poder de impedir a Unidade-01 de destruir o
décimo terceiro Anjo. Não é sua culpa..."
Eu fiquei em pé, me livrando do abraço de Rei.
"Você não entende, não é? É minha culpa! Se eu tivesse agido
de forma diferente... se eu tivesse a vontade de lutar contra o décimo
terceiro Anjo em vez de congelar de medo... se eu tivesse tentado
parar a Unidade-03, talvez puxar para fora o seu entry plug..."
Rei balançou a cabeça.
"Você não poderia. A Unidade-03 agiu muito rápido. Você teria
de lutar... e isso teria dado no mesmo."
"Você não sabe disso!"
Rei abaixou a sua cabeça por um momento, então a levantou
novamente. Eu podia ver medo em seus olhos. Ela estava tremendo. Ela
tentou falar, e quase falhou, mas deu um jeito de dizer algumas
palavras.
"Se... se você precisa de alguém para culpar... culpe a
mim..."
Eu dei a ela um olhar confuso, não entendendo o que ela queria
dizer.
"O que isso significa?"
Ela apenas abaixou a cabeça, incapaz de me encarar.
"Responda!" eu gritei e agarrei os ombros dela novamente, sacudindo-a.
"Os dados... os dados do sistema que tomou o controle... o
dummy plug system... eles... eles vieram de mim... em
essência... era... era eu... que lutava contra a Unidade-03..."
"Você?"
Esse frenesi de matança... esta fome por sangue e
destruição... Rei? Tal idéia... eu não podia agüentar esta
idéia. Incapaz de olhar para ela, eu saí da sala. Eu estava a ponto de
sair do apartamento, fugir de Rei, quando eu quase bati em Hikari
quando eu abri a porta. Eu olhei para ela sem acreditar.
"Ikari-kun!"
Então, ela explodiu em lágrimas.
"Ikari! Eles... eles não me dizem nada! Eu soube pelo seu pai
que Touji se feriu no último ataque do anjo, mas ninguém sabe mais do
que isso! Ele não está nem ao menos no hospital! Eu... eu estou tão
preocupada..."
Eu congelei quando eu ouvi estas palavras. Eu olhei para
ela. O medo e dor em seus olhos... as lágrimas... então, antes que eu
soubesse o que estava acontecendo, ela estava em meus braços, chorando
no meu ombro. Isso me levou ao extremo. Eu não pensava em nada, eu
apenas reagi. Eu a empurrei, como se ela fosse uma espécie de
mostro. Então eu corri. Eu fugi.
Eu não podia encará-la. Não ela. Sabendo que eu tinha
machucado Touji. Que eu tinha tentado matá-lo. Que por minha causa,
ela não iria mais caminhar como uma pessoa normal. Eu quase tinha
matado... o homem que ela amava.
Eu corri, sem saber onde eu estava indo.

                                * * *

Eu estava em um pequeno morro, fora de Tokyo-3, olhando para a
cidade. Esta cidade amaldiçoada. Por causa dela, meu amigo tinha se
machucado. Eu não queria ter nada a ver com isso. Mas... eu não queria
ir também. Eu... eu não tinha nenhum lugar para ir. E ir, significaria
nunca mais ver Rei ou Asuka novamente.
Rei... eu realmente queria ver ela novamente.
'Se... se você precisa culpar alguém... culpe a mim...'
Eu... eu apenas não podia. Por mais que eu tentasse, eu não
podia. Isso... era minha responsabilidade encarar.
"Você está sofrendo, não está?"
Assustado, eu me virei para ver uma garota da minha idade,
esboçando um sorriso amistoso. Ela vestia um vestido branco e seu
cabelo branco acinzentado até os ombros voava com o vento. Uma coisa
que me surpreendeu era o quanto era pálida a sua pele, e a cor dos
seus olhos: vermelho escuro. Podia esta garota ser parente de Rei? Eu
nunca a tinha visto antes. Eu tirei a idéia da minha cabeça. Pelo
que eu sabia, Rei não tinha família. Era provavelmente apenas uma
coincidência, apenas alguém passando. Eu não me sentia a fim de falar
com ninguém, então eu apenas tentei ignorar ela.
"Deve ser difícil para você saber que não havia nada que você
pudesse fazer para salvar o seu amigo. O coração humano é frágil neste
sentido."
Eu engasguei e me virei para ver a garota.
"Como... como você sabe?"
"Eu apenas sei."
A garota estava saindo quando ela falou de novo.
"Pilotar um EVA apenas te trás dor. O Quarto foi apenas o
primeiro a ser ferido. A Primeira ou a Segunda podem ser as
próximas. Você deve ir enquanto ainda há tempo. De outra forma, você
será destruído junto com aqueles que você ama. O que seria uma pena."
Quem era aquela garota? O que ela queria dizer? Ela queria
dizer que Rei e Asuka também podiam se machucar por minha causa? Isso
era possível? E se era, como ela podia saber disso?
"Quem é você?"
A garota apenas se afastou. Eu pensei que ela não ia responder
à minha pergunta quando eu ouvi a sua voz novamente. Mal, por causa da
distancia, mas mesmo assim, eu pude ouvi-la.
"Me chame Kaoru... Nagisa Kaoru." (4)



[continua...]



próximo episódio:

Aquela Que Eu Amo É...
Capitulo 7 - Despertar


Omake:


- Cena 1 -

Naturalmente, meu cérebro perdido em meus hormônios, então eu
levantei a minha cabeça. Como eu suspeitava, havia alguém no lago. Uma
garota de cabelos marrons. Hikari eu acho, já que ela era a única
garota de cabelos castanhos aqui. Já que ela não estava olhando para
mim, ela não tinha visto que eu estava olhando para as suas costas
nuas. Naturalmente, com a sorte que eu tinha nesta semana, ela se
virou antes de eu decidir fazer o mesmo e sair.
Eu olhei, extremamente chocado.
Por um momento, eu não sabia se eu devia me sentir surpreso,
ou enojado. E pensar que eu a achava bonita... meu cérebro decidiu
resolver este dilema de uma forma conveniente.
Eu desmaiei.
"Ela é um garoto..." eu murmurei antes de desmaiar.
Pobre Touji. Quando ele souber que estava caído por um
homem...


- Cena 2 -

Shinji tinha chorado até adormecer. Delicadamente, Rei
acariciou seu cabelo. Isso pareceu fazer maravilhas, já que a face do
rapaz relaxou. Rei não sabia exatamente o que havia acontecido, mas a
lógica sugeria que estava relacionada com o acampamento, e logo, com
Asuka. Ela sentiu um sentimento estranho, uma coisa que ela não estava
acostumada ainda. Raiva. Ela sentiu raiva da garota que podia machucar
o seu Shinji desta forma.
"Souryu."
Apenas sussurrando o seu nome dava a ela um gosto amargo na
boca.
Quando o garoto ressonou, ela olhou à sua volta. Ela teria de
arrumar o quarto. Não demoraria muito, mas ela estava relutante em
deixar o rapaz ir. Então, uma idéia ocorreu a ela. Uma chance. Ela
sorriu. Se ele estivesse acordado, Shinji poderia se espantar com este
sorriso safado.
Enquanto ela arrastava o rapaz para seu quarto, Ayanami estava
bem surpresa com o fato dele não acordar. Ele estava dormindo tão
profundamente... seu sorriso aumentou. O rapaz não reagiu quando ela o
levantou para a cama nem quando retirou a suas roupas. Ela parou no
último item. Suas mãos estavam tremendo. Ela não sabia se ela
deveria... mas a sua curiosidade era grande. Ela tirou. Seus olhos se
arregalaram. Uma pálida mão foi a sua boca, cobrindo a parte de baixo
da sua face. Por um longo momento houve silêncio no quarto. Então,
apesar de todo seu autocontrole, um pequeno sorriso saiu de dentre seus
dedos.
Uma risadinha.
Antes de ela saber o que a tinha acertado, ela estava rindo
alto, mordendo seus dedos para evitar que o riso tomasse conta
dela. Ela não podia parar. Ela sabia que era errado... mas ela tinha
de rir... ela tinha problema em compreender o porque. Por alguma
razão, havia um pouco de desapontamento nela, mas não era nem um pouco
poderoso como o riso.
Finalmente se acalmando, ela limpou a sua face das
lágrimas. Suspirando como se ela estivesse um pouco desapontada, ela
falou baixinho, "que ruim... tal pai tal filho."
Em algum lugar do QG da NERV, uma cientista de cabelos loiros
concordaria.


- Cena 3 -

O EVA negro ainda estava de quatro, quando de repente, seus
braços se estenderam a um comprimento incrivelmente grande e agarraram
a Unidade-01 pelo pescoço.
A Unidade-01 foi levantada do solo, então atirada em um
morro. Com uma fantástica velocidade, a Unidade-03 puxou a face da
Unidade-01 para perto e abriu a sua boca.
"Shinji!" o gigante mecânico negro gritou. "É verdade que você
viu a minha Hikari pelada?!"
Ouvindo isso, a Unidade-01, o orgulho da NERV e única
esperança da humanidade, começou a suar nervosamente.



Notas do autor:

(1) este é apenas um x-over, sem mistério. Alguns de vocês devem ter
reconhecido a Hotaru que eu rapidamente descrevi como Tomoe Hotaru, de
Sailormoon. Eu considerei usar a Mizuno Ami em vez, mas a Hotaru
"before Chibi-Usa" me pareceu mais apropriado.

(2) inspirada em uma cena de DNA2. Eu não pude deixar de incluir esta
frase aqui, considerando os recentes, e futuros relacionamentos de
Shinji com as mulheres de NGE (Caras! Parem de babar, não era isso que
eu queria dizer por "relacionamentos", hentai! - eu sabia que eu
não devia ter posto aquela cena de Lime na Parte 1... ^_^ ).

Não, na Parte 1, Touji e Hikari não foram até o fim, como Shinji
imaginou, embora tenham chegado perto. Eu gosto de pensar que levaria
mais do que uma noite para eles ficarem profundamente envolvidos. Além
disso, como Hikari mesmo disse, apesar de seu exterior rude, Touji é
legal, um cara carinhoso. Provavelmente o suficiente para não arriscar
ter Hikari grávida. Contudo, como indicado por Hikari, isso mudou
antes do teste de ativação da Unidade-03. Acho que Touji seguiu seu
próprio conselho: qual seja a decisão que você tomar, não espere
demais. Porque se você o fizer, alguma coisa pode acontecer e você
pode se arrepender.'

Sobre Shinji e Rei você pergunta? Isso é um segredo. Você vai
descobrir depois se eles foram até o fim ou não...

Unidade-03 e a quarta criança. Porque Shinji e Asuka parecem não saber
nada sobre isso. Bem, Shinji se isolou por alguns dias e Misato o
evitou, então ele nunca descobriu. E Asuka, na série, ela descobriu
sobre a quarta criança tentando conseguir a atenção de Kaji. Contudo,
sua mente está em Shinji agora. Então ela nunca foi ver Kaji, e assim
ela nunca descobriu sobre a quarta.

(3) eu sei que este ponto é um pouco controverso, mas não importa
quantas vezes eu veja aquela cena, eu apenas cheguei a uma conclusão:
aquele braço esquerdo não estava lá. Infelizmente, a menos que eles
tenham adicionado alguma coisa nas inúmeras edições de "Death/Rebirth"
e "End of Evangelion", nos não vemos Touji depois. Então eu decidi
seguir o que nós geralmente acreditamos. Apenas pra trazer mais drama
^_^

(4) Kaoru... Alguns de vocês deve estar um pouco desgostosos
comigo. Não há nada que eu possa fazer quanto a isso. Embora eu tenha
usado o Nagisa Kaworu que nós conhecemos, eu descobri que uma
garota Kaoru me dá mais possibilidades de eu mexer com nosso triângulo
amoroso ainda mais.

Apenas para estar certo de que todos entendem, isso é ainda Nagisa. As
origens, suas motivações e seus sentimentos são basicamente os mesmos,
embora eu tenha de improvisar um pouco: nós não vemos realmente muito
de Nagisa na série e isso faz uma análise mais completa do caráter do
personagem ainda mais difícil.

A idéia de um Nagisa mulher veio de visitar algumas páginas de
NGE. Numa dessas, eu descobri que Kaworu podia ser soletrada "Kaworu"
ou "Kaoru". Na minha mente, isso pareceu estranho (eu tinha sempre
soletrado "Kaworu"), já que para mim "Kaoru" se referia a Kamiya Kaoru
(eu sou um grande fã de Rurouni Kenshin). Então, aqui estou, olhando
para Kaoru no meu poster de RK, refletindo sobre a idéia de usar o nome
em homens e mulheres: porque não mudar aquele bishonen gray-haired
jerk (*Não vou traduzir, assim é mais divertido!) (minhas desculpas
aos fans de Kaworu - eu não queria dizer isso) em uma garota? O
potencial era grande, principalmente pela possibilidade de ter uma
relaçao (amorosa?) entre Shinji e Kaoru. E é original.

Inicialmente, eu planejava usar Mana de "Girlfriend of Steel" como
modelo gráfico. Depois de muitos dias refletindo sobre isso, eu
finalmente decidi que não. Embora usar Mana tivesse sido bem
conveniente, muita gente que conhece o personagem ficaria confusa ou
não realmente confortável com a mudança. Eu não sou cabeça dura assim,
então eu mantive Nagisa como garota, e modifiquei a sua aparência para
uma mais convencional.

Eu recebi comentários que Rei estava um pouco OOC (out of character). Eu
não estou muito surpreso. Contudo, mantenha o contexto em mente. Por
mais de um mês e meio, Rei tem aprendido a experimentar emoções, a
reconhecê-las e expressá-las. Então eu achei que seria natural agora
ela estar mais "viva" que inicialmente. Além disso, você também vai notar,
ela parece expressar estas emoções apenas a três pessoas: Ikari Shinji
(seu amo), Asuka Langley (sua rival - fonte de emoções como raiva,
inveja e ódio) e Tomoe Hotaru (sua amiga - para mostrar que Rei pode
ter algo mais na vida do que apenas Shinji; a solidão de Hotaru,
similar àquela que ela sente sem Shinji, foi o que a atraiu). Hotaru
age mais ou menos como a velha Rei com os outros. Ela não desenvolveu
uma ligação com Misato como Shinji e Asuka fizeram. Quando ela deu
"apoio" a Hikari, Ela o fez mais para acalmá-la, assim Shinji não se
preocuparia com o seu amigo. Ela ainda não interage muito com a
classe. De fato, Shinji é ainda basicamente o núcleo da sua
vida. Quando ela se expressa melhor, é principalmente por causa dele
(Hotaru sendo a exceção, o despertar da sua individualidade).

Alguns vão notar, que eu pus um "ajudado por" no inicio deste
capitulo. Darren graciosamente ofereceu a sua ajuda em comentários e
escrevendo algumas cenas para mim. Acha que você pode encontrá-las?
Apenas procure por uma gama mais vasta de vocabulário... Obrigado,
Darren! Muito obrigado!


---


Notas de tradução:

Inchou : você deve estar mais familiarizado com o uso de Touji de
Representante de classe. Eu não estou certo de como se traduz isso,
mas foi o que a ADV usou.

Dummkopf : Simplório, bobo

Gott im Himmel! : deus do céu!

Hai : Sim



Alain Gravel
rakna@globetrotter.qc.ca
18 Julho 1999

Iniciado em 15 de abril 1999
Primeira copia do pré-reader, Parte 1, revisada 28 de maio 1999
Primeira copia do pré-reader, Parte 2, revisada 13 de junho 1999
Primeira copia do pré-reader, Parte 3, finalizada em 26 de junho 1999
Segunda copia do pré-reader finalizada 9 de julho 1999
Versão final finalizada em 18 de julho 1999
Revisão final 10 de março de 2000

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